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Egberto 7.0: Compositor recebe homenagens, faz recital em Cuba e compõe para novo álbum

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Músico, compositor, arranjador, artista considerado um dos mais completos no mundo, Egberto Gismonti está comemorando os 70 anos do jeito que gosta: trabalhando muito. Ele está arrumando as malas para voltar a Cuba este mês e participar do Festival de Guitarra, em Havana. Em paralelo, está compondo novas peças e seguindo uma agenda de shows sempre muito ativa no Brasil e na Europa, já pensando em um novo disco. 

Nascido na bucólica cidade serrana de Carmo (que ele tanto ama), a 200 quilômetros do Rio, hoje com 17 mil habitantes, Egberto estará hoje na plateia do Blue Note, para assistir ao show “Gismonti 70”, do Bianca Gismonti Trio, formado pela filha, ao piano, e por Julio Falavigna, na bateria, e Antonio Porto, no baixo. Como convidados especiais, estão a cantora Olivia Byington e o percussionista Robertinho Silva. A partir de junho, o show viajará pela Europa e Japão, passando por Budapeste, Porto, Kobe e Shiga. Na capital húngara, o selo Hunnia Records vai gravar o quarto álbum do Bianca Gismonti Trio. 

A proposta é homenagear a música e a história de Egberto, reunindo composições de diferentes períodos. São obras que fizeram história, como os clássicos “Palhaço”, “Lôro” e “Água e vinho”. Bianca destaca: “Meu pai é um artista completamente ligado à história do seu país. Nos ensinou a sonhar e a construir os nossos sonhos. Nos ensinou a unir todas as influências sem nenhum preconceito. Nos ensinou a amar o Brasil.” 

Egberto tinha 21 anos quando lançou o primeiro álbum solo, o surpreendente e aclamado “Sonho 70”. Indagado se naquela época imaginava que atingiria, hoje, tamanho reconhecimento, o artista responde: “Continuo imaginando e desejando estudar, escrever, ler e trabalhar duro, para poder me expressar cada vez melhor através da linguagem da MÚSICA (faz questão de escrever citar em maiúsculas), onde me sinto confortável e certo de que me expresso melhor e mais facilmente do que em qualquer outra linguagem.” 

Filho de pai libanês e mãe italiana, Egberto começou a estudar piano aos cinco anos. Ainda na infância e adolescência, seus estudos no Conservatório Brasileiro de Música já incluíam flauta, clarinete, violão e piano. Interessou-se pela pesquisa da música popular e folclórica brasileira, chegando a passar uma temporada com os índios no Xingu. De 1970 para cá, lançou quase 50 álbuns, sozinho ou em duo, além de trilhas para cinema e TV. 

“Eu e meu irmão, Alexandre, tivemos o privilégio de começar a tocar com ele pelos palcos do mundo entre os 15 e 16 anos de idade, por isso, além do período da infância, tivemos a oportunidade de passar muitos deles nos emocionando e aprendendo em cada ensaio, em cada show”, diz Bianca. 

Também no público estará o violonista Alexandre Gismonti, que está fazendo doutorado na UFMG, mergulhado no estudo da polirritmia no repertório para violão. Alexandre acompanha Egberto em turnês nacionais e internacionais desde 1997 e, em 2009, gravou seu primeiro álbum em duo com ele, chamado “Saudações” e, lançado pela conceituada e mítica gravadora alemã ECM. 

Muito ligado à família, louco pelos filhos, Egberto Gismonti vê nessa bela história um fruto da genética: “O que Bianca e Alexandre mais revelam através das suas relações com a música é o gene que nasceu com o pai da minha mãe, meu avô Antônio, criou pernas ou asas nas nove filhas extraordinariamente musicais, e nos dois filhos, Bento - tão musical quanto às irmãs - e, Edgard Gismonti, meu querido tio Edgard. Além de muito talentoso, amplificou através do seu exercício de compositor, mestre de banda e pensador, o gene transformando-se no mentor que, de certa forma, nos ensinou - desde sempre - que nosso elo com o universo do som é verdadeiro, forte e permanente. Nossa família é repleta de “filhos, irmãos, sobrinhos, netos, que acreditam que a música é a melhor coisa do mundo. Meus filhos me levam a comemorar a existência do ‘elo musical’ que nos une.” 

Na apresentação desta noite, Bianca vai tocar “Festa no Carmo”, que compôs para Egberto, e “Ruth” que o bisavô italiano compôs para a sua avó, Ruth”: “Até hoje choro e fico completamente abismada com a grandeza artística dele. É uma inspiração constante. Um músico e um pai muito presente, nunca associado a algo que me gerasse medo. Ao contrário, o que sinto é amor, agradecimento e liberdade”. 

O muro imaginário que separa o pai do músico é descartado por Egberto: “Não, claro que não sei separar o pai do músico. Como pai, não conheço a fronteira entre a música e a paternidade. Como pai sinto que meus filhos também não conhecem a fronteira entre a música e o que eles são. Como pai sei que não conseguiremos separar a música de nada que somos ou seremos.” 

Sobre as lições da vida ao longo dos 70 anos, reconhecido como músico monumental, Egberto acha que “essa resposta seria muito longa, daria um livro, onde a gratidão seria o sujeito e a ação, o principal de tudo”.

*[email protected]