ASSINE
search button

Spreads bancários reduzidos beneficiarão também os bancos, afirmam especialistas

Compartilhar

As medidas para diminuir o spread bancário brasileiro já começaram a surgir efeito no mercado. Seis dias após o governo reduzir os juros dos principais bancos públicos (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil)foi a vez de o HSBC anunciar que também baixou as taxas de algumas de suas operações de crédito. 

De acordo com o boletim da instituição, houve redução da taxa mínima de 1,48% ao mês para 0,98%. O crédito consignado sofreu corte na taxa mínima, que saiu de 1,59% para 0,99% ao mês. O HSBC também anunciou a taxa mínima de crédito pessoal de 2,45% para 1,99%.

Logo após o anúncio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no último dia 4, a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) enviou boletim reivindicando outras medidas, como o aumento dos critérios para se conseguir empréstimos, já que a instituição aponta a inadimplência como um dos principais fatores que fazem com o que o Spread Bancário brasileiro seja um dos maiores do planeta. 

Inadimplência

Especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil analisam as medidas governamentais como positivas e alinhadas com a política macroeconômica do país. Ex-vice-presidente da Caixa e ex-diretor executivo da Febraban, o economista Fernando Nogueira da Costa, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acredita que em longo prazo os bancos também lucrarão com esta redução dos juros. 

“Com este corte (dos juros), a inadimplência pode diminuir, pois uma das dificuldades para se pagar é exatamente este valor excessivo. Além disso, os investimentos também podem aumentar, pois fica mais barato se financiar com taxas mais baixas, é mais atrativo”, explica. 

Apesar da inadimplência ser apontada pela Febraban como uma das razões pelo alto valor do spread, o economista José Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), contraria a posição da federação. Segundo ele, a relação é inversa: são as altas taxas que acabam atraindo os "maus pagadores", normalmente, investidores que apostam em negócios mais arriscados.

"Os investidores que buscam esta linha de financiamento normalmente estão apostando em negócios arriscados que, caso funcionem, dão alto lucro, que é a única forma de arcar com o valor exagerado dos juros. Os bons pagadores procuram outras formas de financiamento", explica.

O economista Paulo Gala, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) destaca que os bancos brasileiros têm lucro atípico, muito maior do que os internacionais.

"O governo está correto, é preciso estimular esse corte. Um banco toma emprestado e 9% e empresta a 40% o lucro por operação é muito alto, era melhor que invertessem a escala, aumentando o crédito e lucrando através disto", analisa. 

Apesar disto, Fernando Costa acredita que a redução dos juros dos bancos públicos não levará a uma mudança muito grande no mercado. Para ele, a parcela de clientes que procura crédito é relativamente pequena e a competitividade entre os bancos se dá muito mais pelos serviços prestados do que pelos preços oferecidos. 

Medidas macroeconômicas

Um dos aspectos positivos da medida é estar alinhada com outras políticas macroeconômicas implementadas pelo governo Dilma, e a redução na taxa faz parte de uma estratégia muito mais ampla, afirma Costa. 

“O objetivo na redução desta taxa de juros é fazer um pareamento com os juros internacionais. Isto afeta muito a taxa de câmbio a curto prazo, que é uma das frentes que o governo está agindo, principalmente para proteger a indústria", analisa. 

Outro ponto destacado pelo especialista é que, com esta medida, o governo sinaliza que o Tesouro Nacional está menos dependente dos lucros dos bancos públicos. 

“Os bancos públicos no Brasil têm a tradição de agirem como ferramentas do governo para políticas anticíclicas e aplicação de ações sociais e comerciais. O benefício social é prioritário frente aos interesses particulares do mercado financeiro e dos bancos. E eu acho que devem agir assim mesmo". 

O Jornal do Brasil entrou em contato com a Febraban que afirmou não ter um porta-voz disponível para comentar o assunto. A assessoria do Citibank informou que o banco "está acompanhando os movimentos e avaliando as possibilidades."

Apuração: Carolina Mazzi