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Pinakotheke traz ao Rio obras de Brecheret e artistas da Semana de 22

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O curador Max Perlingeiro quase sai pela tangente quando o assunto é o tempo investido na organização da mostra “Victor Brecheret (1894-1955)”, que acaba de inaugurar na Pinakotheke, em Botafogo. A exposição, que enfatiza o entendimento da Semana de Arte Moderna de 1922 através do legado de Brecheret, levou seis anos para acontecer agora no Rio. “Vão dizer que foi muito”, crê. Nem tanto. O prazo, regulamentar para organizar mostras na Europa, é justificado pela exuberância do conjunto que está sendo apresentado no centro cultural. 

São 41 peças entre desenhos e esculturas, além de instrumentos do ateliê do artista, a ? m de reproduzir o modo de trabalho do imenso criador nascido em Farnese, perto de Roma, e que morreu em São Paulo. “Uma preocupação na montagem foi apresentar as esculturas em possibilidade de serem apreciadas pelo público em 360º”, explica. Parte das obras foi cedida por colecionadores particulares, além das que vieram do Instituto Victor Brecheret. 

A exposição também reúne peças de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Menotti del Picchia, John Graz, Vicente do Rego Monteiro, Helios Seelinger e Zina Aita, totalizando 54 obras no circuito expositivo, que propõe demonstrar um recorte da Semana de 1922. O itinerário já começa pelo jardim da Pinakotheke, onde repousa “Morena”, escultura em bronze de quase uma tonelada. 

Depois de montar uma “operação de guerra”, em suas próprias palavras, para fazer o transporte com segurança e atendendo normas técnicas, o curador prevê que o período de visitação vá ser prorrogado para além de 14 de julho. Tempo para os visitantes poderem conferir um grupo singular, formado pelas obras “Penhascos”, “A onda”, “Mulher de cabelo verde”, de Anita Malfatti, “Nu masculino”, “Marinha”, “Monhegan” e “Homens trabalhando”, de Zina Aita - artista mineira de origem italiana que forma com Malfatti o ângulo feminino da mostra. 

Há uma pintura sem título de Di Cavalcanti e o desenho “Carnaval”. De John Graz, é exibido “Paisagem de Espanha” e, de Vicente do Rego Monteiro, “Cabeças negras”. Um painel de 1,80m apresenta a obra sem título de Helios Seelinger. “Várias dessas obras foram expostas na Semana de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo”, assegura Perlingeiro. 

Para acompanhar a exposição, a Pinakotheke editou um catálogo com texto analítico do crítico Tadeu Chiarelli. Na edição bilingue português/inglês, de 127 páginas e muitas reproduções, o crítico Tadeu Chiarelli aprofunda a análise do legado de Brecheret (R$ 80). “O objetivo da mostra não é apresentar uma retrospectiva exaustiva da obra de Brecheret. As esculturas e desenhos apresentados traçam um arco da trajetória do artista”, ressalta. 

Neste universo de referências estão os trabalhos inaugurais do escultor que, iniciante, chamou a atenção de “estranhos”, um grupo formado por ninguém menos que artistas e intelectuais do calibre de Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Helios Seelinger e Menotti del Picchia que, de passagem pelo Palácio das Indústrias, foram conferir seu ateliê. Chegaram a levar o crítico Monteiro Lobato para ver as obras. Desavisado, Lobato posou seu chapéu numa escultura. Brecheret jogou longe, sem cerimônia. “Era um italiano típico, sangue quente”, conta Perlingeiro. A mostra apresenta obras como “Ídolo”, “Zebú”, “Mãe”, “A luta da onça com o tamanduá”, “Acalanto de Bartira”, “Banho de sol”, “Beijo”, “Cabeça de mulher”, para destacar algumas do amplo conjunto. 

A ascensão de Brecheret começou através de menções do poeta e jornalista Menotti del Picchia na imprensa. “Sob o pseudônimo de ‘Helios’, uma homenagem ao amigo carioca Helios Seelinger, o ‘boêmio esteta dos sucessos ruidosos’, segundo o próprio Menotti, passou a publicar entre 1920 e 1921 no ‘Correio Paulistano’, uma série de crônicas, tendo Brecheret como o artista de suas atenções”, destaca Max. Menotti comparou o escultor à falange de individualidades impressionantes como Gustav Klimt, Lederer, Franz Mertzener, Anton Hanak, Arturo Dazzi, Antoine Bourdelle, Mirko Basaldella e Ivan Mestrovic. 

Além de Menotti, Monteiro Lobato também se entusiasmou e publicou na “Revista do Brasil” duas esculturas de Brecheret, assombrado com sua pouca idade: “Extremamente novo ainda, vinte e dois anos apenas” (...) honesto, fisicamente sólido, moralmente emperrado na convicção de que o artista moderno não pode ser um mero ‘ecletizador’ de formas revelhas e há de criar arrancando-se do autoritarismo clássico, apresenta-nos como a mais séria manifestação de gênio escultural surgida entre nós”. 

O conceito da exposição é baseado na biografia a do artista, desenvolvida a partir de três módulos: “Brecheret: do Palácio das Indústrias à Semana de Arte Moderna”, “A escultura: técnicas e processos” e “Arte indígena e as pedras de seixos rolados”. 

Nascido Vittorio Breheret, adotou o nome artístico no Brasil. Veio da Itália aos 10 anos, morou em São Paulo e retornou para estudar em Roma aos 16. De volta a São Paulo, procurou o arquiteto Ramos de Azevedo, construtor do Theatro Municipal, que o convidou a montar seu ateliê no recém-inaugurado Palácio das Indústrias.

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SERVIÇO

“Victor Brecheret (1894 – 1955)” Pinakotheke Cultural (R. São Clemente 300 – Botafogo; Tel.: 2537-7566) Seg. a sex., das 10h às 18h. Sáb., das 10h às 16h Entrada franca Até 14/7 Visitas escolares poderão ser agendadas por telefone Estacionamento gratuito