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Regina Miranda coordena conferência mundial do método Laban e estreia espetáculo em Nova York

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Regina Miranda vive em movimento. Agora ainda mais. A renomada coreógrafa carioca está prestes a fechar seu apartamento em Nova York, entregando junto com as chaves uma sólida trajetória dedicada ao Instituto Laban/Bartenieff, que  completa 40 anos. O centro abriga atividades em torno do complexo método voltado aos estudos das expressões corporais, no qual ela é uma das principais autoridades no mundo. A volta definitiva para o apartamento na Lagoa, ali pertinho do Parque Lage, acontece no segundo semestre. 

“Encerro agora com fecho de ouro este longo período de ponte aérea Rio/NY/Rio, sobretudo cuidando da coordenação da Conferência Internacional Laban deste ano”, conta. O encontro será entre 31 de maio e 2 de junho, apresentando mais de 70 palestrantes, 26 workshops e o Ecopoetic, evento artístico reunindo 17 coreógrafos internacionais. A conferência será no Hunter College, no Marriot Residence Hotel, no Bryant Park Hotel e no próprio Instituto. “Como há uma grande relação entre os profissionais do campo labaniano brasileiro e o Instituto Laban de Nova York, dez profissionais do Brasil estarão na cidade para apresentar suas pesquisas artísticas e educacionais na conferência e vários vão também se apresentar no Ecopoetic”, conta.

 Além da dedicação ao método Laban/Bartenieff, Regina Miranda se desdobra para dar conta da agenda cheia lá e cá. Dia 5 de maio ela dirige a montagem brasileira “Hilda & Freud”, peça de Antonio Quinet, com o psicanalista e a atriz Bel Kutner em cena, que já cumpriu temporada no Rio. Será na Jefferson Market Library. No segundo semestre, assina a coreografia e direção de movimento da peça-performance “O evento”, do escocês David Greig, ganhadora do grande prêmio do Festival de Edimburgo, um dos maiores do mundo.

 Regina diz que “há uma bela coincidência, digna de retrospectiva” envolvendo seu retorno definitivo ao Rio.  Em 1978, quando voltou à cidade, depois de uma temporada inicial em Nova York, era uma jovem profissional formada no Laban Institute (Lims) e começou a introduzir o Sistema Laban no Brasil. É a primeira profissional brasileira formada pelo Instituto de Nova York, diretamente por Bartenieff. Em seguida, passou a ensinar, dar palestras e formar a própria companhia. 

“Quarenta anos depois, embarco novamente ao Brasil, agora como uma das vozes mais influentes no campo labaniano internacional, mas achando que já contribuí o bastante para a instituição nova-iorquina. É uma boa hora para continuar a desenvolver minha trajetória no Brasil. Minha alegria e meu foco estão na minha volta ao país e nos projetos que ja desenvolvi como ‘Moda e Movimento’, em parceria com a estilista Luiza Marcier, que aconteceu em março na Casa França-Brasil”. 

A direção artística do projeto Ecopoetic pede fôlego. Cada detalhe da reunião de 17 coreógrafos de todo o mundo, em apresentações performáticas simultâneas no Washington Square Park, dia 1º de junho, está sob sua orientação. É parte da Conferência Internacional Laban. Estarão presentes bailarinos do Brasil, Irlanda, Bélgica e Alemanha. Do Brasil, além da Cia Regina Miranda e Atores Bailarinos, estarão também Luciana Bicalho, Lígia Tourinho e Bruna Fiúza. 

Sonho realizado 

A construção de uma base fora do país fez parte de um sonho da juventude. “Desde a adolescência quis ter uma vivência artística local e internacional. Sem desejar interromper minha vida pessoal e artística no Brasil, estabeleci uma rotina de viagens constantes que, com a ajuda da Internet, me permitiu estar presente em dois lugares ao mesmo tempo”, lembra Regina. Durante 17 anos, conseguiu manter a paixão e disciplina necessárias para administrar duas casas e atuar profissionalmente nas duas cidades. “Foi um período muito rico e dinâmico: enquanto Nova York me permitiu vivenciar culturas diferentes, apreciar a arte de vários países e estabelecer pontes entre artistas brasileiros e nova-iorquinos, o Brasil sempre foi a minha casa, o principal lugar de desenvolvimento da minha linguagem coreográfica e o lugar onde construí minha história pessoal e profissional”, emenda. Entre idas e vindas pôde, principalmente, observar e refletir sobre as duas cidades e, constantemente, examinar seu papel em cada uma, como gosta de frisar. 

Foi em 1999, quando estava em Nova York coreografando para o Ballet Hispânico de Nova York que ela recebeu o convite para desenvolver o setor de Arte & Cultura do Instituto Laban/Bartenieff. “Além de desenvolver e supervisionar cinco projetos artísticos para o instituto, assumiu a direção executiva e instituiu um sistema de renovação permanente para que gerações futuras pudessem encontrar nele um lugar de expansão de conhecimento pessoal e profissional e uma organização aberta para novas contribuições ao Sistema Laban”, destaca. 

O retorno num momento conturbado do país e do Rio, em particular, não geram temores. “Ao observar e sentir este momento difícil, percebi também a possibilidade de uma virada importante no país e achei que era momento de voltar. E essa virada já está acontecendo!  Como eu previa, a classe artística está se mobilizando em torno de um movimento de união e resistência movido por indignação e esperança num futuro melhor. E eu desejava fazer parte deste movimento desde o início. Já comecei a contribuir para os encontros da classe e, ao reunir cerca de 70 artistas em ‘Moda e Movimento’, mesmo sem qualquer parceria financeira, pudemos afirmar claramente a potência criativa e a liberdade de expressão artística do Rio”,  conclui.