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Paulo Mariotti lidera sucesso de ilustrações na Europa

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A rotina do jornalismo de moda inclui algumas horas de espera para assistir a desfiles, entrevistar modelos e estilistas nos camarins, aguardar até que os profissionais de beleza concluam seus trabalhos. Em geral, um tempo que rende mais novidades, em conversas e observações. 

Durante uma destas esperas, conheci um colega que igualmente cobria semanas de moda na Europa. Brasileiro, estava prestes a embarcar para o Rio de Janeiro, para lançar um livro de desenhos feitos a caneta Bic, retratando ruas, aeroportos e ambientes cariocas. 

Como assim, desenhos com Bic? Enquanto a coleção não aparecia, trocamos figurinhas sobre a facilidade de desenhar com as esferográficas _ ele gosta da azul, clássica, eu prefiro a preta _ e soube mais sobre o talento do baiano Paulo Mariotti, colunista da “Vogue Brasil”, integrante de mesas do canal GNT. 

Formado em Artes Gráficas (mais um ponto comum!), em 1991 mudou-se para Paris, onde cursou Letras na Sorbonne. “Curiosamente, o jornalismo foi decorrência da ilustração na minha carreira. Na ‘Vogue Brasil’, meu primeiro contato foi com Graziela Peres, então diretora de arte da revista, que me convidou para fazer um editorial de moda em ilustração, algo raro nas revistas brasileiras. A partir daí, conheci o Ignácio de Loyola Brandão (então diretor de redação), que me convidou para ser correspondente em Paris”, explicou Paulo Mariotti. 

Mas nem sempre a esferográfica é a ferramenta. Além desta técnica minimalista e monocromática, há o estilo colorido, pop, feito inteiramente digital, que começou a fazer sucesso na revista francesa “Ideat”, editada também na China e na Alemanha. Desde 2015, Paulo desenvolve também obras para a Image Republic, empresa especializada em reproduzir imagens de fotógrafos e ilustradores, sempre com impressão e papel de alta qualidade. As cenas de ruas de Paris e outras cidades, como Palm Springs, provocam até tardes de autógrafos em lojas de departamentos como a Conran Shop e o BHV, de Paris. 

“Nestes momentos encontro pessoas que queriam me conhecer, porque colecionam meus desenhos! Sempre me perguntam quanto tempo levo para criar e realizar uma imagem. Tanto para as imagens coloridas quanto para as monocromáticas, tudo é muito relativo. Posso levar um dia ou dois para uma imagem complexa ou uma semana, ou duas – e às vezes até mais - para uma imagem simples – geralmente as mais difíceis de fazer. Não há regras são tantos fatores em jogo… motivação, inspiração - sim, isso existe – condição física da hora. Porque desenhar é um trabalho ao mesmo tempo intelectual e físico, principalmente no nível de precisão que busco nas minhas imagens. 

Outra etapa é a exposição. Galerias em Bruxelas, Roma, Londres e Viena exibiram suas obras. Graças à temporada londrina surgiu o convite para realizar duas ilustrações do Rio para uma marca britânica chamada Frescobol Carioca (mais uma novidade das esperas de desfiles, nunca tinha ouvido falar), que vai lançar coleção cápsula com duas camisetas e dois shorts. Lisboa será o alvo do próximo projeto. O Brasil também está nos planos, ainda em fase de agenda e local para expor. 

Enquanto isso, Mariotti segue sendo o campeão de vendas de ilustrações impressas pela Image Republic no BHV, grande loja de departamentos de Paris. Os colecionadores têm razão: o toque de precisão quase fotográfica e o encanto de figuras que lembram a moda representam a união do talento com a tecnologia dos computadores. 

“Quando o desfile finalmente começa, tenho uma nova história. Daquelas que dão vontade de ter paciência para desenhar com a caneta macia sobre uma tela eletrônica.”