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Hilda Hilst é homenageada em exposição na capital paulista

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A Ocupação Hilda Hilst apresenta a trajetória de vida e artística da escritora, poeta e dramaturga em uma exposição aberta ontem (28) no Itau Cultural, na Avenida Paulista, região central da capital. São manuscritos, anotações cotidianas, fotos e vídeos com registros da artista declamando as próprias obras. A cenografia é baseada na Casa Sol, em Campinas, onde Hilda viveu por 38 anos, até a morte em 2004.

Por isso, não são usados para compor o espaço materiais sintéticos, como plásticos e acrílicos. A preferência é pela matéria crua, o linho, couro, minerais e madeira para montar o assoalho. As cores são ocre e rosadas, sob iluminação baixa. Também há a reprodução da figueira, árvore símbolo da casa, que era tanto um retiro quanto local para receber amigos e artistas.

Para Luisa Destri, doutoranda em literatura da Universidade de São Paulo (USP), a mudança da capital paulista para o interior também é uma forma da literatura interferir na vida da autora. Ela subvertia a expectativa que a obra é reflexo das experiências pessoais, transformando a vida por influência do trabalho.

“Observa-se o progressivo desenvolvimento de uma estratégia: as aparições públicas da autora, cuja figura se aproxima constantemente de suas personagens, aos poucos tornam-se parte integrante de seu projeto literário”, analisa Luisa em texto elaborado para a mostra.

Segundo a pesquisadora, a mudança de Hilda se assemelha ao retiro em um mosteiro. Apoiada em entrevistas da autora à época, Luisa compara a dedicação da escritora à literatura aos votos religiosos. “O retrato de Hilda como sacerdotisa da literatura articula-se ao seu processo criativo”, ressalta a pesquisadora, responsável pela organização de uma das antologias da artista e coautora do livro Por que ler Hilda Hilst? .

Também estudioso da obra da artista e doutorando em literatura na USP, Ronnie Cardoso enfatiza o diálogo de Hilda com a música e as artes plásticas. “Não é por outra razão que seus versos tenham inspirado uma série de compositores – tanto eruditos, como Gilberto Mendes e José Antônio de Almeida Prado, quanto populares, como Adoniran Barbosa e Zeca Baleiro”.

“Não é difícil perceber a sofisticação harmônica que pontua sua construção lírica, o que torna ainda mais significativo alguns de seus livros e vários de seus poemas serem intitulados por meio de terminologia musical”, acrescenta ao citar os poemas Balada de AlziraBalada do Festival e Sete Cantos, do Poeta para o Anjo.

Em suas personagens, imersos em tramas heterodoxas, com luxúria e incesto, Cardoso acredita que Hilda explorava o âmago das dúvidas e dores existenciais comuns a toda humanidade. “De certo modo, compartilhamos com elas das mesmas dúvidas em relação à finitude da vida. Levantamos questões similares diante de um Deus, como pensa Hilda, cego, surdo, mudo e ausente. Experimentamos igual devoção amorosa. Emparelhamo-nos em vista de idêntico desamparo. Talvez, com menos arrogância e altivez, reconheceríamos que elas habitam em nós mesmos”, disse.

A mostra fica em cartaz até o dia 21 de abril, aniversário de morte da artista.