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Fatores diversos contribuem para a desindustrialização no Brasil

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Nas últimas semanas, o governo tem anunciado medidas para controlar a taxa de câmbio e, assim, proteger os produtos e a indústria nacional. No entanto, especialistas concordam que, além do dólar, outros fatores têm contribuído para o aumento no custo de produção do país, mais alto que nos Estados Unidos, por exemplo.

Este custo pesado é apontado como uma das razões para a desaceleração do setor industrial brasileiro, que fechou janeiro em baixa de 2%, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na última semana.

Os gastos com infra-estrutura e a pesada carga tributária acabam onerando as empresas brasileiras e aumentando o custo da produção. O economista José Oreiro, professor da Universidade de Brasília, afirma que a política de aumento salarial do país acabou pressionando os preços.

“O salário mínimo, que funciona como referência para as outras remunerações, tem aumentado mais do que a produtividade. Isso significa que o trabalhador, embora tenha produzido mais, teve o seu salário aumentado em proporção ainda maior”, explica.

Segundo o especialista, a má distribuição de renda e os gargalos sociais fizeram com que as políticas de aumento salarial se acentuassem ainda mais nos últimos anos. No entanto, Oreiro alerta que agora é preciso negociar com os sindicatos para que a remuneração ocorra aliada à produtividade.

O economista ainda destaca o custo pesado da energia elétrica, o terceiro mais alto do mundo, como um empecilho ao desenvolvimento industrial do país.

“Depois que o setor foi privatizado, o preço do fornecimento do kW/h no Brasil se tornou um dos mais custosos. A alta taxa de câmbio contribui, mas também a malha rodoviária de má qualidade. Uma boa parte do preço no produto final vem destes gastos”, analisa.

Indústria sofre

O alto custo da energia elétrica é apontado como um dos desafios para que o produto nacional recupere sua competitividade. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Fernando Pimentel, também citou a falta de infra-estrutura básica, a burocracia e a pesada carga tributária como contribuintes para o aumento no custo de produção do país.

Segundo ele, a produção têxtil caiu 16%, e a produção de vestuário 5% no último ano, Se a tendência for mantida, analisa Pimentel, os produtos importados poderão alcançar uma fatia de até 30% do mercado nacional.

Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, o setor de calçados é um dos que mais sofrem com a perda da competitividade e os altos custos de produção do país.

"Muitas mudanças ainda são necessárias para uma retomada do setor, como melhora da infra-estrutura, diminuição na carga tributária e da burocracia", aponta.

Em 2008 o setor exportou cerca de US$ 2 bilhões para 150 países. No ano passado, este número encolheu para US$ 1,2 bilhão, com o mesmo número de nações.

Carga Tributária aumenta o custo

O advogado tributarista Antônio Caetano, do escritório Antônio Caetano Advogados, afirma que o excesso na cobrança dos tributos é dos motivos que mais encarece a produção do país e prejudica as empresas.

“Os tributos são o grande calo da indústria nacional. Cerca de 50% das empresas quebram nos primeiros dois anos. Muitas vezes elas se endividam em algum momento e não conseguem mais pagar os tributos, que são muito onerosos”, analisa.

Além do excesso na carga, o governo não aplica bem o que arrecada, afirma o especialista, o que acaba onerando a empresa duas vezes.

“Por exemplo: os tributos que deveriam ir para a saúde da população, não são aplicados. Aí, a empresa ainda é obrigada a oferecer um plano de saúde, pois a saúde pública é deficitária", conclui

Otimismo cauteloso

Os representantes do setor industrial mostram um otimismo cauteloso em relação as políticas do governo para incentivar a produção nacional. Mario Zocca, vice-presidente do Polo Têxtil da região de Americana (SP), acredita que o setor continuará sendo importante como empregador do país.

"O governo está se posicionando, tentando ajudar, acreditando no setor, mas as medidas têm que ser também na lei. Atualmente conseguimos que o fardamento do exército, por exemplo, por lei, terá que ser feito com tecidos e insumos do Brasil. É um longo caminho, mas venceremos", acredita. 

Klein, da Abicalçados, também acredita em uma recuperação rápida, desde que o governo continue intervindo fortemente no setor.

""Há muito tempo não se via um envolvimento no setor de calçados como hoje em dia. Nós temos produtos altamente reconhecidos no mercado, com design diferenciado e uma mão de obra qualificada, tecnologia de ponta. Podemos recuperar as perdas rapidamente", conclui.

Apuração: Carolina Mazzi