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Para especialistas, acordo na zona do euro é importante avanço 

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Nesta sexta-feira (29), os líderes dos países da zona do euro fizeram um acordo para dar mais credibilidade e certeza ao futuro da moeda única europeia. Segundo o documento, existe, agora, a possibilidade de o capital ser injetado diretamente nos bancos afetados pela crise, sem passarem pelos governos. Os chefes de Estado também definiram que será criada uma instituição, ligada ao Banco Central Europeu (BCE) para regular e fiscalizar o sistema financeiro europeu. Especialistas da área ouvidos pelo Jornal do Brasil mostraram otimismo com a implementação de um órgão fiscalizador único para observar o sistema financeiro. Contudo, frisaram que o acordo é um movimento inicial que precisa estar voltado para a produtividade, e não para especulação financeira. 

Outros tópicos acertados pelos líderes europeus são a compra de títulos de países em dificuldade com recursos dos fundos de resgate, pelo BCE; e o pacote de 120 bilhões de euros para estimular o crescimento com investimentos em infraestrutura e  geração de empregos para jovens.

Velocidade

Segundo o professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Carlos Braga, o acordo é um avanço importante para a zona do euro. Para ele, o repasse de capital diretamente aos bancos possibilita que as instituições se recapitalizem mais rapidamente e, com isso, possam dinamizar o retorno dessa medida à economia.

Braga também entende que o novo acordo é “altamente positivo” para os países mais atingidos pelo colapso econômico, como a Grécia, que está em recessão há cinco anos.

“Na realidade, a União Europeia está tomando as medidas necessárias muito lentamente. Esse é um avanço importante. Em primeiro lugar porque o capital será repassado diretamente dos fundos aos bancos. Os créditos que estão no balanço dos bancos não vão ser pagos, então ele precisa se recaptalizar, e essa medida pode dar velociadade para enfrentar os problemas que estavam gerando incerteza nos mercados”, analisa.

O professor também elogiou a criação de uma órgão para supervisionar o sistema bancário. De acordo com ele, trata-se de um primeiro passo para uma “superação europeia”, na qual os países com mais recursos devem repassar verbas para tornar o bloco mais homogêneo em sua economia.

“Essa nova supervisão bancária centralizada vai supervisionar os bancos para detectar, com antecedência, os problemas e atuar num processo contra a crise. Se isso for feito, eles começaram a dar um passo importante para atingir o alvo maior, que é criar uma superação europeia”, pondera.

Ele defende, no entanto, que é preciso que os bancos aumentem o crédito à população e ao empresariado, e não fiquem apenas especulando esse dinheiro:

“Esse capital tem que dinamizar a economia. Os bancos têm que emprestá-lo para gerar uma nova rodada de crescimento. Essa recaptalização deve servir para aumentar a produtividade dos países. Caso contrário, será uma oferta bancária subsidiada pela União Europeia”, diz.

Merkel X Hollande

O economista acredita que a aprovação destes novos termos demonstra uma vitória política do presidente francês, François Hollande, sobre a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Hollande desde os discursos em campanha se comprometeu a não aderir completamente aos cortes orçamentários propostos por Merkel – maior influência dentro da zona do euro.

“Acho que é uma vitória parcial do Hollande, porque a ideia da austeridade começa a perder. Esses cortes não levam a lugar nenhum. Você quer que os endividados paguem a dívida, mas eles estão em recessão, o que faz cair a dívida publica e eles receberem menos”, opina.

Para Roberto Simonard, professor de economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RJ), o novo acordo acalma o mercado. Ele citou a queda do dólar frente ao real registrada nesta sexta-feira, quando teve a maior desvalorização em um pregão desde 23 de setembro de 2011, recuando 3,17%, a R$ 2,01, como exemplo.

Simonard defende que se a crise europeia tivesse um ápice, o começo seria pela possível queda dos bancos, e explica que estas instituições estão cheias de títulos públicos de países como Espanha e Portugal, que correm o risco de não serem pagos. Por isso, é crucial o seu resgate.

“Impedir a falência dos bancos é fundamental e estratégico. É como jogar uma pedra na água: o epicentro é o banco, e as ondas são o alcance que a sua falência tem na sociedade. Quanto maior a instituição, mais problema vai criar. A economia moderna é organizada dessa forma.”, afirma.

Ele endossa a opinião de que é preciso haver uma regulação mais firme das instituições financeiras, para evitar colapsos como o de 2008. Ainda, polemiza:

“Tem muito banco por aí que pensa em fazer negócios de risco porque pensa que, se não der certo, os governos vão arcar com o prejuízo”, adverte.