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Jornalista brasileiro lança biografia de Mujica

Marcos Lessa lança biografia do ex-presidente que legalizou a maconha, o aborto e o casamento gay

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A vida do homem que elevou o Uruguai ao status de país do ano em 2013, que foi indicado ao Nobel da Paz, que legalizou a maconha, o aborto e o casamento gay é objeto da biografia escrita pelo jornalista Marcos André Lessa. O livro "Mujica: o presidente mais rico do mundo", será lançado no dia 27 de abril, às 18h30, na Livraria da Travessa de Botafogo.

A intensa história de José Alberto Mujica Cordano, conhecido popularmente como Pepe Mujica, se confunde com a de seu país. Ele participou ativamente da fundação do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros e da Frente Ampla, que há dez anos está no poder. Esse lutador social, que disputou sua primeira eleição aos 60 anos, movido por convicções e não por cifrões, atinge o ápice de sua trajetória aos 75, quando eleito presidente. Durante o mandato, a simplicidade do chefe de Estado chamou a atenção do mundo e rendeu a acusação de marketing político. Ao que respondeu: "Mas eu vivo assim há quarenta anos!"

Para biografar o personagem que apareceu na lista dos 100 mais influentes do mundo (escalados pela revista Time, com resenha da indicação assinada por Barack Obama), o autorse debruçou, durante meses, sobre mais de uma centena de entrevistas e discursos do ex-presidente latino-americano, concedidos em períodos distintos da carreira política. Pesquisou dezenas de artigos e reportagens, e teve acesso a inúmeras fontes uruguaias. Quando perguntado sobre o que o motivou, o autor explica: "A liberdade com que Mujica governou, não se furtando a criticar até mesmo o seu próprio partido, é raríssima. Ele fazia comentários fortes mesmo estando no poder", afirma. A capacidade de diálogo, o desapego e a autocrítica também são aspectos que cativaram o jornalista.

Algumas passagens narradas no livro sublinham tais características, como quando o governante foi questionado quanto ao risco político da regulação da produção e do consumo da maconha: "É um risco sim, mas definitivamente o mundo não teria mudado se só tivéssemos pensado nos riscos eleitorais. Queremos combater o narcotráfico ao roubar-lhe o mercado. Se conseguiremos, não sei. O que pedimos é o direito de experimentar frente ao evidente fracasso, em todos os lugares, que a repressão teve... O que queremos fazer é um teste social", conclui.

Com prefácio do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), o livro apresenta recortes diversos do uruguaio: "Mujica e a guerrilha", "Mujica e a América Latina", "Mujica e o aborto", "Mujica na Copa". Estão todos retratados vivamente nas 224 páginas. Em "Mujica e a prisão", observamos o período mais árido deste homem que cuidava de flores, durante a infância no campo. Lessa observa que "a tristeza só se apropria do semblante de Pepe quando fala desse tempo. Ele só menciona a prisão quando é perguntado diretamente. E ainda assim, parece fazer um esforço tremendo, segurando-se para não ser mal-educado". Não à toa, o capítulo abre com o pungente depoimento do ex-guerrilheiro: "Vivi dez anos metido em um 2x3 e ficava contente quando à noite me punham num colchão. No poço, descobri que as formigas gritam. Basta aproximar o ouvido bem de perto para comprovar." O cárcere é encerrado com a fuga cinematográfica do líder tupamaro, literalmente cavada por ele e seus companheiros.

Segundo o autor, o diferencial desta obra, de cunho jornalístico e objetivo, é o referencial: "Minha proposta é transportar o leitor àquele país, sob a ótica de um brasileiro. É interessante observar que temos muitas semelhanças históricas", afirma. Lessa nos aponta paralelos inevitáveis entre as trajetórias de Lula, Dilma e Mujica. O papel da burguesia paulista (a que Pepe chama de "colonizadora" e "fagocita") na integração latino-americana também é abordado.

"Mujica: o presidente mais rico do mundo" é ponto de partida para aqueles que querem pensar o futuro político do país vizinho. O que Tabaré Vázquez fará do legado deixado por seu antecessor? Que Uruguai surgirá diante de uma América Latina em grave crise? Qual será o papel do ex-presidente no senado? Continuará influente? Diante de tantas incertezas, Marcos nos coloca algumas considerações: "Mujica chegou ao final de seu mandato querendo descansar, nem quis ser presidente da Unasul. Perto dos 80 anos, após uma intensa vida política, pensa em retornar à rotina simples de sua chácara, ao lado da companheira (a senadora Lucía Topolansky), colhendo suas flores, tomando seu mate, cuidando dos seus cachorros e de seu reduzido patrimônio. A mosca azul do poder e de seus privilégios nunca o picou, o que ficou claro quando o mundo descobriu, estarrecido, o seu desapego ao poder e ao dinheiro."

Marcos André Lessa, 34 anos, é jornalista formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com pós-graduação em Comunicação e Imagem, pela PUC-Rio.

Serviço:

Lançamento: 27 de abril, segunda-feira, às 18h30

Local: Livraria da Travessa Botafogo

Rua Voluntários da Pátria, 97 - Botafogo/RJ