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O novo camaleão da noite do Rio

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A 12ª Ocupação Poética, a primeira de 2018, está marcada para o próximo dia 16 de abril, no Teatro Candido Mendes, em Ipanema, com Mano Melo. Espere-se trânsito intenso na Rua Joana Angélica, engarrafamento de gente ávida por poesia. Tem sido assim desde 2015 quando, para resolver um furo de pauta no teatro, Adil Tiscati e Fernanda Oliveira, administradores do lugar, convidaram o poeta Paulo Sabino para fazer um sarau, quebrando a rotina das artes cênicas naquele palco. As noites de poesia em Ipanema viraram point. Há quem veja até o espírito dos anos 1980 ali, um revival das concorridas apresentações d’ Os Camaleões e outros grupos.

Site literário abriu caminho para o sucesso

Conhecido há seis anos pelo site literário “Prosa em Poema”, um dos mais lidos, com mais de cem mil visitantes, além de fazer performances no Largo das Neves e no Bar do Gomes, em Santa Teresa, o artista lotou os encontros ocorridos entre 31 de julho e 2 de agosto de 2015. De cara, Antonio Cícero levou Alex Varella, voltou com Adriana Calcanhotto pelo braço, também apareceu o compositor Salgado Maranhão, vencedor de um Jabuti com o livro “Ópera de Nãos”, Adriano Espínola, da Academia Carioca de Letras, Antonio Carlos Secchin e Paulo Henriques Britto.

Depois vieram Elisa Lucinda, Geraldinho Carneiro, Martinho da Vila, que foi com o escritor Tom Farias, Flávia Oliveira, Zezé Motta, Christovam Chevalier, Aluísio de Abreu, Frejat, Jorge Salomão, Patrícia Melodi. "Os homenageados são sempre poetas e os participantes são pessoas importantes na trajetória literária do homenageado que trabalhem com a palavra artisticamente - ator, atriz, cantor, cantora, compositor, outros poetas e escritores, cineastas", destaca Paulo, que continua a promover o Sarau do Largo das Neves.

Fernanda Oliveira é uma das fãs das noites de poesia em Ipanema. “Quando o convidamos, sabíamos que não era a vocação do teatro receber este tipo de projeto, havia o entendimento de que deveríamos ampliar a programação, abrir para outras áreas. Entendo que esse sucesso alcançado pela ‘Ocupação’ tem o mérito do Paulo de ser um agitador cultural que não tem o peso de um acadêmico e alcança vários públicos. A poesia é indispensável para a nossa sobrevivência nos dias atuais”, avalia a administradora do espaço. Como na letra de “Vamos comer Caetano”, de Adriana Calcanhotto, geral quer ‘devorar’ Paulinho, como é conhecido o rapaz que tem poesia na veia e sorriso tatuado no rosto.

Monica Xexéo, diretora do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) requisita sempre o artista para ser mestre de cerimônias das efemérides da instituição. Ele também foi convidado para a função pela amiga Sandra Niskier, filha do imortal Arnaldo, para a noite de lançamento do livro dela na Casa do Saber e ainda para o projeto “Quanto mais Tropicália melhor”, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em 2017. 

Agora, quem também quer ‘devorar’ Paulinho é a editora Autografia, que o convidou para coordenar o selo de poesia “Bem te li”, ainda em fase de desenvolvimento, por onde o artista lançará o primeiro livro. Promete frisson. Vai encher de orgulho dona Jurema, sua mãe, com quem mora no apartamento da família, em Olaria, onde cresceu. O pai, Paulo Sabino, morto em 2006, era advogado. 

A devoção de dona Jurema por Maria Bethânia fez muito pelo poeta. Os títulos que ela comprava como assinante do Círculo do Livro também. Aos 10 anos, Paulo com a letra de “Errei, sim”, de Ataulfo Alves, gravado por Dalva de Oliveira, em resposta ao petardo de Herivelto Martins em “Atiraste uma pedra”. Foi regravado por Bethânia no disco de vinil “Dezembros”.

Depois, quando Bethania declamou “Eros e Psiquê”, de Fernando Pessoa, em “O pássaro da manhã” abriu ainda mais seus sentidos. “Fiquei louco, ouvia repetidamente. Mais tarde, comprei o livro da dona Cleonice Berardinelli e mergulhei em Pessoa”, conta.

Paulo já cedeu a cama aos livros. A biblioteca é senhora no quarto do poeta, preenchendo de vozes as prateleiras por toda parte. Uma dessas vozes que povoa o seu discurso é João Cabral de Melo Neto.

“Discordo com veemência de quem diz que a sua poesia careça de emoção. Choro lendo João Cabral. ‘A educação pela pedra’ e ‘O poema do amor’ são lindíssimos. A minha racionalidade me ajuda a sentir melhor, são naturezas distintas”, pontua.

Aos 41 anos, formado em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Paulo Sabino tem seus ritos. A cada 24 de junho, data de seu aniversário, Dia de São João, amanhece e ouve “São João, Xangô menino”, de Caetano. “Fogo, fogo de artifício, quero ser sempre o menino, as estrelas deste mundo, Xangô, ai, São João, Xangô Menino”, cantarola baixinho.