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Vai encarar? Pode vir quente que Luís Lobianco está fervendo

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Pode vir quente que Luís Lobianco está fervendo. Ele deu o ar de sua graça no Rival Rebolado, projeto criado com os amigos Leandra Leal e Alê Youssef para celebrar os 84 anos do teatro ontem - e esta noite, às 19h30, retorna à Cinelândia para a primeira de duas apresentações de “Gisberta”. A peça cutuca gente que ama odiar, já foi assistida por 10 mil espectadores em turnê de um ano pelo país e tem sido considerada um marco na abordagem das questões de gênero no teatro. 

Vai anotando: Lobianco prepara sessão especial para abril do show “Buraco da Lacraia”, homônimo ao bar e boate LGBT na Lapa. A casa ganhou cara nova com a chegada da trupe de artistas liderada por ele, que ainda dá expediente em “Portátil”, espetáculo de improvisações no Teatro XP Investimentos, na Gávea, e aceitou inVaien ca rar? terpretar um dos quatro filhos de Arlete Salles e José de Abreu em “Segundo sol”, de João Emanuel Carneiro, a primeira novela de que participa. 

O ator é protagonista do longa-metragem “Carlão e Carlinhos”, de Pedro Amorim, e está na segunda temporada da série infantil “Os Valentins”, do canal Gloob, interpretando o vilão Randolfo. Nada mal para 24 anos de carreira em 36 de uma vida mantida a zero caretice. 

Transbordando trabalho, Luis Lobianco consegue tempo para pensar na próxima peça e montar equipe. “É sobre o ódio nas redes sociais”, adianta. De tanto se manifestar pela internet para justificar a montagem de “Gisberta”, está com o couro curtido. A reação negativa de parte da comunidade LGBT fez com que ele articulasse cada vez mais o pensamento em torno da obra e da necessidade de sua ocorrência. “Eu não faço a Gisberta, eu conto a história dela. Fico feliz de reafirmar o lugar do teatro, que é o da reflexão”, diz. O espetáculo mistura política, história, música, teatro, humor, poesia e ficção para falar de Gisberta. 

Luis Lobianco é adepto do diálogo sempre. “O mais bonito é fazer os que odeiam a gente na internet saírem do algoritmo do Facebook e irem ao teatro, para evitar as distorções geradas pela extrema direita, abrir o diálogo. Só assim poderemos barrar a ocorrência de pesadelos como a eleição de um futuro presidente fascista”. 

Foi um sufoco levantar a encenação. De primeira, sem qualquer patrocínio, conquistou a adesão de parceiros para construir a narrativa. Depois, estreou no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), virando notícia mundo afora. A atriz e cantora Simone Mazzer cuidou da preparação vocal dele  para o espetáculo. Há cinco anos são amigos e parceiros de trabalho no Buraco da Lacraia. “A gente se conecta por ideias e ideais. Lobianco é muito especial, preocupado com quem está ao seu redor, sabe trabalhar em equipe, coisa rara”, elogia a cantora. O texto de “Gisberta” é de Rafael Souza-Ribeiro, a direção é de Renato Carrera e direção de produção de Claudia Marques. “Ele foi muito feliz na história que escolheu contar“, diz. 

Para contar a história de Gisberta, que é praticamente desconhecida no Brasil e que também representa a de tantas outras vítimas da transfobia, Lobianco interpreta vários personagens com texto concebido a partir de relatos obtidos em contatos pessoais com a família dela, do processo judicial, de visitas ao local da tragédia e por onde Gisberta passou. Ela atravessou o oceano para buscar um território livre, mas morreu no fundo do poço, afogada em ódio e água. Na ocasião, o caso ganhou destaque nas discussões sobre a transfobia em Portugal e Gisberta se tornou  (até hoje é) ícone na luta pela conscientização para uma erradicação dos crimes de ódio contra gays, lésbicas e transexuais. De forma muito delicada, a peça transita entre dois gêneros: o humor, pois Gisberta era uma pessoa muito alegre e divertida, e o drama. 

Em 2016, dez anos após a sua morte, Gisberta foi amplamente lembrada em Portugal por meio de inúmeras reportagens. Recentemente, em 14 de fevereiro de 2017, Gisberta deu nome ao primeiro centro de apoio a população LGBT do norte de Portugal, “Centro Gis”, em Matosinhos, distrito do Porto. “É fundamental falarmos da representatividade todo o tempo”, afirma.

“Já o Brasil, na contramão, é um dos países que mais comete crimes de transfobia e homofobia, números que não param de crescer com uma onda conservadora de intolerância com as diferenças. Se não conseguimos mudar as leis que não nos protegem, que a justiça seja feita no teatro, com música e luzes de Cabaré. Que venham as identidades de humor, gênero, drama, música, tragédia e redenção. O caso de Gisberta não é conhecido por aqui e decidi que Gisberta vai reviver a partir da arte e será amada pelo público”. 

Muso do underground, Lobianco se orgulha em comemorar os seis anos do show Buraco da Lacraia. Dia 30, ele estará lá firme e forte no show “Buraco Quente”. No repertório, o coro de “Toma conta da sua vida”, baseado no vídeo que virou meme na internet, “Vai, malandra “, paródia do novo sucesso de Anitta e até uma versão da música “Corpo sensual”, popularizado por Pablo Vittar. 

“Buraco Quente” também revive e repagina alguns esquetes de sucesso do repertório do grupo, a exemplo de “Vou festejar”, que traz elementos carnavalescos e promete levar em suas alegorias a “Águia da Portela”. Números do “Buraco da Lacraia Opera House”, como “Pó pará com pó”, “Oferta da viuvinha”, 

“Mamma mia”, a ópera “Carmen”, de Bizet, o tema da animação  “Frozen”, a “Chinesa” e o hit “Entra no meu buraco” estão garantidos. Dia 6 de abril, acontece a festa “Buraco da Lacraia déjà vu”. 

Nascido no Rio de Janeiro, Luis Lobianco faz teatro desde 1994. Em 2012, se formou na CAL e foi dirigido por nomes, como: Aderbal Freire-Filho, Moacyr Chaves, Marcelo Saback e Ruy Faria; atuando em mais de 30 montagens teatrais até hoje. Desde sua criação há quatro anos, é ator fixo do canal Porta dos Fundos. No cinema, já esteve em dez produções entre 2012 e 2017. 

Serviço

“Gisberta” - com Luis Lobianco. 

Texto: Rafael Souza-Ribeiro. 

Dir: Renato Carrera 

Sinopse: A peça mistura política, história, música, teatro, humor, poesia e ?cção para falar de Gisberta, brasileira vítima da transfobia que teve morte trágica em 2006 na cidade do Porto, em Portugal.

Local: Teatro Rival. Rua Alvaro Alvim, 33, Centro do Rio (Próximo ao VLT e Metrô Cinelândia - 2240-4469). Hoje e sábado, às 19h30 Ingressos: R$ 50 e R$ 25 Classi?cação 14 anos