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Antes da vitrine

A moda não é mais para amadores

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Quem compra uma roupa, pouco sabe do caminho percorrido até que uma ideia vire desenho técnico e se desenvolva em tecidos, corte e costura, até chegar às vitrines. E quase ninguém sabe que antes da ideia, há profissionais envolvidos que muitas vezes atuam longe do universo da moda.

A temporada de lançamentos de verão está começando. Veste Rio, Minas Trend e São Paulo Fashion Week apresentam as propostas das marcas brasileiras. Mas muito antes deste prazo de alguns meses até o varejo, rolou muito estudo e empenho em decifrar os códigos de um vocabulário de palavras como marketing, branding, mentoring e coaching para chegar ao tão sonhado sucesso financeiro. 

Primeiro passo: branding 

Criado na comunidade Parque da Cidade, aos 12 anos ajudando um tio na feira livre, lavador de moto, entregador de pizza: sempre estudando, Rodolfo Santos decidiu que tinha a missão de impactar o mundo com seu trabalho. “Fui para a TV Globo, onde fiquei por 18 anos, fiz MBA de Marketing, implantei a área criativa do operacional RH, fiz a gestão da área de maquiagem. Estudei inglês, para aprender coaching, inspirado em Brian Tracy, Blair Singer e Tony Robbins, coachers e trainers de pessoas como Bill Clinton e a princesa Diana”, resume Rodolfo, que em 2016 foi responsável pelas equipes de make nas quatro cerimônias das Olimpíadas.

Segundo Rodolfo, a moda carece de pessoas competentes para ajudar no planejamento. Seu trabalho de branding - significa formar a marca, sua identidade e valores _ é justamente alavancar os negócios - cerca de 40 pessoas e empresas clientes conseguiram seus objetivos de faturamento, neste ano.

“Na moda, não há mais espaço para amadores, o metro quadrado de um shopping é muito caro. O branding inclui o planejamento da operação, o financeiro, o custo do material, se a peça é rentável no espaço que ocupa. Por fim, o treinamento na loja - impossível vender uma blusa polo, que muita gente também vende, sem um atendimento de excelência.

Só que, pessoalmente, apesar do tesão pelo trabalho, eu não me sentia completo. Com talento para conectar empresas e pessoas, Rodolfo abrange desde o método de business da Disney até palestras e workshops, começou a incentivar o networking como criador do projeto Mulheres que Transformam Mais, que já impactou mais de mil mulheres. Ele atua também na área da construção civil, beleza, dá cursos, e em breve, o lança o livro “Alô! Sorte, é você?”. No segundo semestre. pretende aproveitar o talento de branding e networking em evento no hotel Windsor para mil participantes, a fim de arrecadar mais de 10 toneladas de alimentos.

“Pela minha vida, sei tudo sobre disparidades e preconceitos. Esta é minha forma de ajudar o mundo, como pretendia”. 

Segundo passo: consultoria 

Há pelo menos 30 anos Eloisa Simão vive no mundo da moda brasileira. Começou como jornalista, descobriu que a moda infantil era um nicho largado no Rio de Janeiro e criou um grupo exclusivo para as marcas especializadas. Daí, para a produção das primeiras semanas de moda, com o nome Semana Leslie (era o nome do patrocinador, uma tecelagem de linhos) foi um caminho com muita produção, mudanças, desafios, antipatias e ideias que até hoje são copiadas por outros eventos.

Diferente do tempo em que comandava grandes equipes e dizia parecer que estava construindo Brasília, quando preparou a Marina da Gloria para uma das edições do Fashion Rio, atualmente Eloisa trabalha sozinha, prestando consultoria a marcas de todo o país. “É mentoring, estratégias para empresários. O comércio está polarizado, nas mãos de grandes grupos internacionais. O maior vendedor de moda é a Amazon, que ganha no fluxo de caixa, parcela em dez vezes e pode investir em tendências. Os pequenos devem trabalhar de forma mais personalizada, focados”.

Qual seria então o caminho para estas marcas pequenas? 

“Elas devem se transformar, esquecer a prioridade nas novidades, que são vistas a qualquer momento na internet, por uma espécie de ponto de encontro, como se fosse continuação das casas das pessoas. O Antes da vitrine A moda não é mais para amadores jogo hoje está nas mãos dos clientes”.

E o conceito de luxo, por onde anda? 

“A moeda mais valiosa, agora, é o tempo. Se vou me deslocar até uma loja, tenho que ter um lucro, ganhar algo. Quanto mais exceções forem oferecidas, melhor. E não se trata mais de café e biscoitinhos: um clube ou centro de relacionamento seria a melhor definição para esta diferença”.

Duas semanas por mês Eloisa Simão passa viajando pelo Brasil. Neste mês a agenda inclui Presidente Prudente, Salvador e Curitiba, para atender grandes lojistas. Campo Grande, Belém e Goiânia são fixas nos roteiros, por suas marcas de luxo. “O lojista atual é um curador de coleção, vende a visão dele de moda. Tudo depende disto, um exemplo é a Ivana Menezes, de Goiânia, uma cidade quente, que teve casacos de pele como maiores vendas. Com o mentoring, método criado por mim, com base nos 30 anos de trabalho, vejo resultados positivos deste tipo em menos de quatro meses!”.

Terceiro passo: essência 

“Menos tendência, mais essência” é o mantra da Renata Abranchs, formada em Belas Artes pela UFRJ e Estilismo pelo Senai Cetiqt. Desde 1997, ela atende a empresas com pesquisas e treinamentos sob medida. “O fato de ser carioca me traz um olhar mais desapegado das tendências, mais livre. Mas quando construo estratégias para a atuação em todo o Brasil, meu ponto de vista é o Brasil. Atualmente trabalho também com marcas europeias, o que me leva a olhar mais para a Europa”, define Renata, que usa as mesmas lógicas para desenvolver a identidade de marcas de cama, mesa e banho e cosméticos.

E o comércio online vai acabar com as lojas físicas? 

“Acredito que nenhuma tecnologia substitui a experiência física. O padrão está mudando, o número de lojas e shopping será reduzido drasticamente, mas ainda restarão os que entregaram algo nada banal”. Dentro do Bureu de Estilo, surgiu o Criável,  evento e projeto que incentiva a criatividade. 

Seria possível ser criativo, inédito, fora das tendências e conseguir vender?”

“Claro que sim! Basta ver o exemplo das centenas de novas marcas e coletivos que nascem no Brasil com novos chips: autorais, com preço justo, design descomplicado, respeito ambiental e muito desejadas. Para a moda brasileira a questão mais desafiadora não é combinar o inédito ao comercial, e, sim, driblar as adversidades e tributos deste país. E conseguir se manter íntegra e saudável por longa data”.

Eloisa Simão criou o mentoring, consultoria que transforma lojistas em curadores de Renata moda Abranchs orienta as marcas na busca pela essência e originalidade

* Ex-editora de Moda e da Revista Domingo do Jornal do Brasil