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Faixa Preta em criatividade: Cavídeo promove festival de novos longas

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Retrato afetivo da cena musical responsável pela revitalização da Lapa, a partir dos anos 1990, o documentário “Semente da música brasileira”, de Patrícia Terra, vai inaugurar amanhã, no Estação Net Botafogo, um festival de pré-estreias que mapeiam as atividades de um dos mais produtivos núcleos de produção do cinema nacional, nas últimas duas décadas: a Cavídeo. 

Fundada pelo judoca e cineasta Carlos Vinícius “Cavi” Borges, de 42 anos, a partir de sua locadora homônima de DVDs, na Cobal do Humaitá (aberta até hoje), a produtora chega à maioridade, 21 anos, e vai comemorar o aniversário com uma mostra de longas inéditos de amanhã ao dia 25, sempre às 21h. 

Serão exibidos poéticos ensaios de geopolítica como “Cidade invisível”, de Terêncio Porto, “Vende-se esta moto”, de Marcus Vinícius Faustini, e “Bandeira de retalho”, que marca a volta do músico Sérgio Ricardo ao posto de cineasta. O também veterano Noilton Nunes entra neste pacote com o esperado “Sigilo eterno”. Há anos fora dos tatames profissionais do judô brasileiro, Cavi assina a direção de “Heróis” e “Salto no vazio”, feito em parceria com sua mulher, a atriz e também diretora Patrícia Niedermeier. 

Este ano, a Cavídeo já começou brilhando lá fora ao emplacar o .doc de tintas biográficas “Neville D’Almeida – Cronista da beleza e do caos”, de Mario Abadde, no Festival de Roterdã, na Holanda, onde o longa foi cercado de elogios. “Os príncipes”, de Luiz Rosemberg Filho (um mestre da década de 1970), que Cavi produziu, saiu com um balde de troféus do Cine PE, em Recife. “Nosso maior prêmio  é conseguir continuar a fazer filmes, trabalhando com o cinema neste país que apoia tão pouco a nossa cultura”, diz Cavi. 

Na entrevista a seguir, ele dimensiona seu trabalho nas telas: 

JB: O que este coletivo de ?lmes representa sobre a atual realidade do cinema nacional, em estética e em modelos de produção?  

Cavi Borges: Esses sete longas em pré-estreia, que vão ser exibidos na Mostra Cavideo 21 Anos, representam um trabalho coletivo, que junta gerações diferentes e realizadores diversos, em torno de um objetivo comum: filmar e fazer filmes independentes e criativos. É a marca registrada da Cavídeo. São filmes que não estão amarrados no modelo tradicional de produção e nem dependem da ajuda do governo e dos editais. 

Qual é o maior desa?o de se manter uma locadora como a Cavídeo aberta hoje e como ela se articula com a produtora? 

Atualmente, eu penso a Cavídeo como um “conglomerado”, que junta a locadora, a produtora e a distribuidora. Em tempos passados, a locadora era mais rentável e ajudava na consolidação da produtora e da distribuidora. Hoje, isso se inverteu. Mas ainda é fundamental manter esses três pilares em produção. Eles sempre auxiliaram um ao outro. Sobre a locadora, eu penso sempre em diferenciais para mantê-la funcionando: filmes raros, eventos, parcerias com cineastas e clientes, além de procurar fazer da locadora muito mais um ponto de encontro de cinéfilos do que um negócio.  Os diretores mais alugados ainda são os pops Tarantino, Scorsese, Spielberg. Mas diretores cults, como Béla Tarr, Cassavettes e Pedro Costa também são muito procurados. Dos brasileiros, o destaque fica com Gabriel Mascaro, Kleber Mendonça e o mestre Nelson Pereira dos Santos.

APRENDIZADO QUE NÃO ESTÁ NOS LIVROS DE CINEMA

Qual é a maior lição que você tira ao produzir os mestres que você tem auxiliado? E o maior desa?o? 

