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Crítica: A vida extraordinária de Tarso de Castro

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Na berlinda da moral 

Pautado pelo bom humor e por uma lúcida mirada histórica sobre a arte da imprensa, “A vida extraordinária de Tarso de Castro” é muito mais do que um filme-retrato: é um painel de época sobre as incongruências morais do jornalismo brasileiro nos anos 1960, 70 e 80. É um documentário que se candidata ao posto de matéria de estudo obrigatória para futuros repórteres não apenas por registrar o lado gonzo (em primeira pessoa, e uma primeira pessoa quase sempre alcoolizada) de se correr atrás da notícia, mas por resgatar a dimensão literária de um texto de jornal ou revista. Jaguar, Eric Nepomuceno e Luiz Carlos Maciel ajudam a dar a medida de quem foi o jornalista e escritor gaúcho, morto de cirrose aos 49 anos, em 1991, responsável, entre outras façanhas, pela criação de “O Pasquim”. A revista foi um sopro de Iluminação (com “I” maiúsculo) na Idade das Trevas da ditadura militar, fazendo da irreverência um antídoto contra a censura e intolerância de farda. 

Há muito memorialismo em cena no longa de Leo Garcia e Zeca Brito, sobretudo no garimpo de imagens de arquivo. Há um interesse especial pelas pitorescas formas de agir de Tarso: sua forma de abordar seus entrevistados é provocativa, fazendo do escracho um método quase poético de intervenção e de troca. A edição favorece o riso e os afetos mais tenros e ternos, sem diminuir a abrasividade de seu documentado. (R.F.)

Cotação: *** (Bom)