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Stefano Bollani enlaça jazz e MPB

Prolífico pianista de jazz faz show com Hamilton de Holanda amanhã no Centro

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O prolífico pianista milanês Stefano Bollani, de 45 anos, é o mais afamado jazzista da Itália. Em seus quase 40 álbuns editados, entrelaça improvisação, virtuosismo, treinamento clássico e humor, para produzir uma música plena de contentamento e entusiasmo. Estas características se exacerbam nas apresentações ao vivo, onde atua como “showman”, ostenta trejeitos histriônicos, provoca a plateia e põe o pé no teclado.

A relação do pianista com a música brasileira vem de longa data e já rendeu muitos álbuns e parcerias com medalhões. A mais famosa dessas produções é “Carioca”, disco de 2007. No ano passado, lançou “Que bom”, sucessor daquele álbum, que a Biscoito Fino acaba de editar. Stefano toca e canta somente com artistas brasileiros, incluindo Caetano Veloso, Jaques Morelenbaum, Hamilton de Holanda, João Bosco e Thiago da Serrinha. 

É este o repertório de amanhã, às 19h, no Teatro Carlos Gomes, no Centro, em apresentação única na cidade. O músico apresenta faixas em italiano  e português, percorrendo gêneros como o samba, o jazz, as canções de amor e homenagens a outros artistas, em uma grande oscilação harmônica. A banda está formada por Jorge Helder, no baixo; Jurim Moreira, na bateria; Armando Marçal e Thiago da Serrinha na percussão, além da participação especial de Hamilton.

Bollani conta que seu primeiro contato com a música brasileira foi ainda na adolescência, com a Bossa Nova. “Quando tinha 15 anos, escutei pela primeira vez o mítico disco ‘Getz/Gilberto’. Na época eu já tocava jazz e notei que a harmonia e o calor eram muito parecidos. Apaixonei-me pelo gênero, e de lá para a frente foi um mundo que se abria”.

O músico brasileiro favorito de Bollani é Caetano. Os dois conheceram-se há cerca de dez anos, na Itália, e desde o primeiro contato planejaram um projeto em duo sobre a música italiana. O plano finalmente se realizou no último disco, em que o baiano canta em duas faixas, “La nebbia a Napoli” e “Michelangelo Antonioni”. 

“Caetano  fala um bom italiano e é a minha voz favorita, entre todas que já existiram. Se ele cantasse o que está escrito em sua agenda de telefones, estaria bom para mim”, diz o jazzista.

Depois de sua primeira visita ao país em 2007, Bollani passou a escutar choro e samba. Ele diz interessar-se por pianistas do estilo, como Radamés Gnatalli e Carolina Cardoso. Outro exemplo é Egberto Gismonti, “um gênio”. Os maiores elogios, contudo, são reservados a Hamilton de Holanda, bandolinista com quem dividiu o CD “O que será”, em 2013.

“Hamilton é genial e a gente não precisa de ensaio algum antes de tocar. Tudo sai livre e muito improvisado. É isso o que gosto da música: a possibilidade de ser livre e de tocar o que está passando na minha cabeça naquele preciso momento”.

A improvisação, aliás, é uma das principais características da obra de Stefano. O pianista diz que sua formação clássica, desenvolvida na Escola de Piano de Nápoles, foi fundamental para isso. 

“É preciso conhecer a gramática da música para poder improvisar. Como eu estou fazendo aqui, utilizando a língua portuguesa [a entrevista foi conduzida no idioma pátrio]. Eu uso uma língua para dizer o que quero naquele exato momento. Depois, a única coisa importante para um bom improvisador é se manter no presente, o que pode ser difícil, a depender da sua atitude. Guardar um canal aberto para que a inspiração passe”.

O time brasileiro, a quem Stefano se refere como um “dreamteam”, é só um de seus projetos. Há 15 anos, ele se dedica também um trio com os músicos dinamarqueses Jesper Boldilsen e Morten Lund. Já o Napoli Trip homenageia a cidade italiana, com o saxofonista Daniele Sepe, o clarinetista Nico Bori e o baterista Bernardo Guerra. 

O show no João Caetano encerra uma pequena turnê pelo Brasil. O músico também se apresentou em Belo Horizonte, São Paulo, no interior paulista e em Brasília. Ele diz que pretende voltar já ano que vem, com o seu próximo lançamento, o “Concerto Azzurro para piano e orquestra”, atualmente em produção.

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Serviço

QUE BOM - Stefano Bollani - Teatro Carlos Gomes (Praça Tiradentes s/nº, Centro; Tel.: 2215-0556). Ter, às 19h. R$ 80 (balcão) e R$ 100 (plateia e camarote). Classificação livre.