ASSINE
search button

Filme protagonizado por lésbicas quebra paradigmas na Itália

Obra estreou em meio à polêmica sobre união civil homossexual

Compartilhar

Primeira produção cinematográfica italiana a ter como protagonista um casal lésbico, a comédia romântica "Io e Lei" ("Eu e Ela", em tradução livre), que chegou aos cinemas europeus há um mês, está influenciando o debate sobre a legalização da união homossexual na Itália, nação marcadamente católica.

    O filme quebrou paradigmas desde a escolha de seu elenco.

    Sabrina Ferilli, considerada um dos maiores símbolos sexuais da atualidade, foi escalada para estrelar o longa, que conta também com atriz Margherita Buy, a qual participou do ganhador do Oscar "A Grande Beleza", e tem direção de Maria Sole Tognazzi, filha do ator Ugo Tognazzi.

    No filme, Ferilli interpreta Marina, extrovertida e militante, enquanto Buy representa Federica, uma mulher tímida e introvertida, que já foi casada e tem filhos. As duas resolvem viver juntas e, no dia a dia, enfrentam crises como qualquer outro casal. Em entrevista à imprensa, Ferilli chegou a comparar a decisão de aceitar este papel a de Tom Hanks ao interpretar um gay diagnosticado com Aids no filme "Philadelphia", de 1993, que lhe garantiu um Oscar de Melhor Ator. Ele foi a primeira das principais estrelas de Hollywood a encenar um homem gay nos cinemas.

    Apesar de receber elogios da crítica, o filme foi considerado ameno e superficial na sua abordagem. O jornal local "La Stampa" chegou a chamar a obra de o "anti-Azul é a Cor Mais Quente", referindo-se ao longa francês polêmico por explícitas cenas de sexo entre um casal de lésbicas.

    No entanto, para Buy, "esse filme não levanta bandeiras, mas faz entender o que acontece dentro de um casal homossexual". "É um egoísmo não estar ciente dos problemas de pessoas de orientações sexuais diferentes", disse a atriz. Já a diretora do filme pontuou que se trata de uma comédia romântica, e não uma obra de denúncia. "A mensagem que quero dar é que não estamos contando uma história diferente, mas igual a todas as outras. É claro que o direito de todos deve ser igual.

    Somente neste sentido pode ser considerado um filme político", explicou.

    Consultada pela ANSA Brasil, a ativista Fabiana Montanari, da ONG italiana Arcigay, explicou que "um filme não é suficiente para mudar a mentalidade do país" e que "é preciso o empenho de toda a população".

    Mas ela admitiu que a obra ajuda a mostrar ao público heterossexual "uma realidade de vida que muitos não levam em consideração".

    O longa foi lançado em um momento em que a Itália tenta aprovar no Parlamento uma legislação para união civil entre pessoas do mesmo sexo, uma das bandeiras do jovem primeiro-ministro, Matteo Renzi, de 40 anos.

    No entanto, em um país onde sua sede legislativa se encontra na mesma cidade que abriga o Vaticano, a aprovação tem sido particularmente difícil, com oposição de conservadores e grupos católicos. A Itália é o único dos maiores países europeus que ainda não possui uma legislação para os casamentos gays. Um dos termos mais polêmicos do projeto em trâmite é a adoção.

    Segundo o texto atual, o casal homossexual poderia adotar uma criança gerada por um dos pais, mas não filhos de terceiros - como acontece em uniões heterossexuais. Para aquecer as discussões, na semana passada, o Conselho de Estado da Itália, órgão de consulta jurídico-administrativa, não reconheceu os casamentos realizados em outros países que foram validados por Prefeituras de algumas cidades, como Roma e Milão.

    A instituição considera que a medida vai contra a legislação vigente.

    A decisão foi tomada pelo juiz Carlo Deodato, que se define, em seu perfil no Twitter, como "jurista, católico, casado e pai de dois filhos. Homem livre e observador independente de política, jurisdição, costumes e sociedade". (ANSA)