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Novos papéis para papelarias: confronto com era digital muda conceito das lojas

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Papelaria sempre foi o tipo de comércio com adeptos apaixonados. O Rio de Janeiro já contou com a grande Casa Cruz, no Largo de São Francisco, com uma irresistível variedade de produtos para artes plásticas, bonecas de papel, lápis de cor de muitas marcas. Se o objetivo era material escolar, incluía-se a tumultuada visita, com intermináveis listas, a uma das filiais da Casa Mattos, no princípio do ano escolar. 

Atualmente, o mundo encantado dos papéis tem poucas fortalezas. Entre as mais antigas, a Casa Cruz, em Ipanema, ou a Iracema, em Copacabana, ainda ostentam vitrines com artigos variando de arquivos, pastas e cadernos até imagens de santos. Nos shoppings, a rede Jou Jou representa uma versão mais nova do setor, com ítens de Natal, Páscoa, sugestões de presentes _ mas ainda atrai pela variedade de papéis coloridos e os lápis de cor avulsos importados.

Foco no afeto 

Só que a era digital invadiu a área, assim como fez com as livrarias. Se nestas, o livro foi substituído pelo Kindle, e o Kindle, rapidamente, pelo celular, nas papelarias a mudança foi mais detalhada. Como diz Maria Eliza Correa de Araujo, a Márica, proprietária da Papel Craft, “lembra que tínhamos uma bancada de papel de carta colorido? E quem ainda monta álbum de fotos? Agora, é tudo online, virou um luxo receber parabéns pelo telefone, é pelo WhatsApp e olhe lá!”. 

Em 24 anos de atividade, a Papel Craft tem lojas em vários pontos da cidade, nos principais shoppings. Convidada a se instalar no Iguatemi, em São Paulo, abriu depois no Market Place e no Villa-Lobos, foi eleita a melhor papelaria de São Paulo. Neste ponto, Márica começou a entender a importância do afeto. “Reparei que as pessoas vinham em busca de produtos mais significativos. Um cartão com frases bem-humoradas, produtos com mensagens para presentear uma amiga hospitalizada, do tipo “tudo vai dar certo”, “tamo junto”. O conceito de lifestyle mudou: em vez de ser o escritório, ampliou para a casa. Dali, pensamos na roupa, um estilo para ficar em casa, usar com Havaianas”. 

A meta é o conforto, são looks em geral de malha ou viscose com estampas exclusivas, muito coloridas. Calças largas, túnicas soltas, vestidos retos, quase sempre em tamanho único, com preços a partir de R$ 300. “Não queremos competir com o mercado de moda, ter preços de R$ 700”, completa Márica. Mas, aproveitando a parceria com os óculos da Zerezes, a roupa caseira da Papel Craft vai para a rua, para a praia, para a faculdade. De preferência com um caderninho dentro da bolsa.

Nas cores internacionais 

A Cícero foi fundada há dez anos, apostando no consumo de cadernos e caderninhos estilo Moleskine, com muito estilo. Começou com os cadernos criados pelo próprio Cícero Pedrosa, que inventava produtos com capa de papel kraft, lombada espiral, para seus estudos na PUC. Os colegas queriam iguais, e acabou nascendo a gráfica/indústria em São Cristóvão, com vendas divididas entre o atacado, espalhadas por todo o país e no e-commerce. 

Não só os colegas da PUC valorizaram a Cícero. Há dois anos, um e-mail mudou o rumo da marca. Veio da Pantone, a empresa americana responsável pelo lançamento das cores para diversos setores - moda, decoração, indústria automobilística, entre outros, que descrevia a Cícero como muito interessante, valendo a sondagem para uma parceria. A primeira internacional da Pantone, com contrato de dois anos para, em princípio, adaptar as cores aos cadernos. 

“Nos deram a liberdade de escolher as cores básicas. Aprendemos a lidar com este tipo de empresa, e decidimos criar novos produtos, tudo feito por uma equipe de costura na fábrica, aqui no Rio. Enviamos para aprovação em Nova York, deu tudo certo. A bolsa Tote Bag, por exemplo, é um sucesso. E os produtos são da Cícero, com as cores da Pantone.”

Além da sacola, dos cadernos de vários tamanhos, do estojo, da nécessaire, do tag de viagem, de roupas com as cores e respectivos números no grande catálogo americano, a Cícero parte para mais uma empreitada, a linha escolar. “De 5 a 8 de agosto, estaremos na Feira Escolar, mostrando as primeiras coleções tanto para o aluno que está aprendendo a escrever como para o pessoal das faculdades. O mercado possui regras, o miolo deve ser clássico, pautado. Já lançamos o quadriculado, o pontado, mas vamos entrar com calma, primeiro só o pautado. Queria que todos os alunos tivessem a oportunidade de ter um Cícero”. 

Abrir varejo próprio ainda está na fase de planos. Mas Cícero Pedrosa dirige uma empresa inquieta e pretende continuar crescendo. O digital não vai destruir o papel. Uma prova: vendemos cada vez mais agendas!”