ASSINE
search button

The Economist reflete pessimismo exagerado

Revista britânica errou e exagerou em publicações sobre o Brasil, afirmam especialistas

Compartilhar

Reportagem veiculada na última semana pela revista britânica The Economist gerou respostas de diferentes frentes. A presidente Dilma Rousseff, na mesma semana, declarou por meio de sua conta no Twitter que a revista está mal informada. Economistas como Delfim Netto apontam que o veículo errou e exagerou na reportagem que mostra um Cristo Redentor em queda desgovernada, após suposta decolagem apontada pela mesma revista em 2009. Delfim indica, porém, que é preciso que o governo fique atento às dificuldades que surgem. Apesar de exagerar, então, a publicação não inventou problemas e acabou funcionando como alerta para uma perda de credibilidade do governo. 

>> The Economist volta a criticar economia brasileira

Delfim Netto falou nesta terça-feira (01/10), durante evento na Associação Comercial de São Paulo que a revista errou duas vezes, primeiro, em 2009, quando apontou a decolagem da economia brasileira, e, agora, ao apontar que o Brasil não aproveitou a oportunidade de crescer, ou seja, "estragou tudo". As questões apontadas pela revista, no entanto, apesar de serem um exagero, não são inventadas, afirma. Trata-se de uma advertência para que o país, que está crescendo, fique mais atento às dificuldades. Para ele, existe um pessimismo exagerado na economia.

Pessimismo, inclusive, que entra em sintonia com opinião bastante difundida no país, de que o governo Dilma foi responsável por uma piora substancial na economia, corrobora Antonio Carlos Macedo, doutor em Ciência Econômica e professor da Unicamp. A The Economist, ao longo da reportagem "Has Brazil blown it?" (O Brasil estragou tudo?), indica que o governo da presidente considerada tecnocrata estaria relutante ou seria incapaz de lidar com problemas acumulados ao longo dos anos, criando novos problemas. A Economist faz coro a opinião difundida no país, de que teria havido piora da gestão econômica no governo Dilma.

"Acho que a Economist certamente exagera. Nisso, faz coro a uma opinião muito difundida no país, mas fortemente questionável, que é a de que teria havido uma piora substancial da gestão econômica no governo Dilma. Houve, é claro, erros de condução, como a contração do investimento público em 2011. Porém, a explicação do baixo crescimento nos últimos anos não pode deixar de levar em conta, de um lado, a deterioração do cenário externo; de outro, a complicadíssima transição, no Brasil, para uma nova articulação entre finanças públicas e privadas; uma nova articulação, digo, mais favorável ao investimento (privado mas também público, inclusive e particularmente em infraestrutura, como salienta a revista) e menos ao ganho puramente financeiro", declarou Macedo, por e-mail.  

A revista ressalta o crescimento de 0,9% em 2012, contra os 7,5% de 2010, para apontar que a transição do governo Lula para o de Dilma significou uma colisão forte, em alusão ao que chamaram de "voo de galinha". O diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista, todavia, pontuou recentemente para a Folha de S. Paulo que a desaceleração em 2011 foi proposital, para evitar o superaquecimento do mercado. A retomada, então, seria mais complicada.

Para Fernando Padovani, professor de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a expectativa colocada pela Economist em 2009, de que o crescimento do país seguisse em patamares elevados, era falsa. Ele reforça que, mesmo se o governo tivesse colocado em prática as reformas apontadas como necessárias pela revista britânica e também por especialistas brasileiros, o crescimento anual chegaria a no máximo a 4%. Um crescimento em torno de 2%, então, não indica uma "queda livre". 

"O governo brasileiro não teve muitas reformas. Temos uma economia cara, o país não está mais competitivo em pequenas manufaturas, como acontece com a China. Tem muitos atrasos em infraestrutura. Os investimentos estão muito lentos. Acho que o Brasil precisa de reformas em vários setores. Mas o maior risco é o investimento muito tímido em inovação. Mas a partir daí você julgar que o Brasil perdeu a oportunidade é um certo exagero. O crescimento do mercado interno, por exemplo, é pequeno, mas importante. O país tem boas perspectivas de manutenção da economia", pondera Padovani.

Delfim destacou também a desconfiança mútua entre governo e setor privado, que acabou afetando a credibilidade do governo de Dilma. Macedo reforça que o governo tem enfrentado, "aos trancos e barrancos", uma difícil negociação com as empresas privadas, para compatibilizar, nas concessões, remuneração adequada e serviços de boa qualidade. "Não há solução óbvia, nem única para esse dilema. Essa queda de braços, num contexto de baixo crescimento e ligeira aceleração da inflação, fomentou uma ampla operação política que procurou - e conseguiu, até certo ponto - reduzir a credibilidade do governo", comentou Macedo.