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Pelo samba e pelo prato: Feira das Yabás prepara edição de 10 anos como Patrimônio Cultural

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Foi a partir da memória ligada à gastronomia popular e ao sentimento de pertencer a uma tradição e território que surgiu a Feira das Yabás, em 2008, ao ar livre, na Praça Paulo da Portela, em Madureira. O concorrido evento da Zona Norte do Rio foi tombado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado na última semana. A conquista dá força e esperança aos organizadores e às “tias” que participam da tradicional feira, em meio à dificuldade de patrocínio que chegou a ameaçar o evento. 

Realizada no segundo domingo do mês, teve de ser suspensa em novembro, por falta de recursos. No entanto, com a novidade, a próxima edição já tem data, 13 de maio, para conjugar e celebrar marcos - a festa de dez anos, a primeira edição como patrimônio cultural e os 130  de Abolição da Escravatura. 

Madureira é, por si, um território de acolhimento de tradições e identidades marginalizadas, além de um dos mais importantes centros comerciais da cidade. O bairro surgiu com a chegada do trem, abrigando negros, ex-escravos, operários e nordestinos. “A questão do território e do pertencimento é primordial, para que as coisas aconteçam ali. É um território sagrado do trabalho do samba na região e o fato de as pessoas sentirem que pertencem àquilo funciona muito. Acho que este é o grande segredo!”, destaca Marquinhos de Oswaldo Cruz, idealizador da feira, para quem a conquista legislativa ainda é um sonho: “Agora é rezar para conseguir apoio financeiro, de preferência, privado, e manter o evento”, declara Marquinhos.  A yabá Vera Caju reforça que a decisão foi boa, mas que, “de todo jeito”, é preciso conseguir “um bom patrocínio”. 

Hoje, são muitos os que dependem da feira para obter alguma renda, das yabás ao “menino que vende açaí”, frisa Marquinhos.  São 16 cozinheiras que preparam iguarias,  como o caldo de piranha e o jiló frito, além da tradicional feijoada e doces. “A dificuldade tem sido muito grande, não só para mim, como para todas as yabás. Cada um dá um jeito de conseguir renda,enquanto a feira não acontece”, diz Vera Caju, que participa desde o início, como Tia Surica e Sueli. 

Na barraca da Tia Surica, gerenciada pela sobrinha Maria Luisa, tem mocotó, pastel, aipim com carne seca. “Já virou tradição, todo mundo fica na expectativa da feira. É maravilhoso tomar cervejinha com um, com outro”, conta Surica, integrante da Velha Guarda da Portela. A outra yabá confirma que se trata de um grande encontro: “É a minha segunda família, onde a gente se reúne para degustar uma boa comida, rever os amigos, dançar e escutar um bom samba tradicional da nossa cultura”, resume Sueli. “Ninguém mais vai tirar este patrimônio, que é nosso e do povão”, complementa, apontando que a feira jamais registrou uma briga ou confusão, porque a única intenção dos participantes é se divertir. 

Marquinhos de Oswaldo Cruz conta que, quando a feira surgiu, ele já trabalhava com a feijoada da Velha Guarda da Portela e tinha feito uma edição do Trem do Samba - que ganhou este nome a partir de uma reportagem de Lena Frias, do “Jornal do Brasil”. Inspirado pela  lembrança de infância da comida de uma baiana, servida em frente à quadra do Império Serrano, em Madureira, idealizou a Feira das Yabás. E foi Done Ivone Lara a primeira a apostar na iniciativa. De lá pra cá, o evento atrai pessoas de todos as idades, crenças, classes e "partidos". 

Marquinhos frisa a grande adesão dos deputados de diferentes cores partidárias ao projeto que valorizou a feira, do deputado Dionísio Lins (PP). "Como benemérito das escolas de samba Portela e Império Serrano, as manifestações e eventos populares sempre fizeram parte da minha vida pessoal. A Feira das Yabas, durante todos esses, acabou se tornando uma ponto de encontro de várias gerações do samba, onde se mistura alegria e geração de renda. A lei tem apenas a finalidade de preservar essa história e oxigenar um evento que esse ano fará 10 anos de muita inspiração e dedicação por parte de seus frequentadores", disse Dionísio Lins.