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Antonio Cícero toma posse hoje na ABL

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Hoje, em cerimônia que será iniciada às 21 horas, toma posse na Academia Brasileira de Letras (ABL) o poeta, filósofo e compositor Antônio Cícero Correia Lima, passando a ocupar a cadeira 27. O novo acadêmico, que será recebido pelo colega Arnaldo Niskier, foi eleito em 10 de agosto do ano passado sucedendo o professor e ensaísta Eduardo Portella, falecido em 3 de maio de 2017. Os ocupantes anteriores da cadeira 27, que tem como patrono Maciel Monteiro, foram Joaquim Nabuco (fundador), Dantas Barreto, Gregório Fonseca, Levi Carneiro e Otávio de Faria. 

Antônio Cicero nasceu no Rio de Janeiro em 1945 e formou-se em filosofia na Universidade de Londres. Poeta, letrista e professor de filosofia, é autor dos livros de ensaios: “O mundo desde o fim” (1995), “Finalidades sem fim” (2005), “Poesia e Filosofia (2012) e “A poesia e a crítica” (2017). Os livros de poemas são: “Guardar” (1996, Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira); “A cidade e os livros (2002) e “Porventura” (Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras). 

Em “Poesia e filosofia”, ele afirma que “a despeito de tanto o filósofo como o poeta terem as cabeças nas nuvens, não são idênticas suas nuvens. Os assuntos dos poetas não são tão genéricos e abstratos quanto os dos filósofos. Ao contrário, parecem ser bastante concretos. O poeta fala, por exemplo, da manhã, da morte, do nascimento, do azul, dos sapatos, das ruas, dos gestos...”. 

Se a filosofia historicamente tem sempre que criar um sistema novo, o mesmo não acontece com a poesia, pois um poeta da atualidade pode se referir a temas que já foram objeto de poemas no passado e, mesmo assim, criar uma imagem inusitada.  O que importa é como usa palavra.  Quem  não ama as palavras, comenta Antonio Cicero, dificilmente será poeta.  O importante, afirma, não é fazer o novo, mas sim o que não envelhece. Ou seja, “o fato é que os poemas pretendem ficar vivos, mesmo quando já morreram o seu autor e o país em que ele viveu, e mesmo quando deixou de ser falada (embora continue a ser lida) a língua em que foram feitos”. 

Por isso é que para Antônio Cícero filosofia é documento e poesia, monumento. Como disse José Guilherme Merquior, discutindo conceitos empregados por Michel Foucault, “os documentos são transmissores de referência externa; os monumentos são contemplados por si próprios”. Ao que Cícero acrescenta: “Pode-se dizer que, em suma, enquanto de maneira geral, o poema seja contemplado por si próprio, funciona como um monumento; um texto filosófico, sendo lido em vista da tese que afirma, funciona como um documento”. 

Um monumento que precisa ser criado com vagar e fruído também vagorosamente para ser entendido em sua totalidade. Para a poesia não existe “tempo é dinheiro”. E exatamente neste nosso tempo de aceleração desembestada das atividades, que ela, na opinião de Antonio Cícero, se faz mais desejável. Por quê? “Por que o que me parece inteiramente indesejável é a aceitação passiva da inevitabilidade do encolhimento de nosso tempo livre”, diz o culto e sensível poeta. 

Com a leitura dos versos, “conseguimos romper a cadeia utilitária cotidiana, concedendo ao poema a concentração por ele solicitada. Configura-se então um tempo que já não se encontra determinado pelo princípio do desempenho. Afinal, a rigor, o poema não serve para nada. Ou bem a leitura de um poema recompensa a si própria, isto é, vale por sim, ou bem ela não vale absolutamente nada”. Com certeza, hoje os anjos lá no céu estarão felizes por mais um poeta entrar para a Casa de Machado. Poetas são imprescindíveis. 

(Colaborou Cecilia Costa)