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Governo usa bancos oficiais para forçar redução dos juros de bancos privados 

Economista apoiam e dizem que juros das operadoras de cartões são extorsivos

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A decisão do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal de reduzirem os juros no parcelamento dos cartões de crédito, anunciadas nesta quinta-feira (6/09), é uma continuação das intenções do governo em ampliar o consumo e forçar os bancos privados a também diminuir suas taxas, analisaram especialistas.

Francisco de Holanda, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio, diz que o governo, por meio de seus braços financeiros, tenta impor maior concorrência bancária. “O anúncio mostra a liderança do governo, no sentido de se mover primeiro, e tentar forçar uma mudança dos outros bancos”, disse.

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Competição e inadimplência

Segundo ele, apesar de a taxa básica de juros (Selic) registrar seu menor patamar histórico, de 7,5% ao ano, clientes relatam que os bancos resistem a repassar o corte. “Os bancos alegam que não reduzem suas taxas porque a inadimplência está alta. Os juros no Brasil são altos porque a inadimplência é muito alta”, pondera o pesquisador.

De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a inadimplência das famílias com cheques pré-datados, cartão de crédito, carnês, empréstimo pessoal, prestações e seguros aumentou em agosto. Foi a terceira alta consecutiva do indicador, mas a porcentagem de famílias endividadas em 2012, 59,8%, ainda é menor do que no mesmo período do ano passado, 62,5%.

“Estimular a competição é sempre positivo. Mas, se eles concederem crédito a qualquer pessoa, terão dívidas no futuro. Para um banco, uma boa carteira de clientes é muito importante. Se essa carteira é expandida demais, sem parâmetros, não é interessante para ele”, avalia Holanda.

Portabilidade 

Maria Beatriz David, professora de economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), aponta que, como medida de curto prazo, as taxas de juros no cartão de crédito menores podem estimular o consumo. Ela deixa entender que a inadimplência é usada como justificativa para instituições financeiras não reduzirem suas taxas. Maior consumo, pode gerar maior endividamento, mas não necessariamente o aumento da inadimplência.

A especialista destaca o programa de portabilidade de crédito do Banco Central (BC), no qual os clientes de qualquer instituição financeira podem transferir suas dívidas para taxas de juros mais baratas. Em julho, último dado disponível do BC, foram realizadas  44.569 operações de portabilidade. No total, as transferências entre instituições financeiras somaram R$ 529,1 milhões no mês. Foi um volume bastante inferior ao saldo das operações de créditos concedidos pelo sistema financeiro de R$ 2,184 trilhões no período.

“O problema é que alguns bancos têm resistido a entregar as dívidas às pessoas, porque eles ganham muito dinheiro com elas. Normalmente, os consumidores têm dificuldade (no momento de migrar seus débitos) e precisam da intermediação de outro agente financeiro”, frisa Maria Beatriz. “Há vários intermediários que compram uma dívida barata, porque tem mais facilidade em negociá-la do que o consumidor”.

"Extorsão"

Segundo a professora, a taxa de juros das operadoras de cartão de crédito é a mais “extorsiva do mercado”. Em janeiro deste ano, uma pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), revelou que os juros cobrados pelas operadoras de cartão de crédito no Brasil são os mais alto na comparação com cinco países da América do Sul e o México. Somente em relação à Argentina, a taxa brasileira é cinco vezes maior. Maria Beatriz alerta que o país terá, em breve, de solucionar essa questão.

“Se você vê os levantamentos, a maior porcentagem de dívida é com cartão de crédito. Mas o Banco Central não entende que essa taxa se insira em sistema financeiro. O Brasil vai ter que tomar providência mais cedo ou mais tarde quanto a isso”, analisa.