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Davos: Dilma reconhece demandas sociais, mas não vê que Copa será dos ricos

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Em sua primeira participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, nesta sexta-feira (24), a presidente Dilma Rousseff destacou os avanços obtidos pelo Brasil nos últimos anos, mas falou também sobre as demandas sociais que ainda persistem, que se manifestam nos protestos que dominaram o país em junho do ano passado e que agora voltam aos poucos a ganhar corpo.

"Criamos um imenso contingente de cidadãos com melhores condições de vida, cidadãos com novas demandas. Parte destes estiveram nas manifestações de junho, e essas manifestações são parte indissociável da construção da democracia e da mudança social. Meu governo não reprimiu. Ouviu e entendeu a voz das ruas. Os manifestantes não pediram para que o Brasil voltasse atrás. Pediram avanço para o futuro, futuro de mais direitos e conquistas. Sabemos que a democracia gera desejo de mais democracia, desperta vontade de mais qualidade de vida. Para nós, todos os avanços que conquistamos são sempre só um começo. É necessário transformar essa energia do povo brasileiro em realizações para todos", afirmou.

Os últimos protestos registrados no país comprovam que a população quer mais, que mudanças na esfera social aconteceram, mas ainda são necessários investimentos mais profundos neste setor. Na noite desta quinta-feira, moradores da Zona Oeste do Rio incendiaram ônibus em protesto contra a recorrente falta de luz. Em Porto Alegre, outro protesto mobilizou centenas contra o possível aumento nas tarifas do transporte. Em São Paulo, novo conflito, desta vez envolvendo usuários de crack que estão sendo acolhidos pela prefeitura em trabalhos sociais e a polícia civil do governo do Estado.

Estes são os exemplos mais recentes de que a população realmente quer mais. Quer investimentos sociais, de infraestrutura e de serviços básicos. São sinais também de que os protestos vão continuar em 2014, e que o governo terá realmente que arregaçar as mangas para acalmar os ânimos da população. 

Se Dilma se mostrou atenta às questões sociais do país, deu literalmente uma bola fora ao falar da Copa do Mundo e enaltecer que o futebol é a paixão nacional.  

"Convido a todos para a Copa do Mundo no Brasil. Vamos realizar a Copa das Copas. Brasil é o país do futebol. Amamos o futebol. Temos no futebol uma das formas mais importantes de reafirmação da paz e da luta contra os preconceitos. Estamos preparados para esta Copa", afirmou.

Ora, se o Brasil é de fato o país do futebol, os preços para os ingressos da Copa deveriam estar acessíveis à camada da população que realmente sustenta o esporte no país. Brasil é o país do futebol dos campos de várzea, jogado com bola de meia. Mas o que teremos aqui é uma Copa para ricos, uma competição para a elite, que deixará o povo longe dos estádios, limitado a assistir aos jogos pela televisão. O Brasil apaixonado pelo futebol que Dilma defendeu em Davos não será o Brasil que veremos um junho nos estádios.

Crise mundial, emergentes e investimentos

Dilma iniciou seu discurso lembrando da crise econômica mundial e da necessidade de se tomar medidas de longo prazo. "Muitas avaliações acabam privilegiando ações de curto prazo, mas é imprescindível resgatar o horizonte de médio e longo prazo para dar suporte ao crescimento das economias. Nessa perspectiva, as economias emergentes continuarão a desempenhar papel estratégico. Somos países com maior oportunidade de investimento e consumo. Demandamos infraestrutura logística diversificada, somos sociedades em processo de forte mobilidade social, com novos mercados. Mercados integrados por centenas de milhões ou bilhões de consumidores. Aqui estão as grandes oportunidades", reforçou, destacando que as economias desenvolvidas foram as mais afetadas pela crise. 

"O Brasil vem experimentando profunda transformação social nos últimos anos. Estamos nos tornando uma nação dominantemente de classe média. Trinta e seis milhões saíram da extrema pobreza, quarenta e três milhões foram para a classe média. Nos últimos três anos geramos 4,5 milhões de empregos. Criamos um grande mercado interno de consumidores", enumerou Dilma, destacando contudo que a população que adquiriu maior poder aquisitivo demanda mais produtos.

"Apenas 47% dos domicílios têm computador. Só 55% têm máquina de lavar roupa. Estes dados evidenciam o tamanho da demanda a ser atendida e as oportunidades de negócios. Este novo Brasil, menos desigual, está sendo construindo sem abdicar dos fundamentos macroeconômicos."

Dilma destacou também o equilíbrio das contas públicas, "requisitos essenciais para a estabilidade e para expansão econômica", e assegurou que a inflação está sob controle. "Seguimos o regime de metas e nos últimos anos prosseguimos no centro da meta. A experiência que tivemos da elevadíssima inflação dos anos 80 nos ensinou o poder destrutivo da inflação. A estabilidade da moeda é hoje o valor central do nosso pais. Quero enfatizar que não transigimos com a inflação. A responsabilidade fiscal é principio basilar de nosso desenvolvimento."

A presidente falou sobre as metas econômicas do país, reforçando que as despesas estão "sob controle". "Conseguimos acentuar a redução da divida liquida de setor publico e em breve meu governo definirá a meta de superavit primário para o ano consistente com esta tendência. Creio que temos um dos menores endividamentos públicos do mundo. Vamos aprimorar o controle das contas dos entes federativos, fortalecer a responsabilidade fiscal, para sermos mais transparentes."

Dilma também falou da importância da participação dos bancos públicos e privados. "As instituições tiveram papel importante nos últimos anos. Desde o início do governo estamos conscientes da necessidade de avançar para novas etapas. Respeitamos os contratos existentes. Nosso objetivo é melhorar estruturalmente a economia, tornando-a mais competitiva."

A presidente também falou das licitações nos setores do petróleo, rodovias, portos e energia com a participação de grandes empresas internacionais e nacionais, a destacou os investimentos nos setores de transporte e saneamento. "Outro programa do qual me orgulho é o Minha Casa, Minha Vida. Garantimos o acesso a moradia para parcelas mais pobres com recurso publico e financiamento. Estabelecemos uma equação financeira considerando a renda para viabilizar o programa sem riscos para a economia".

Dilma falou ainda do repasse dos royalties do petróleo para a educação e saúde, e os investimentos na área se ensino. 

"O Brasil é uma das mais amplas fronteiras de oportunidades de negócios. Sempre recebemos bem o investimento externo. O Brasil mais que precisa  e quer a parecia do investimento privado nacional e externo. Estamos de braços abertos pra resolver todos os desafios."