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Bitcoin desvaloriza 80%

Derretimento da bolha das criptomoedas 2018 supera queda da 78% das ponto.com em 2000

Reprodução -
Bitcoin desvaloriza 80%
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A cobiça humana ignora as lições da história. Sobretudo no mercado financeiro. Esta semana completa uma década da maior crise do capitalismo: a quebradeira das hipotecas nos Estados Unidos, que pôs a pique metade do sistema bancário do mundo, a partir da falência do Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008. Os bancos centrais injetaram mais de US$ 1 trilhão para anabolizar o sistema. Até hoje, há relutância em enxugar a liquidez e elevar os juros, para evitar inflação e bolhas especulativas, sempre estimuladas com os juros baixos.

Gigantes financeiros desapareceram ou mudaram de controle (Chase, virou JP Morgan Chase, o Citigroup e o Banco of America tiveram novos donos, metade dos bancos ingleses, espanhóis, alemães, japoneses e franceses deixaram de existir). No Brasil, houve a fusão do Unibanco ao Itaú, em 3 de novembro de 2008, após o banco da família Moreira Salles ficou sem funding pelo colapso das linhas de crédito dos bancos estrangeiros (vários pequenos e médios sucumbiram no país, mesmo com o Banco Central reduzindo os compulsórios para que os grandes negociassem a compra das carteiras de bancos menores sem fôlego). O Votorantim foi comprado 49% pelo Banco do Brasil.

A exigência de maior capitalização e enquadramento de operações antes à margem dos balanços, provocou o desaparecimentos de muitas instituições não bancárias, desinflou o mercado de imóveis, mas nem por isso afastou a cobiça do ambiente do mercado financeiro. No Brasil, só fez ampliar a concentração bancária em torno de cinco bancos, com todas as distorções que o JORNAL DO BRASIL vem apontando desde sua volta às bancas, em fevereiro.

Macaque in the trees
Bitcoin desvaloriza 80% (Foto: Reprodução)

Menos de 10 anos antes da crise de 2008 houve o mega desabamento das ponto.com. Mas a nova onda - o Bitcoin - surgiu no mesmo 2008, quase simultânea à ruína das gigantes do mercado hipotecário americano, a Fannie Mae e a Fredi Mac, que levaram, já em 2007, a mega prejuízos na carteira hipotecária do HSBC, da Bear Stern e à quebra da seguradora AIG, esta em 2008).

Pois desde meados do ano passado começou uma febre pela valorização das Bitcoins. O conceito de uma moeda criptografada, que permite que dois agentes econômicos fechem negócios sem transação de moeda física, parece engenhosa. Mas nenhum Banco Central reconheceu o modelo, que não permite o controle do estoque e da existência de lastro. O mercado é bom para quem quer esconder o fluxo do dinheiro (e serve a toda a sorte de crimes financeiros, que apoiam o tráfico de drogas, o caixa 2, e o terrorismo).

A cobiça humana finge ignorar os ciclos de crise dos capitalismo e a duração mais curta das bolhas. A lição da grande crise da bolha das tulipas, na Amsterdam, do começo do século 17 não foi aprendida. Um bulbo de tulipa, que gera uma flor avaliada hoje em R$ 30, chegou a ser negociada pelo equivalente a 24 toneladas de trigo! Pois as criptomoedas, que chegaram a valer mais de US$ 18 mil em dezembro de 2017 (numa escalada que começou a U$$ 1 mil em janeiro) desceu para o patamar de US$ 6 mil. Isso seria uma queda de 68%.

A Bloomberg informa hoje que após a intervenção da Securities Exchange Comission, o xerife do mercado de capitais dos EUA, que proibiu a negociação dos ativos em Bitcoin Tracker One e Ether Tracker One, do XBT Provider, no domingo, 9 de setembro, e de o mercado de entrou em queda livre. A Ethereum, que é a terceira criptomoeda em volume de negócios nos EUA, caiu 23% em uma semana. O maior tombo foi da Rchain (-45,99%). Mas a Bitoin, a mais negociada, baixou apenas 6,3% e a Theter (os nomes são parecidos) perdeu somente 0,53% em sete dias.

No mercado americano das criptomoedas a situação, como se diz em Minas, “está de vaca desconhecer bezerro”. Citando “confusão” entre os investidores, a SEC emitiu aviso de que duas notas negociadas em bolsa (ETNs) – o Bitcoin Tracker One (“CXBTF”) e o Ether Tracker One (“CETHF”) – serão suspensas até 20 de setembro. O cerco da SEC é maior aos fundos de hedge de bictoin, num momento de dissolução do mercado. Algo como comprar boneco de neve para entregar no verão...

No Brasil, os dados da queda das criptomoedas vêm sido mascarados, pois a escalada do dólar encobre a desvalorização real da aplicação em bitcoin. Voltando aos dados da Bloomberg, a queda das Bitcoins já chegou a 80% este ano, superando a perda de 78% do estouro das ponto.com em 10 de março de 2000.

Se serve de consolo, a corrida para as ponto.com não estava de todo errada. Se Cisco, Dell e IBM derreteram muito e várias promessas pereceram, hoje, as empresas mais valiosas são: Apple, Amazon (derreteu como Cadabra), Microsoft, Alphabet (Google) e Facebook.