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Bolero dá o tom do novo musical de Artur Xexéo

Françoise Forton e Aloísio de Abreu interpretam amor entre radialista e ouvinte

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Das luzes da capital francesa, o último tango varia para o bolero. Um ano depois de encerradas as apresentações de “Nós sempre teremos Paris”, Aloísio de Abreu e Françoise Forton voltam a encenar um casal em musical escrito por Artur Xexéo: “Minha vida daria um bolero” entra em cartaz hoje no Teatro Sesc Ginástico, no Centro. “Optei por só usar boleros, mas acabei incluindo um tango”, admite o  jornalista, que passou a se dedicar ao teatro musical e já chega à sua 13ª montagem, com nove textos de sua lavra e quatro adaptações. Neste musical, ele usa a sofrência dos boleros para contar a história de amor platônico entre um solteirão e uma radialista. 

Françoise vive Diana, a apresentadora do programa em que faz um consultório sentimental combinado a canções desse gênero musical exacerbadamente romântico, muito popular na América Latina da primeira metade do século passado. No dia em que é abandonado no altar por sua noiva, Orlando passa a ouvir o programa e se envolver com a apresentadora. 

Com personalidades opostas, eles se relacionam durante 20 anos à distância, embalados por boleros como “Tú me acostumbrastes”, “Solamente una vez”, “Angustia” e o inevitável “Besame mucho”, até descobrirem que é possível se apaixonar por voz. "Quando o Orlando liga para o programa, a Diana se apaixona pelo tom de voz dele”, frisa Paulo Denizot, que, além de assinar a iluminação, estreia na direção, junto a Rubens Camelo.

“Foi uma espécie de recorde na montagem de uma peça. Desde que começamos a ensaiar, foram pouco mais de 20 dias”, ressalta. E deu tempo de acertar tudo? “Muita gente da equipe trabalha junta há um bom tempo e isso facilita as coisas. A Françoise e o Aloísio já estavam contracenando em ‘Nós sempre teremos Paris’, o que dá uma intimidade de cena. Rubens Camelo é meu parceiro de quase dez anos. Desde o camareiro até a direção de produção, formamos uma espécie de família teatral à antiga, quase que uma companhia de teatro, embora não sejamos uma companhia formalmente”, compara Denizot. “Além disso, trabalhamos, em média, dez horas por dia; às vezes, chegando a umas 12”, acrescenta. 

Quem também é deste grupo são dois músicos que tocam, ao vivo, os 12 boleros e um tango, cantados por Françoise e Aloísio. 

TRANSIÇÃO DE RITMOS DE PARIS AO PARAGUAI

O pianista Itamar Assiere e o percussionista Diego Zangado formam a dupla de músicos da peça. Já os atores tiveram preparação vocal de Paula Santoro e direção de movimento de Marina Salomon. Carlos Alberto Nunes assina o cenário e Clívia Cohen, os figurinos, com visagismo de Fernando Cazione e programação visual de Felipe Braga. O design de som ficou por conta de Junior Brasil. 

Ainda em relação à música, Denizot conta ter aprendido “que conhecia várias canções, das quais não sabia o nome”, brinca. “Uma das ideias do Xexéo é de mexer com a memória afetiva das pessoas, daquela música de que você se lembra da infância, quer seja por seus pais ou avós, e começa a cantar”, resume. 

O ator, por sua, conta que aprendeu a dançar. “Com a Lucilene, da academia Jaime Arôxa, e Bianca Gonzalez, aprendi a dançar tango e bolero e, agora, aos 57 anos, virei aluno de dança de salão, algo que vou levar pro resto da vida”, garante Aloísio de Abreu. “A dança de salão tem toda uma ética, uma maneira de ocupar os espaços da parceira, deixando o espaço dela também. Tem a dança e a contradança, ensina a ouvir mais, abrir mão do espaço. Vou levar isso para todas as outras áreas da vida”. 

“Também tive de aprender algumas músicas que eu não conhecia, mas falo bem espanhol e tenho entrosamento com a Françoise, desde ‘Paris’, que, mesmo com intervalos, ficou cinco anos em cartaz”, acrescenta. 

“Foi um exercício de dedicação total”, diz Françoise, sobre a montagem a toque de caixa. Em relação a ‘Paris’, a atriz de 61 anos, filha de franceses, ressalta a passagem para “um outro ritmo musical, outro sentimento e outra língua e a descoberta disso tudo como emoção”. 

E o que dizer de Rubens Camelo, que dividiu a direção com Denizot mesmo estando em cartaz, como ator, em São Paulo, com “Agosto”, do americano Tracy Letts? 

Ele diz que tal experiência, aos 56 anos de vida e “uns 30 no teatro” foi de uma correria inédita, mas que a experiência de trabalho com Denizot facilitou o trabalho em ritmo de ponte aérea, assim como a tarimba do colega como iluminador.

“Ajudou, por exemplo, para a gente acertar uma das coisas que exigem mais cuidado, que é de colocar a luz na hora certa da música, não pode haver diferença no andamento”, exemplifica Camelo. 

“Da minha parte, gosto muito, além das questões técnicas, de participar da preparação dos atores e acho que, mesmo, nesse vaivém entre Rio e São Paulo, contribui para deixá-los mais à solta para interpretar o texto e as canções e brincar com a história e com as emoções que passam para a plateia”, detalha.

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Serviço 

MINHA VIDA DARIA UM BOLERO. TEATRO SESC GINÁSTICO. Avenida Graça Aranha, 187 -  Castelo; Tel.: 2279-4027. De hoje a 5/8. De quinta a sábado, às 19h, e domingo, às 18h. Ingressos a R$ 30 (inteira), para 513 lugares. Bilheteria de terça a domingo, de 3h a 20h. Classi?cação: 12 anos.