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Camerata Latino Americana lança álbum “Suíte Contemporânea Brasileira”

Sob direção de Simone Menezes, projeto tem excelência, cabeça e coração dedicados à música erudita

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Apesar dos bem sucedidos trabalhos na área de Orquestras Sinfônicas no Brasil, uma lacuna considerável permanecia: a ausência de um projeto de orquestra de câmara de alto nível na música erudita. Essa lacuna começa a ser preenchida com o trabalho da regente brasileira Simone Menezes. Pupila de Paavo Järvi, da Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, a diretora musical da Camerata Latino Americana prepara o lançamento de seu terceiro álbum, Suíte Contemporânea Brasileira (o primeiro à frente do grupo), no concerto que acontece no sábado, 13 de junho, às 20h, na CPFL Cultura, em Campinas (SP).

A Camerata é formada por solistas e trabalha, desde 2013, sob diversas formações. O grupo reúne nomes como a flautista Sarah Hornsby, o clarinetista Ovanir Buosi, o violista Gabriel Marin, o cellista Raiff Dantas Barreto, e conta com participações especiais de Claudio Cruz. Com a Camerata, Menezes tem alavancado a divulgação da música de concerto brasileira e latino-americana por meio de interpretações originais que aliam excelência musical a conhecimento de história. “Neste primeiro álbum, a Camerata Latino-Americana procurou apresentar, de forma irreverente, um pouco da diversidade da composição contemporânea brasileira”, diz Simone Menezes, que começou a carreira como regente da orquestra da Unicamp e já conduziu algumas das principais orquestras brasileiras, incluindo a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

O álbum, nas palavras do ensaísta e pesquisador Maurício Ayer, é uma “série de instantâneos, quadros de uma exposição entre os quais deslizamos nossos ouvidos”. No repertório estão composições como Tango (2000), de Liduino Pitombera, que evoca elementos da música do Oriente Médio introduzidos na península ibérica durante a Idade Média. Segundo o próprio Pitombera, a composição tinha como objetivo escrever uma trajetória do tango que culminasse em Astor Piazzolla, compositor argentino que reinventou o gênero incorporando técnicas composicionais da música de concerto. Dele também é Suíte Hermética (2005), que mistura baião, salsa, tango e frevo. “É como dar-se conta de que tanto o rio São Francisco, que banha as Alagoas de Hermeto Pascoal, quanto o rio da Prata, de Buenos Aires de Piazzolla, recebem vertentes das mesmas serras de Minas Gerais”, escreve Ayer.

O álbum tem também composições de Silvio Ferraz (Dois Poemas de Annita C., de 2010), Rodrigo Lima (Quinteto de Sopros N.2, de 2004), Alexandre Lunsqui (Guttur, de 2014), Flo Menezes (Apologia dos Arquétipos, 1984) e João Guilherme Ripper (Concerto a Cinco, 2012). Segundo Menezes, embora este trabalho puxe para o contemporâneo, o foco do grupo é a música de concerto latino-americana como um todo. “Ainda temos coisas a gravar de Villa Lobos, Glauco Velasquez e muitos outros”, diz. “A Camerata Latino Americana está sendo construída sobre esta base conceitual de qualidade. Nossa missão é fazer o que precisa ser feito do repertório brasileiro e latino americano ‘sem sotaque’. Não se trata só de tocar muito bem uma obra, precisamos ter uma história a contar sobre cada obra. Isto exige não só os melhores músicos. Exige um time que tenha prazer em estar junto e fazer um trabalho minucioso e conceitual.”

A regente defende um diálogo entre pesquisadores e intérpretes, o que diz ainda ser raro no país. "Este é o tipo de trabalho que queremos construir com a Camerata Latino Americana. O caminho é longo, mas é sólido. Ninguém fica indiferente a um trabalho feito com excelência, cabeça e coração”, afirma. 

Sobre a regente Simone Menezes

Natural de Brasília, Simone Menezes começou sua carreira em 2004, quando fundou, ainda durante sua graduação, a Orquestra Sinfônica Jovem da Unicamp e assumiu o posto de regente-assistente da Orquestra Sinfônica da USP. Desde então, destaca-se como uma das raras regentes mulheres em um universo ainda notadamente masculino. 

A presença feminina no comando de orquestras é uma briga histórica que volta à tona com força no último ano devido a uma série de comentários machistas ocorridos no primeiro escalão da música clássica mundial.

Frases do tipo "a essência da regência é força e a essência da mulher é fraqueza", do maestro russo Yuri Temirkanov, ou ainda "a orquestra reage melhor a homens, pois uma garota bonita no podium significa que os homens podem pensar em outras coisas", do regente da Orquestra de Liverpool Vasily Petrenko, são ainda reproduzidas em pleno século XXI. Hoje é difícil estimar o número de mulheres regentes, mas a média mais otimista seria a média das orquestras norte americanas: uma mulher para 22 homens. Na Camerata, Menezes diz estar num processo de construção de um time. “É um prazer trabalhar com cada um deles. Todos têm muito a acrescentar e a ideia é formar uma equipe de bons músicos que não só possam tocar bem juntos, mas que tenham prazer em estar juntos.”

Serviço: Camerata Latino Americana (lançamento CD Suíte Contemporânea Brasileira)

Data: 13/06, as 20h

Local: CPFL Cultura | Rua Jorge Figueiredo Corrêa 1632, Chácara Primavera - Campinas, SP

Entrada gratuita, por ordem de chegada, a partir das 19h. Vagas Limitadas

Mais informações: (19) 3756-8000 ou www.cpflcultura.com.br