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Coletivo artístico apresenta obras de João do Rio em teatro de marionetes

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O Teatro Municipal de Marionetes Carlos Werneck, no Parque do Flamengo, no Rio, recebe, nos dias 21, 27 e 28 de fevereiro, das 10h30 às 12h30, o projeto “O Rio de João” inspirado na obra “A alma encantadora das ruas” de João do Rio (1881-1921) – jornalista, amante da cidade, eternizado em crônicas, contos e peças de teatro. O espetáculo é gratuito e o teatro tem 300 lugares.

O projeto é idealizado pelo coletivo artístico Eu Amo a Rua, formado pelos artistas Raquel Botafogo, André Gracindo, Márcio Nascimento, Márcio Newlands, Rita Spier e Carlos Alberto Nunes. "O Rio de João" parte das crônicas de João do Rio para apresentar em caixas de teatro lambe-lambe, ao ar livre, histórias de 3 minutos que recuperam a delicadeza de uma arte secular disponibilizada ao grande público das ruas.

“Encontramos em João do Rio a certeza de que o passado atualiza a sua importância ao lado da ideia de contemporaneidade. Por meio da sua obra tomamos contato com a vida social e familiar nas primeiras décadas do século XX,acompanhando as transformações dos hábitos e aspectos da cidade, bem como a repercussão de certos acontecimentos sobre a sociedade. O projeto proporciona uma breve viagem no tempo, onde os valores humanos são a permanente homenagem à cidade que todos desejamos”, destaca a atriz Raquel Botafogo.

Para dar forma ao projeto, que teve duração de três meses, 17 participantes foram orientados em todas as etapas de criação desse espetáculo de teatro de animação, desde o entendimento técnico, elaboração de roteiros, decupagem e definição das nove cenas que formam o conjunto da obra. “A obra se insere na cidade como uma intervenção urbana, de modo a fazer das próprias ruas não somente o cenário mas o personagem principal do projeto”, afirma Raquel.

Lambe-Lambe

O teatro lambe-lambe é uma modalidade de teatro de formas animadas que recebeu este nome devido a sua semelhança física às máquinas fotográficas utilizadas no início do século XX. Pequena, independente e portátil, a caixa cênica desse tipo de teatro abriga espetáculos de teatro de bonecos que são assistidos por um único espectador por vez. Essa singularidade proporciona um encanto em torno da ação que colide com o fluxo cotidiano de uma cultura de massificação. Em "O Rio de João" a magia se realiza quando o espectador descobre, por um buraquinho, um Rio de Janeiro de outros tempos, vivo dentro de um palco que se torna seu universo particular.

João do Rio

Dândi, marginal, poeta, cronista, político, artista e inúmeras outras facetas de um só homem, que soube, em seu tempo, despertar amor e ódio entre seus contemporâneos, para ser quase que completamente esquecido após sua morte, ainda no principiar do século XX. Paulo Barreto, essa figura intrigante, plural até nos nomes que adotava, passou para a eternidade com o pseudônimo que expressava seu maior amor: a cidade do Rio de Janeiro. Assim, nasce João do Rio, expressão máxima de uma personalidade forjada por elementos díspares, representante de uma classe social abastada e dominante, que acreditava nos valores republicanos, porém, não dispensava a aura aristocrática e a gala cerimoniosa recém perdidas com a queda do imperador Pedro II. Paradoxalmente, esta singular figura subia os morros pobres da cidade para, a partir da convivência com seus habitantes, registrar-lhes a vida cotidiana, legando-nos um preciosíssimo documento de época, instantâneos vivos, capturados com talento pelas mãos do mestre. Como se não bastasse estar presente nos extremos sociais de uma cidade em franca turbulência, João do Rio esmiuçou a vida das personalidades importantes e das bizarras figuras que coabitavam o submundo dos becos e vielas escuras e mal cheirosas, diagnosticando com impressionante vivacidade, o quanto de humano e desumano havia no homem da transposição dos séculos XIX e XX. Presidentes, deputados, aristocráticos barões e outras titularidades da nobreza, foram tão observados e documentados como cafetões, prostitutas, mendigos de toda ordem, viciados e transgressores, numa manifestação impressionante de sua capacidade de circular com a mesma naturalidade entre o Palácio do Catete e a favelização do morro de Santo Antônio.