Aprendizado e lições são constantes. Cada história vivida por eles, contada em forma de “causos”, serve como se fosse uma aula do nosso cinema. Uma aula daquilo que não está escrito nos livros de cinema. O maior desafio é mostrar para nossos mestres que podemos contribuir e somar apesar da nossa menor experiência e idade. É importante mostrar que essa troca e diferença das gerações pode ser extremamente positiva e rica para ambos os lados.   

Como é que uma produtora do tamanho da Cavídeo consegue se manter? 

Como os orçamentos de nossos filmes são muito baixos, temos que produzir muito para ganhar um pouquinho em cada filme, em cada projeto. Atualmente, a Cavídeo é uma das produtoras que mais fazem filmes (são dez por ano) e mais lança filmes nos cinemas (quatro por ano). Isso é muito legal, mas exige muito trabalho, dedicação e sacrifício. Mas, no fim, vale muito a pena. 

Quantos ?lmes a Cavi já produziu em 21 anos e que longas ela lança este ano?  

Ao todo, foram 62 longas e 142 curtas, além das séries, videodanças e videoclipes. E ganhamos cerca de 180 prêmios em festivais nacionais e internacionais. Este ano, nós já lançamos uns cinco longas novos em festivais: “Neville D’Almeida – Cronista da beleza e do caos”, de Mario Abadde; “Quebranto”, do Zé Sette; “Marcos Medeiros - Codinome Vampiro”, do Vicente Duque Estrada, “Os príncipes”, de Luiz Rosemberg Filho; e “Bandeira de retalhos”, do Sergio Ricardo. Temos agora esses sete na Mostra da Cavídeo e, até o fim do ano, teremos outros três. Devemos chegar a um total de 15.  Vai ser um ano de muito trabalho. Que bom!

* Roteirista e presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ)

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PROGRAMAÇÃO

Amanhã, às 21h30 

“Semente da música brasileira”, de Patricia Terra. Produção de Cavi Borges. O documentário mostra a história do bar que virou reduto da nova geração de sambistas e músicos na Lapa e foi o principal responsável pela revitalização da área. Yamandú Costa, Teresa Cristina, Zé Paulo Becker, Moyses Marques tocam e dão depoimentos no filme. 

Sexta-feira, às 21h30 

“Cidade invisível”, de Terêncio Porto. O documentário parte da vinda da Família Real portuguesa para o Rio em 1808, para propor uma arqueologia às avessas ao questionar o mito da Cidade Maravilhosa e a irreverência do carioca.

Sábado, às 21h30 

“Salto no vazio”, de Cavi Borges e Patricia Niedermeier. Filmado em seis países (Brasil,  Estados Unidos, Alemanha, Síria, França e Hungria), o longa mistura dança, performance e videoarte mostrando a história de um casal de artistas viajando e criando pelo mundo.

Domingo, às 21h30 

“Heróis”,  de Cavi Borges, que também assina o roteiro. O documentário conta a história de três judocas olímpicos: Rafaela Silva, campeã olímpica no Rio 2016; Popole Misenga, atleta refugiado do Congo; e Rogério Sampaio, campeão olímpico em Barcelona 92.

Segunda (23/7), às 21h30 

“Bandeira de retalhos”, de Sérgio Ricardo. Produção executiva de Cavi Borges. No fim dos anos 1970, comunidade do Morro do Vidigal se junta para impedir sua remoção por políticos corruptos. 

Terça (24/7), às  21h30 

“Vende-se esta moto”, de Marcus Vinicius Faustini. Produção de Cavi Borges e Carol Dib. Xeu e Lidiane terão um filho e ela faz pressão para que ele venda sua moto e consiga outro emprego. Só que a notícia da gravidez e a visita de Xeu a um primo na Maré trazem instabilidade para a relação.

Quarta (25/7), às 21h30 

“Sigilo eterno”, de Noilton Nunes. Produção de Cavi Borges. A ficção ecológica marca 50 anos de carreira do diretor. O filme acompanha as aventuras de uma jovem diplomata durante a Conferência do Clima em Paris e faz um brado de alerta contra o perigo da destruição da natureza.