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Obituário - Helio Eichbauer, 76 anos, cenógrafo

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“Morreu um dos maiores artistas clássicos brasileiros. Ele levou a cenografia ao estado de arte eterna. O cenário de “O rei da vela” foi apresentado 50 anos depois  sem mudar nada. Ele se igualou muito ao Hélio Oiticica. Ele é um artista da cenografia, a obra dele é absolutamente imortal. “ O depoimento de Zé Celso Martinez Corrêa sobre Hélio Eichbauer, que  morreu sexta-feira, aos 76 anos, em sua casa no Rio, vítima de um enfarte, dá a dimensão da importância do cenógrafo na história das artes no Brasil. 

Medalha de ouro na Quadrienal de Praga, o maior evento da cenografia mundial, ele foi o criador da cenografia e indumentárias de “O rei da vela”, fez parcerias com artistas como Glauber Rocha, Caetano Veloso e Chico Buarque, foi um dos fundadores do curso de Artes Visuais do Parque Lage e era professor de cenografia da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio. 

Nascido em 1941, Eichbauer abandonou o curso de Filosofia na Faculdade Nacional e embarcou para a então Tchecoslováquia (atual República Tcheca) para estudar cenografia no ateliê do mestre Josef Svoboda. Por quatro anos construiu maquetes, fez exercícios de composição gráfica, desenho e escultura. 

De volta ao Brasil 

Depois de passar o pós-guerra na Europa, onde criou repertório até estrear profissionalmente e passar por França, Itália e Alemanha, no Berliner Ensemble, de Brecht, Helio voltou ao Brasil para consolidar sua carreira no teatro, cinema e música. Trabalhou em  óperas, balés, shows de música popular e teatro e, em 1967, fez a cenografia e indumentária da montagem do Teatro Oficina, de Zé Celso, para “O rei da vela”, de Oswald de Andrade. 

Por seu trabalho no teatro, ganhou prêmios Molière de cenários por “Antígona”, do Grupo Opinião (1969), “O percevejo”, de Vladímir Maiakóvski (1981); e “Grande e pequeno”, de Botho Straus (1985). 

Eichbauer teve grandes parcerias também no cinema, como com Glauber Rocha em “Dragão da maldade contra o Santo Guerreiro”; Arnaldo Jabor, em “Tudo bem”; Joaquim Pedro de Andrade, em “O homem do Pau-Brasil”; e Bruno Barreto, em “Gabriela”. E na música, que começou na cenografi a de “Calabar” (1980), de Chico Buarque e Ruy Guerra, proibida pela censura, seguiu trabalhando com Chico, que o convidou para “Tempo e contratempo” e “Caravanas”, por exemplo. Com Caetano Veloso, fez cenários de várias turnês, como de “O estrangeiro”, que tem cena de “O rei da vela” na capa do disco, e do recente “Ofertório”, show do baiano com os filhos Moreno, Zeca e Tom. “Esse sol que nos ilumina vem do gênio de Hélio Eichbauer. Estou profundamente triste. Minha alegria é ter convivido tantos anos com ele. Todo cultura, todo inteligência, todo delicadeza, todo amor”, escreveu Moreno nas redes sociais. 

“Um irmão mais do que querido, um agradabilíssimo parceiro em tantas produções: a cenografia de ‘Orfeo’, a primeira ópera que concebi e dirigi em 1984; ‘Porgy and bess’; ‘Fedra e Hipólito’; ‘O escravo’, com que viajamos pelo Brasil inteiro em 1999; a preparação primorosa dos técnicos para o Teatro Arthur Azevedo, que contou com sua direção técnica na reinauguração e permaneceu mais quase dois anos; a direção de arte de ‘Kuarup’, filme de Ruy Guerra; e o balé multimidia ‘Terra Brasilis’, que levamos até a Itália”, enumera Fernando Bicudo, presidente do Theatro Municipal do Rio.  “Com extrema tristeza e imensurável dor no coração”, Bicudo conta que estava trabalhando com Helio na direção de arte de “Amor azul”, ópera de Gilberto Gil que vai estrear no Municipal em 2019. Eichbauer era casado com Dedé Gadelha Veloso, primeira mulher de Caetano Veloso e mãe de Moreno. Seu corpo será velado amanhã no Memorial do Carmo, no Caju, a partir das 10h e a cremação acontece às 16h.