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Artistas da nova geração inovam e criam sua própria cena

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Se seguir a carreira musical não é fácil, muito mais difícil é ser músico independente no Rio de Janeiro. Com cada vez menos palcos disponíveis na cidade e desafios que vão de oportunidades para shows a bancar a gravação de um disco ou clipe, quem vive de música no Rio precisa de boas doses de determinação e, claro, aquela vontade incansável de criar.

É o caso do cantor e compositor Almir Chiaratti. Ele se divide entre trabalhar em tempo integral em um canal de TV e na divulgação do disco "Bastidores do Sorriso", que produziu por conta própria. Tomar as rédeas da produção, segundo Almir, foi uma forma de organizar a rotina de gravação, ganhar tempo no estúdio e economizar dinheiro.

“Ser independente não tem nada de glamouroso. Sabe aquele desespero que bate quando o tema da redação é livre? Eu acho que isso define o ‘ser-independente’ no mercado artístico. Porque você pode fazer o que quiser e isso traz muita responsabilidade sobre o que se está fazendo. Tudo, absolutamente tudo, depende de você. Isso tem um lado maravilhoso que é a liberdade artística, mas tem um preço alto”, avalia Almir.

O preço alto que alguns artistas pagam nem sempre tem a ver com dinheiro: às vezes, o maior investimento é o de tempo. Almir Chiaratti, por exemplo, levou dois anos para produzir o primeiro disco porque dependia do salário cair todo mês para pagar as sessões no estúdio. Assumir o lado “business” é uma das tarefas mais difíceis para os seres criativos: fazer orçamento, apertar o cinto e cuidar de todas as etapas do processo como se fosse vários profissionais em um só.

Mas há aqueles que acabam contornando o perrengue de se autoproduzir e têm a oportunidade de se dedicar apenas à composição e à interpretação da faixa. “É ótima a experiência de se surpreender com a própria canção, como aconteceu comigo na ‘Cumbia da Gota’, em que assumi uma posição secundária e foquei em outros elementos da música”, revela Paulo Camões, que têm opiniões pé no chão sobre a autoprodução:

“Não romantizo essa história de ser multi-tarefa, faço por necessidade. Adoraria poder só compor e apenas participar do processo de produção. Até porque tem produtores incríveis que  poderiam levar minha música para um lugar inédito. O perrengue de estar por conta própria nas produções é basicamente ter mais trabalho. Às vezes assistimos alguém fazendo um live set, apertando alguns botões e saindo aquele sonzão e esquecemos da trabalheira que dá produzir e mixar tudo aquilo. Já perdi as contas das noites que dormi só 3 ou 4 horas”.

Pouco sono, pouco dinheiro e muito trabalho. São dificuldades inegáveis, mas que não foram barreiras para a banda Revolt, que cansada de esperar pelo investimento de outros, criou o seu próprio festival. É o “Summer Music Festival”, que acontece no interior do Rio de Janeiro. A banda conta com parcerias para manter o evento que começou de graça, com apoio da Prefeitura, comércio local e amigos que se uniram pela causa da cena rock.

“É o famoso ‘faça você mesmo’. Assumimos que nos dias de hoje, quem não coloca a mão na massa tende a ficar para trás. A música já está num momento difícil, o rock mais ainda. Com tudo isso, temos que estar sempre pensando e cavando os espaços. Acreditamos que o Summer Music Festival é um espaço importante tanto para as bandas quanto para a cidade, trazendo público e movimentação de pessoas das cidades vizinhas também”, conta Marcos Almir, guitarrista da Revolt e um dos criadores do evento.

Hoje o festival caminha com as próprias pernas e acontece em outros locais, diferentemente da praça que caracterizou as primeiras edições, onde a banda tocava, produzia, fazia troca de palco e até arte de divulgação. Atualmente a Revolt consegue dividir as responsabilidades e segue com a divulgação das novas bandas da cena rock carioca. “Ser independente é fazer tudo e colocar a grana do próprio bolso para realizar os projetos. Mas existem bandas grandes passando por isso também, então temos que aceitar a mudança. Artisticamente falando, existem vantagens em pirar mais nos arranjos, clipes e ser mais livres na hora de criar seu material”, conta Marcos sobre as vantagens da autoprodução do do it yourself, ou “faça você mesmo”.

A liberdade apontada por Marcos revela muito sobre o que os artistas buscam ao produzir seus próprios trabalhos. O cantor e compositor Almir Chiaratti produziu o clipe de “Teu Caminho” com ajuda de amigos e família e hoje, coleciona prêmios no Brasil e no mundo, como no Rio Web Fest, no Urban Mediamakers Film Festival (UMFF) e o Awardeo of the Week do Vimeo, além de ser exibido durante o Miami Web Festival e no Festival Internacional de Cinema Enfoque, em Porto Rico.

“A questão é a gente ir se organizando sem se institucionalizar, ir se profissionalizando sem virar burocrata da arte e ir se (re)apaixonando por cada etapa nova e antiga que surge no processo de realizar o sonho”, finaliza.