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Festival em 200 cidades comemora Dia Internacional da Animação

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O Dia Internacional da Animação, comemorado nesta sexta-feira (28), terá uma mostra gratuita em mais de 200 cidades em todos os estados do país com uma seleção de curtas-metragens de desenhos animados nacionais e internacionais, na 13ª edição do evento, que começa a partir das 19h em algumas cidades.

A programação pode ser consultada no site da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA). No Rio de Janeiro, a exibição ocorre na Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, em parceria com o Anima Mundi, um dos mais importantes festivais de animação do país e que vai até domingo.

Mulheres

Um aspecto que chama a atenção no Brasil é o crescimento da participação feminina no mercado produtor de filmes de animação. Segundo a pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais Cristiane Fariah, que lançou no ano passado o primeiro levantamento sobre a área no país, no estudo Eu sou animação no Brasil, 28% das pessoas que trabalham com animação no país são mulheres.

Apesar de não haver dado anterior para comparar, a percepção de quem está no mercado é a de que há, sim, aumento de mulheres trabalhando em todas as etapas do processo. Professora do Estúdio Escola de Animação, Cindy Shaw também é diretora de animação do Copa Studio e relata que os homens ainda são maioria, mas que atualmente há bem mais mulheres atuando do que quando começou a trabalhar na área, há 8 anos.

“Quando eu comecei na 2DLab, já tinha mulheres em cargos de supervisão ou de produção, tinha uma ou outra que tinha cargo de liderança, mas hoje em dia tem bem mais, está bem mais dividido. Não sei como é nos outros lugares, eu só conheço aqui no Rio. Mas uma coisa boa é o trabalho em equipe, todo mundo trabalha junto, isso ajuda também a dar mais espaço, as pessoas crescem por dedicação delas”.

Ela diz também que a atual turma do Estúdio Escola tem mais meninas do que meninos. Uma delas é Ingrid Queiroz, que pretende seguir carreira na área. Aos 18 anos, ela diz que não sabia da possibilidade de trabalhar com animação no Brasil, até conhecer a escola.

“Normalmente a gente via só homens fazendo essa parte da animação. Eu nunca tinha visitado estúdio de desenho e animação, quando fui no Copa vi que tinha muitas mulheres lá, a minha professora e muitas meninas lá, eu nem imaginava, agora tem muita menina se interessando. Está crescendo muito [o mercado], antes de conhecer o Copa eu já conhecia o Combo, pelo desenho da Any Malu, e a gente não via muitos desenhos assim. É muito legal ter um estúdio assim aqui, requisitado, porque normalmente é só lá fora que tem grandes nomes de estúdio de animação. É muito legal ter assim no Brasil e eu acho que vai crescer muito ainda”.

Ex-aluna do Estúdio Escola, Marina Vasconcelos trabalha como ilustradora e diz que as barreiras para a entrada de mulheres nesse mercado estão diminuindo, mas ainda existem. “Sempre foi uma área majoritariamente masculina, mas agora tem melhorado bastante. Tem algumas meninas no estúdio, várias na arte, na animação também. Eu tento acompanhar isso e eu vejo que ainda tem muito caminho a trilhar, tem muita discussão, em alguns lugares ainda tem muito preconceito, como por exemplo em estúdios de animações de comédia para adulto, os caras não querem contratar mulher”.

Pesquisa

A pesquisadora Cristiane Fariah explica que o mercado brasileiro cresceu muitos nos últimos 10 anos e se profissionalizou, com o lançamento das primeiras séries de animação produzidas no país para exibição na TV.

“A primeira série com produção comercial, com característica de produção industrial, com uma equipe grande, produzindo por etapas, feita para ser vendida, começou a ser produzida em 2008. A gente tem quase 100 anos de animação no Brasil e só em 2008 a gente tem a primeira série comercial, que foi Meu Amigãozão, quase concomitante com Peixonauta. A gente começou nos anos 2000 com algumas ações que foram resultando em outras até a gente chegar num cenário onde a gente tivesse empreendedores para ter negócios, pra isso virar empregos, pra isso virar dado e ter no mínimo 840 pessoas trabalhando com animação no Brasil”.

O número de 840 foi o retorno que Cristiane obteve de questionários respondidos na pesquisa, que teve coleta de dados entre novembro e dezembro de 2014. Ela lembra que, antes de 2008, quem trabalhava na área era “por amor”. “Trabalhava muito e fazia porque queria produzir. A partir de 2008, 2009, começa a ter produção. No grosso disso tem o Fundo Setorial do Audiovisual, a Lei do Cabo, editais como o Anima TV. Então isso propiciou que a gente tivesse essa produção.”

O primeiro registro de animação no Brasil é de 1917, com o filme O Kaiser, do cartunista Álvaro Martins, produção que se perdeu no tempo. A criação da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA) ocorreu em 2003, um reflexo do Festival Anima Mundi, que começou em 1993. Em 2008, com o Programa Nacional de Fomento à Animação Brasileira e o edital AnimaTV, houve o investimento de R$ 3,9 milhões para a produção de 18 pilotos de séries de 11 minutos. O resultado desse edital foi a comercialização e exibição das séries Tromba Trem e Carrapatos e Catapultas na TV Brasil e na TV Cultura.

Já a partir de 2012, quando entrou em vigor a Lei 12.485, que obriga as TVs pagas a exibirem uma cota de produção nacional, a produção de conteúdo brasileiro passou de 1.007 horas em 2011 para 3.884 horas em 2013.