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Alemanha não tem alternativas para o Euro

Novo partido, 'Alternativa', prega a volta do marco

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Ninguém perguntou se os alemães eram a favor do euro, afirma Jan Kallmorgen em matéria para o Bloomberg. Agora, quase 15 anos depois de a Europa ter adotado uma moeda comum, um novo partido político surge com campanha de retorno ao marco alemão.

Em uma pesquisa feita no mês passado, 24% da população afirmou considerar votar na proposta do novo partido, chamado de “Alternativa para a Alemanha”. A questão não é simples, mas surpreende, considerando que foi dada à Alemanha um poder muito grande para a salvação e manutenção do euro.

Na década de 1990, com os preparativos para criação do euro, o chanceler Helmut Kohl se considerou sortudo, já que a Constituição alemã não permitia referendos. Kohl aceitou a união monetária porque ele a julgou como a única maneira de reunificar a Alemanha Oriental e Ocidental sem afligir o resto da Europa. Os franceses, em especial, temiam o poder do novo estado alemão. O preço exigido foi o euro, visto como um grande passo para a integração da União Européia.

Euro impopular

Se houvesse algum tipo de plebiscito à época, provavelmente o euro não seria aceito pelo povo, devido à grande importância, simbólica e financeira, do marco para a Alemanha. O marco alemão foi essencial para a recuperação da Alemanha Ocidental no período de pós II Guerra, representava uma recuperação econômica e o retorno de uma força política. Até para a Alemanha Oriental o “d-marco”, como era conhecido, teve um papel histórico importante, pois significava toda a falta de liberdade e de riqueza que aquela população tinha que enfrentar com a divisão.

Toda essa ligação emocional é o trunfo para a “Alternativa”. A mesma pesquisa sugere que nas eleições de setembro o partido poderia ganhar mais do que os 5% dos votos necessários para conquistar assentos no parlamento alemão, tirando a hegemonia da coalizão da chanceler Angela Merkel.

No início do euro, os resultados foram decepcionantes. A desvalorização frente ao dólar americano irritou os alemães, que sempre se orgulharam da força do marco. No entanto, a partir de 2003, o euro proporcionou a ascensão da Alemanha como a principal potência da zona do euro. O país recuperou a competitividade durante o período de governo do chanceler Gerhard Schroeder, que impôs fortes reformas estruturais. Além do mais, com a troca de moeda, empresas alemãs conseguiram acumular excedentes comerciais.

Fazendo as pazes

Como resultado, em 2010 a nova moeda já tinha a simpatia do povo. Mas isso mudou com o início da crise. No mesmo ano, com as notícias de que a Grécia estava manipulando suas estatísticas financeiras, houve um retorno dos antigos preconceitos alemães contra os países do sul europeu.

Com a política monetária expansiva adotada pelo Banco Central Europeu, visando a recuperação econômica da zona do euro, correntes conservadoras da Alemanha começaram a se manifestar contra o euro. Apesar de mercados globais terem aprovado as medidas, houve protestos, dentro da Alemanha, contra o presidente do BCE, Mario Darghi, e contra a política financeira de Angela Merkel.  

Agora, economistas estão liderando protestos não só contra os pacotes de resgate de Merkel, como contra a política do euro no geral. Eles querem o retorno do marco alemão, pois não acreditam na unificação dentro de uma zona com tantas ideologias diversas.

A “Alternativa para a Alemanha” é liderada por Bernd Lucke, professor de economia da Universidade de Hamburgo: "Em política, nada é irreversível, muito menos o euro", disse Lucke no congresso de inauguração do partido em 14 de abril, depois de descrever o euro como "um erro histórico".

O partido é apoiado por muitos ex-membros da conservadora União Democrata Cristã de Angela Merkel e roubaria votos de todos os partidos existentes, de acordo com os dados da pesquisa. Isso iria fortalecer aqueles dentro do partido conservador de Merkel, que estão descontentes e ainda poderia tirar votos suficientes para forçar uma coalizão de Merkel com o Partido Social Democrata.

Ainda assim, toda a política alemã está determinada a manter o euro. Até agora, tanto o Partido Social Democrata quanto o Partido Verde votaram a favor de todos os pacotes de resgate. Por isso, atualmente é inviável pensar em uma mudança de tamanha magnitude.

Jan Kallmorgen conclui que a proposta da “Alternativa” ainda é muito radical. Dois terços do país esperam que o euro se mantenha para os próximos anos. O descontentamento popular é algo que não terá forças suficientes para o partido. Embora muitos queiram uma mudança dentro da zona do euro, a maioria dos economistas diz que o marco alemão e o franco, hoje, não seriam competitivos frente ao yuan chinês, ao dólar americanos ou ao real brasileiro.