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Alto custo de produção inibe competitividade dos produtos industriais

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O déficit comercial da indústria brasileira chegou aos U$ 94,9 bilhões ano passado, o seu maior patamar desde 2006, quando o setor registrou superávit de U$ 52 bilhões. A tendência de aumento deve continuar, apontam especialistas. Isto porque, o custo de produção da indústria brasileira é muito alto, devido principalmente à infra-estrutura ruim, às altas cargas tributárias e à valorização do câmbio.

Este elevado preço dos produtos nacionais acaba minando a competitividade da indústria nacional, dentro e fora do país. Para o economista Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp), a situação ainda é mais prejudicial no exterior. "Apesar desta perda (de competitividade) acontecer dentro e fora do país, no exterior ela é maior, já que aqui dentro os importados também sofrem", avalia.

A indústria nacional foi, de fato, o principal setor da economia brasileira a sofrer com a crise mundial de 2009. Desde então, o governo tem aumentado e implementado diversas medidas de estímulo à economia nacional, através da redução de impostos, desonerações tributárias e desvalorização o câmbio. Contudo, o setor ainda apresenta melhoras discretas.

Em janeiro, o crescimento industrial foi de 0,7%, na comparação com dezembro. Em março, a produção industrial subiu 5,1%. Porém, o aquecido mercado interno, que cresce há mais de 2 anos consecutivamente, não conseguiu estimular a indústria e a demanda gerada pelos consumidores tem sido suprida pelo aumento das importações.

Indústria automobilística

Exemplo desta situação é observada na indústria automobilística, que, com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), teve aumento significativo no número de vendas. Até o final de 2012, no entanto, o crescimento ainda não era observado na produção, que continuava caindo. "Este aumento das vendas foi suprido pelos estoques, que estavam altos, e pelas importações, principalmente", afirma o economista. 

Uma forma encontrada pelo governo para inibir as importações, ao mesmo tempo em que incentiva a produção, é o regime automotivo Inovar-Auto, que exige, por exemplo, a nacionalização de processos e investimentos no Brasil para a desoneração de impostos. Para a presidente Dilma Rousseff, o Brasil é um mercado "apetecível", como teria dito a uma ministra de um país latino-americano. "Queremos gerar tecnologia, por isso insistimos tanto na formação. Temos de cuidar da nossa indústria e o programa é dizer para a indústria 'queremos te apoiar", declarou a presidente.

Porém, o programa não agradou tanto ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre. De acordo com o sindicalista, o Inovar-Auto "não garantiu o desenvolvimento do País". Já para o presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), Flávio Padovan, os importadores não podem ser vistos como inimigos. 

E não são, segundo Sarti. As empresas que chegam ao país enfrentam os mesmos problemas que as produtoras nacionais, além de uma tributação ainda maior. "E, muitas vezes, as indústrias que produzem no país são as mesmas que importam. Na indústria automobilística, por exemplo, este valor chega a 90%", afirma.

Custo da mão de obra não é determinante

Além do câmbio, que acaba encarecendo o preço final dos produtos no mercado exterior, outros fatores são apontados para o aumento de preço. O valor da mão de obra, no entanto, não é um deles, segundo o especialista. "No Brasil, o peso é pequeno, não é um valor determinando para o preço final do produto. Na Europa, onde as margens de lucro são menores, cada 1%, 2% faz diferença, mas não é o caso do nosso país", afirmou Sarti.

De acordo com ele, a infra-estrutura precária, o preço da energia elétrica, a mão de obra desqualificada e, novamente, o câmbio, são mais determinantes. "É uma conjunção de fatores. Não dá para dizer nem um fator ou outro, mas são diversos. Na economia nada é tão pontual", enfatiza.