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Pablo Trapero regressa às telas com ‘La quietude’, que deve disputar o Leão de Ouro pela Argentina

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Um dos poucos filmes latino-americanos na lista de apostas da imprensa europeia acerca dos potenciais concorrentes ao troféu Leão de Ouro do Festival de Veneza 2018 (29 de agosto a 8 de setembro) vem da Argentina e é encarado pelos exibidores “hermanos” como um blockbuster nato, quiçá o maior de lá este ano: “La quietud”. Previsto originalmente para maio, o novo longa-metragem de Pablo Trapero – responsável pelo fenômeno de bilheteria “O clã”, visto por 2 milhões de pagantes só na pátria natal do cineasta em 2015 – mudou de data para o segundo semestre, de olho nas gôndolas venezianas e nos pesos dos argentinos. 

Martina Gusman – mulher e atriz-assinatura do diretor, aclamada mundialmente por “Leonera” – divide o protagonismo com a francesa, nascida em Buenos Aires, Bérénice Bejo, indicada ao Oscar por “O artista”, em uma história sobre lavação de roupa suja em família. Edgar Ramírez, o Gianni Versace, da série “American Crime Story”, também está no elenco. 

“Melodrama é um conceito muito tipificado nas Américas, por conta de décadas de uso com foco nas lágrimas, naquilo que existe de mais mundano mas que nos faz chorar, pelo risco da perda. Meu desafio aqui, diante de toda a tradição mais realista e documental que tenho com a violência, foi buscar um novo caminho para o folhetim a partir do que existe e surreal na vida de duas irmãs em crise. Neste momento, eu ainda estou terminando a montagem, buscando saber melhor aquilo que as meninas e eu fizemos juntos, tentando falar de família, ou de fraternidade”, explicou Trapero ao JORNAL DO BRASIL. 

Poucos trailers de filmes hispânicos previstos para estrear em 2018 tiveram tanta repercussão quanto o de “La quietud”, em parte pela popularidade de seu elenco. Graciela Borges, uma das divas do cinema argentino, vive Esmeralda, a mãe de duas mulheres (Martina e Bérénice) na casa dos 40 anos que se digladiaram no passado por um trauma de juventude. Ao se reencontrarem, elas buscam uma harmonia possível, mas fantasmas de tempos antigos virão assombrá-las. “Construímos essa linha melodramática como um thriller”, disse Trapero. 

“Cada vez que a gente filme, estamos mais maduros, sobretudo na relação com o naturalismo inerente ao modo latino de atuar, diante de tudo o que a TV nos ensinou, A questão aqui não é buscar o que existe de nós nessas personagens, mas sim explorar camadas de sentido e de tensão inusitadas, para nós e para o público”, acrescentou Martina. 

Com clima de tensão, “La quietud” está sendo finalizado no momento em que Trapero comemora seus 25 anos de cinema: sua estreia se deu em 1993, com o filme “Mocoso malcriado”. De lá pra cá, sobretudo a partir dos elogios conquistados por “El bonaerense – O outro lado da lei” (2002) em Cannes, ele estabeleceu seu nome como um dos renovadores da estética realista latino-americana. 

Seus temas: conflitos familiares e bolsões de violência institucionalizada, expressos de modo autoral em cults como “Abutres” (2010) e “Elefante branco” (2012). “A realidade é que me abre o caminho para a invenção. Eu começo meus filmes, quase sempre, com ferramentas documentais, utilizando-as para criar um espaço de investigação. E parto dessa pesquisa inicial para construir as bases da minha ficção”, explica Trapero. “Há muitos cinemas na Argentina hoje. O meu tem um traço investigativo sobre as instituições que deveriam nos garantir algum conforto, como a família”.

Ao mesmo tempo em que estiver acomodando “La quietud” em suas salas de exibição, o circuito argentino vai estar às voltas com o regresso de seu maior muso, Ricardo Darín, às telas, em “El amor menos pensado”, comédia romântica de Juan Vera. Na produção, ele e Mercedes Morán encarnam um casal que se separa depois de quase 30 anos de união. “É bom seguir filmando na nossa língua, buscando histórias nossas”, disse Darín. “Tem muito personagem bom nas ruas da Argentina. É bom dar voz a eles”.   

*Roteirista e presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ)