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Obra sobre a Revolta da Chibata retorna às livrarias

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Lançada originalmente em 1959, A revolta da chibata, obra do jornalista Edmar Morel sobre a rebelião que tomou a Marinha de Guerra em 1910, retorna às livrarias este mês pela editora Paz & Terra. O trabalho de Morel, considerado um clássico desde a primeira publicação, definiu a maneira como o episódio histórico ficou registrado. Sua narrativa valorizou o feito dos marujos revoltosos, mostrou sua luta por dignidade e denunciou os castigos físicos infligidos pelas Forças Armadas à época. Relembrou, assim, fatos que as instituições oficiais gostariam de ter podido esconder e fortaleceu uma discussão em torno da questão do racismo.

Para escrever A revolta da chibata, Edmar Morel realizou, por cerca de 10 anos, uma pesquisa rigorosa. Consultou periódicos, livros, artigos, textos oficiais, correspondências privadas e memórias. Realizou também muitas entrevistas, algumas delas com o líder e principal nome da rebelião, João Cândido – que chegou a participar de sessões de autógrafos ao lado do autor. Por causa do livro, Cândido, o “Almirante negro”, foi alçado ao patamar de herói, virou personagem de música de João Bosco e Aldir Blanc nos anos 1970 (“O mestre-sala dos mares”) e hoje tem sua trajetória estudada nas escolas.

A primeira edição da obra se esgotou rapidamente. Mas a segunda, finalizada em 1963, durante o governo João Goulart (no qual Morel trabalhava como assessor de imprensa), nunca chegou a ser plenamente distribuída. “Com a ditadura implantada a partir do golpe civil-militar de 1964, o nome de João Cândido não ficou mais em relevo, ao contrário, era perigoso mencioná-lo”, explica o historiador Marco Morel, neto de Edmar, na apresentação da 5º edição. “Edmar Morel, exonerado do cargo público concursado que exercia, teve seus direitos cassados, sobretudo, devido à publicação deste livro aqui apresentado”.

Ao longo dos anos, Morel seguiu atualizando sua pesquisa com dados relativos às repercussões do episódio e do próprio livro. Em 1979, com o processo de abertura democrática iniciado, uma terceira edição de A revolta da chibata foi publicada. A última edição revista pelo autor saiu em 1986, tornando-se assim o texto final estabelecido. O livro voltou às prateleiras durante as comemorações do centenário da rebelião, em edição especial. Passou a incluir então um material inédito relativo às memorias de João Cândido, além de notas explicativas assinadas por Marco, responsável por sua organização.

A Revolta da chibata se tornou a maior referência historiográfica sobre o movimento dos marinheiros e a figura de João Cândido. O título do livro, inclusive, serviu para batizar o episódio na imprensa e em publicações didáticas. A presente edição, a 6ª, mantém os acréscimos da última. Chega às livrarias revista e com nova capa.

SOBRE EDMAR MOREL

Edmar Morel (1912-1989) foi um pioneiro do jornalismo investigativo no Brasil, com reportagens de impacto sobre temas sociais e políticos. Trabalhou em grandes veículos de comunicação e na imprensa alternativa de esquerda entre 1930 e 1980.