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Curta “Lambari” leva o desastre de Mariana para o 34º Festival de Cinema de Bogotá

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No dia 26 de outubro, o curta-metragem niteroiense “Lambari” será exibido na telona do maior festival de Bogotá, o Bogocine. O filme já participou de dez festivais nacionais e um internacional, sendo premiado em três deles. Um dos reconhecimentos foi uma menção honrosa no 22º Cine’Eco, festival ambiental mais importante de Portugal. Com apoio da Agência Nacional de Cinema (ANCINE), o diretor Rodrigo Freitas representará o filme em Bogotá.

Em novembro de 2017 completará dois anos do crime ambiental iniciado em Mariana, Minas Gerais. A dimensão dos impactos provocados nas regiões afetadas ainda permanece em aberto, já que pouco se tem falado sobre o caso. O rastro mais aparente seria a destruição ambiental. No entanto, as fissuras mais profundas podem estar justamente no lado sentimental dos atingidos e atingidas pela lama. É esse o mote de “Lambari”.   

"O documentário se propõe a discutir os impactos afetivos trazidos com a lama da mineradora Samarco em moradores de Barra Longa, um dos municípios mineiros mais afetados pelo rompimento da barragem em Bento Rodrigues", conta o roteirista e montador, Wesley Prado.

Três meses após o desastre, em fevereiro de 2016, a equipe deixou Niterói (Rio de Janeiro) com destino à Mariana (Minas Gerais) e, durante o processo, mudou o destino para a cidade vizinha, Barra Longa. A jornada iniciou-se com pouca pesquisa prévia. “Nossa proposta era um documentário de imersão, que buscava para além da perda material, dos dados, queríamos um registro do impacto afetivo que a lama da Samarco provocou. Nosso dispositivo era primeiro de viver e sentir o que se passava no local, depois aos poucos nos aproximamos dos moradores e tentamos registrar o que estavam sentindo”, comenta o diretor Rodrigo Freitas. Por quatro dias, a equipe conversou com os moradores e coletou relatos para o documentário. 

Muitas histórias foram ouvidas para caberem num curta-metragem. Os personagens escolhidos para “Lambari” foram o pescador João de Freitas, sua irmã Eponina Rosa e Cláudia Mol, sua filha. “A história de ‘Seu’ João e sua família trouxe elementos interessantes para serem contados em filme. Camadas potentes para o eixo temático que queríamos explorar, como afeto, sobrevivência, paixão”, explica Wesley.

O filme foi realizado por integrantes do coletivo audiovisual Poxavila e teve apoio do Sindicato dos Docentes da Universidade Federal Fluminense (Aduff). 

Breve Histórico 

No dia 05 de novembro de 2015, a barragem de Fundão da Samarco Mineradora S/A (controlada pela Vale e BPH Billiton) se rompeu no distrito de Bento Rodrigues, na cidade de Mariana, Minas Gerais. Estima-se que 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram liberados na região, mais de dez vezes a lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, e atingiu uma extensão de 663 quilômetros até a foz do rio Doce na cidade de Regência, no Espírito Santo. 

Os impactos foram desastrosos: dezenove pessoas mortas, seiscentos desabrigados, grande mortalidade da fauna e flora, poluição de parte do rio Doce e afluentes atingindo três Estados: Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Dois desses afluentes são os rios Gualaxo e Carmo, localizados no município de Barra Longa, Minas Gerais. A cidade fica a 70 quilômetros de Mariana e foi bastante atingida pela lama, que destruiu residências e provocou a morte de dezenas de animais de criação e plantações.