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Nova temporada de exposições no Paço 

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Parada obrigatória para quem quer se certificar dos caminhos da arte na atualidade, o Paço Imperial, na Praça XV, abre ao público hoje o primeiro bloco de exposições do ano. São sete individuais que, através do emaranhado de sendas contemporâneas, mostram ao público o melhor da produção de artistas visuais em atividade no Rio, especialmente os surgidos nos anos 1980 e 1990. 

O alinhamento do grupo é resultado da curadoria da diretora Claudia Saldanha e do Conselho de Amigos do Paço, formado por Luiz Áquila, Marcelo Campos, Carlos Vergara e Marisa Flórido. As individuais escolhidas para abrir o ano são de Hilton Berredo, Osvaldo Carvalho, Suzana Queiroga, Alexandre Vogler, Marcos Abreu, Geraldo Marcolini e Helena Trindade, com quase 500 obras. 

Claudia Saldanha ressalta que a escolha dos artistas se pautou no fato de eles serem expoentes do Rio. A exposição de Hilton Berredo, com curadoria do próprio artista, serve de luz-guia dentro do todo. Em “Dos anos 80 às obras recentes”, estão expostos alguns dos motivos que tornaram Berredo um dos artistas mais notáveis do movimento Geração 80.

“Pondo fim a uma ausência de 20 anos desde minha última exposição individual, apresento nesta mostra meu trabalho recente, ambientado no contexto de algumas das obras que guardei comigo nas últimas quatro décadas. Espero situar o trabalho atual como a mais recente tentativa de dar forma às questões de arte que me interessam desde os anos 1980”, descreve o pintor, no texto curatorial.

“Parei esse tempo por ambição estética, pelo desafio de desenvolver uma linguagem independente dos materiais, pela angústia do abismo que seria colocar a carreira acima da obra e navegar no sucesso fácil da repetição. Creio que esta exposição deva esclarecer a fortuna [ou o infortúnio] dessa ambição”, comenta no catálogo.

Ao todo, são mais de 80 obras selecionadas para o Terreiro do Paço, mas Berredo esclarece que não se trata de uma retrospectiva. O alinhamento de obras em borracha, como a importante “Maré vermelha” (1988), e “O quinto” (2018), situam o visitante em torno de aspectos da pesquisa do artista ao longo de sua carreira. “Estão aí questões que configuram a linguagem nas diversas estratégias que adotei nesse tempo”. 

Há 16 obras de borracha (1983 a 1989), sete pinturas a óleo sobre tela da série “Antropofagia romântica”, dos anos 1990, sete obras da série PVC, feitas entre 2008 e 2010, 44 pequenos formatos em acrílica sobre tela, das séries “Estado de ânimo”, de 2015, e “Orgânicas”, de 2016. Fechando o conjunto há doze pinturas na série Flat3D, iniciada em 2017. O artista vibra ao falar de sua mais recente obra “O quinto em PB”: “Meu entusiasmo se deve ao efeito de profundidade que se pode comparar com o espaço real das borrachas. O espaço avança sobre o espectador, como se inflado de dentro da tela para fora”, pontua.

No primeiro andar do prédio histórico do Centro do Rio, Suzana Queiroga apresenta “Miradouro”, mostra com curadoria de Raphael Fonseca. Tempo, paisagem e cartografias estão entre os temas observados pela artista. A exposição se esparrama por três salas do segundo andar do Paço Imperial, uma área total de 300 metros quadrados, que recebem 15 trabalhos em grandes dimensões, dentre pinturas, esculturas, instalações e vídeos. A exposição também terá uma parte documental, com estudos, mapas, pesquisas e o processo de trabalho da artista no ateliê, em comemoração aos dez anos do projeto “Velofluxo”. Logo na entrada, está uma grande pintura redonda, de 1,5m de diâmetro, em óleo sobre tela, com veios em tons de azul, verde e laranja, que representam os fluxos. Na mesma sala, haverá desenhos e rascunhos , montados sobre a parede, sem moldura, trazendo um pouco da atmosfera do ateliê da artista para o Paço. Em outra sala, estão cinco pinturas em grande formato, que representam paisagens, não só urbana, mas também aérea e marítima. “No meu trabalho, penso a cartografia de forma ampla. Minha pesquisa envolve a cartografia do tempo, do infinito”, afirma a artista. A obra “Nuvem”, composta por 24 papéis vegetais, que recebem banhos de pigmentos em tons de cinza, violeta e rosados, é um dos destaques. 

A grande instalação “Topos” (2017), que ocupará o chão da última sala, é composta por recortes em feltro, que representam as cartografias de várias cidades, reais e imaginárias. “O feltro bruto, feito de aparas de refugo de indústria têxtil possui uma massa corpórea espessa, que se projeta no espaço e estabelece uma relação direta com a escala humana e arquitetônica. Ao mesmo tempo, possui uma carga simbólica: é um tipo de manta utilizada pela indústria e também pelo morador de rua como cobertor, veste e abrigo”, diz a artista, que ressalta que, nesta obra, estão presentes elementos que atravessam o seu trabalho nos últimos anos: o fluxo, o tempo, o infinito, as cidades e as cartografias. 

Nova geração -  Enquanto Berredo e Suzana trazem em comum o ponto de origem, a Geração 80, as individuais de Geraldo Marcolini, Alexandro Vogler e Marcos Abreu apontam para planos da mesma geração. “São artistas pertencentes a uma mesma geração que, no entanto, percorrem caminhos diversos. Vogler mostra uma instalação composta por um conjunto de 10 serigrafias sobre papel, desenvolvidas a partir da observação das lentes de Fresnel e reunidas para instaurar um campo de energia condensada. A realização dos trabalhos combina pintura e gravura, recorrendo a processos rudimentares de mascaramento e sobreposição de cores relativamente transparentes, acumulando camadas de padrões construtivos e gerando uma aparência de dispersão solar. A cor amarela aparece decomposta por estruturas dinâmicas, configurando sua expansão e comunicando os dez elementos da instalação num ambiente imersivo. “Vogler nos fala da invenção de Fresnel, físico do século XIX, que criou um sistema de lentes para faróis de sinalização”, analisa Claudia Saldanha. Geraldo Marcolini  apresenta  “Fim de semana em Cabo Frio”, que traz cenários desabitados de jardins e piscinas reveladores de certa decadência. Imagens de arquivos pessoais são estampadas nas telas a óleo criando aspecto de desterro. 

Guilherme Bueno assina a apresentação da individual “Muroh”, de Marcos Abreu. A gravura não é eleita por acaso pelo artista.  “Assimilar elementos casuais e residuais do processo, prosseguir testes sobre como uma cor reage a diferentes situações, estabelecem uma singular situação”, descreve Bueno.  Impressões feitas com spray a partir dos vestígios de outros trabalhos é o fio condutor da série. 

No último pavimento, Helena Trindade exibe “A letra é a traça da letra”, que se alicerça sobre objetos, vídeos e instalações, em torno da escrita, com evocações à filosofia, psicanálise e poesia. Glória Ferreira faz a curadoria. “A artista conduz o visitante por um percurso de reflexões, trata a letra como vetor de significados”. 

Na individual “Terra prometida”, Osvaldo Carvalho apresenta pintura a óleo sobre papel, cartão e tela, relendo imagens de grande impacto visual que transbordam de internet, cinema e TV.  “A individual é sobre esse ponto de torção entre a sombra e a fulguração, sobre nossos impasses e insurreições”.