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Especialistas: investimento privado é maior gargalo à economia

Projeção do FMI reduziu de 2,5% para 1,5% o crescimento do PIB nacional

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O Fundo Monetário internacional (FMI) reduziu nesta segunda-feira (9) as perspectivas de crescimento da economia mundial neste ano, de 3,5% para 3,3%. Para o Brasil, o crescimento do PIB caiu de 2,5% para 1,5%. Segundo economistas ouvidos pelo Jornal do Brasil, a queda da taxa nacional é muito significativa e abala bastante a perspectiva da economia brasileira. Segundo alertaram, o principal gargalo para nosso crescimento está no pouco investimento do setor privado, vinculado à projeção de crescimento fraco do país e a problemas estruturais.

Em níveis internacionais, argumentam os especialistas, apesar de representar bilhões de dólares, a redução de 0,2% na economia mundial não é tão premente e já era esperada, uma vez que o FMI revisou suas projeções otimistas do começo do ano. 

Esgotamento

Alex Ferreira, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP, acredita que a redução do PIB do país põe em xeque um possível esgotamento da capacidade de estimular a demanda agregada com as políticas monetárias e fiscais, estimular a demanda agregada com as políticas monetárias e fiscais, mantendo a inflação dentro da meta. “Há uma certa convergência entre os analistas de que é preciso fazer política de oferta para estimular o crescimento brasileiro. O problema principal é o investimento”, afirmou Ferreira.

Segundo ele, os múltiplos focos do governo sobre a política econômica, ao modificar políticas monetárias, fiscais e cambiais, podem acarretar no não atingimento das metas propostas.

“O governo tem dado sinais de objetivos múltiplos, que são fazer política monetária para manter a estabilidade de preços e tempo política fiscal para ativar a economia e políticas para aumentar a taxa de , analisa. “Desde a década de 60, os economistas sabem que não é possível alcançar os objetivos múltiplos quando o movimento de capital é alto.  Desde o começo do governo o que se observa é a tentativa, ao menos na retórica, de atingir objetivos múltiplos inalcançáveis, o que não é benéfico do ponto de visto macroeconômico”. 

A opinião não é compartilhada pela professora da FGV-RJ e Uerj, Lia Valls. Segundo ela, os países em desenvolvimento têm certa "folga" para modificar suas políticas econômicas. "O Brasil, assim como outros países que têm um pouco de vantagem sobre os países desenvolvidos, ainda tem uma folga maior para mexer com essas frentes da política econômica", afirmou. "Assim, tem espaço para mexer na taxa de juros. Nos EUA, não há muito espaço para a política monetária, por exemplo. Ainda existe mais espaço para a política fiscal com aposta em várias frentes, nessa sintonia fina, esperando que os preços não aumentem. O principal problema é conseguir abrir o gargalo no aumento do investimento, isso é o mais importante para uma taxa de crescimento sustentável".

Reforma institucional

Para Ferreira, um bom legado que o governo poderia deixar seria avançar na questão da microeconômica e institucional, promovendo reformas modernizantes, como tributária e administrativa. "Um bom legado seria trabalhar mais na questão microeconômica e institucional,além de promover reformas no ensino e incentivar a pesquisa. Fazer as coisas andarem mais rápido no Judiciário, por exemplo, e promover um ambiente empreendedor no país", ponderou. 

Ele explica que aumentar a tendência de crescimento da economia passa pelo aumento dos investimentos do setor privado. Mudar esse cenário, porém, é muito difícil, avalia o professor, especialmente quando o setor privado esbarra em velhos problemas, como a burocracia e o excesso de encargos tributários.

"Essa taxa de crescimento é terrível para a economia brasileira, pior ainda per capta. Agora, se não for analisada a raiz do problema, a causa não seria a desaceleração mundial? Não apenas. A questão também é do investimento privado, que está ligado à taxa de juros e às perspectivas econômicas. A Selic caiu e deveria ter aumentado os investimentos. Não aumentou porque as expectativas não estão boas. Na perspectiva mundial, há muita incerteza com o desempenho do resto do mundo. A China, principal parceira do Brasil, está desacelerando, a Europa está em crise", avaliou. "O Investimento faz a ligação da demanda com a oferta. Investimento hoje é produção amanhã. O que favoreceria o pais seria ter consistência da politica econômica, não querer objetivos múltiplos. Do ponto de vista institucional são essas mudanças que estão há anos para serem feitas". 

Revisão natural

Lia Valls explicou que o FMI, na projeção, revisou o certo otimismo do início do ano pela recuperação econômica mundial. Para ela, o resultado é natural. "No início do ano, havia uma perspectiva de uma melhora da economia mundial. No entanto, a crise na Europa foi muito mais profunda do que se imaginava, e isso surpreendeu um pouco. Depois, a China teve crescimento menor do que o esperado e os próprios Estados Unidos, que pareciam se recuperar bem, não tiveram uma recuperação tão robusta", apontou a professora.

A especialista lembrou que, segundo o FMI, a previsão para a economia mundial em 2013, embora seja melhor do que para este ano, ainda ficará abaixo da taxa registrada em 2011. "O mundo não consegue em 2013 alcançar o crescimento de 2011, segundo o FMI, e ter uma taxa de crescimento mais alta. Desde 2004 o mundo cresceu sempre a taxas acima de 4%", avalia.

No caso do Brasil, a economista ressaltou que o país não cresce a taxas sustentáveis há muito tempo, apesar dos esforços do governo, e isso contribui para o investidor privado liberar menos capital no país. Fatores como a pouca regulação nas chamadas Parcerias Público Privadas e a baixa perspectiva de crescimento do país causam o pouco investimento. 

"O principal fator para o investimento é a perspectiva de crescimento. Só vai investir quem achar que terá lucro. Se houver demanda crescente e estabilidade de regras. Outra coisa é a infraestrutura, que o governo tem tentado melhorar. A regulação disso, a Parceria Público Privada (PPP) ainda não está muito clara. É preciso mais regulação. Tem a própria questão da gestão do governo: às vezes, ele faz um pacote de investimentos, mas por questão de gerência pública, acaba não conseguindo destravar esse dinheiro para tocar os projetos", conclui Lia Valls.