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Livro 'Kalma Murtinho, figurinos' é lançado nesta terça pela Funarte

Publicação inclui introduções de Fernanda Montenegro e Barbara Heliodora

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A Fundação Nacional de Artes - Funarte nesta terça-feira (16), às 19h30, no Teatro Tablado, Zona Sul do Rio de Janeiro, o livro "Kalma Murtinho, figurinos". A publicação, que apresenta mais de 400 desenhos, croquis e fotos dos trabalhos da figurinista, inclui uma cronologia completa de sua obra, além de textos críticos e depoimentos, inclusive da própria artista - uma das mais célebres da cena brasileira - alguns deles exclusivos para o livro. Organizada por Rita Murtinho (filha de Kalma e também figurinista) e pelo ator, roteirista e diretor Carlos Gregório, a publicação inclui introduções de Fernanda Montenegro, Barbara Heliodora e Paula Santomauro.

O livro representa mais de 60 anos de trabalho daquela que se dizia uma "operária das artes"(1). A obra inclui textos jornalísticos, como os de Carlos Drummond de Andrade, Fausto Wolf, Yan Michalski, Macksen Luiz e Sábato Magaldi e pelos testemunhos dos parceiros de trabalho de Kalma Murtinho - como Gianni Ratto, Maria Clara Machado e Camila Amado, entre outros, que ajudam a contextualizar a obra da figurinista na história do teatro brasileiro.

O presidente da Funarte, Guti Fraga, analisa: "A exuberância do teatro brasileiro, respeitado no mundo todo, se deve, em grande parte, ao talento de nossos cenógrafos e figurinistas. Entre estes, sobressai o trabalho de Kalma Murtinho. Ela pertence à geração que profissionalizou e deu visibilidade ao ofício. Assinou figurinos em espetáculos que fizeram a história de nossas artes cênicas". O presidente destaca que o Brasil carece de publicações sobre cenografia e figurino. "O livro resgata essa trajetória de êxitos e a deixa disponível para as novas gerações", conclui.

A carioca Maria Carmen Braga Murtinho (1920 - 2013) criou indumentária, cenários e adereços para teatro, carnaval, dança, ópera, televisão, cinema e shows, num total de mais de 220 produções, a grande maioria para teatro. Ganhou mais de 30 premiações, de 1955 a 2007, sendo quatro prêmios Molière; seis troféus Mambembe (Ministério da Cultura); dois prêmios Shell; e os prêmios das associações brasileira, carioca e paulista de críticos teatrais; além dos prêmios Saci e Ibeu, entre outros. 

Começou nos anos 40, antes de existir no Brasil a profissão de figurinista, "no tempo em que se dedicar ao teatro significava fazer de tudo, de varrer os bastidores a atuar"(1), por isso acostumou-se a tirar ela mesma as medidas dos modelos e a comprar material. "O processo de profissionalização é bastante difícil no Brasil. Se não houvesse a lei reconhecendo os artistas [...], não teríamos chegado a nada. Mas [...] nossa profissão não está organizada"(1), advertiu. Seu trabalho era feito com planejamento e apuro, além de zelo pela pesquisa e p ela antecedência - entregava os figurinos já nos ensaios - porque, como dizia, "a roupa ajuda o ator a vestir o personagem"(2).

Barbara Heliodora, Fernanda Montenegro e Paula Santomauro escrevem sobre Kalma

Na introdução do livro, Barbara Heliodora lembra que, no começo da carreira, Kalma Murtinho exercia mais de uma função - atriz, figurinista e cenarista - em produções amadoras, no Teatro Tablado, junto a Maria Clara Machado, com quem colaborou, por 40 anos. Muito solicitada como figurinista, Kalma teve que decidir por uma das atividades. "Para sorte do teatro brasileiro, [...] optou pelos figurinos", diz a jornalista. Mas não deixou os cenários, também marcados pela excelência. "Para produzir figurinos dessa qualidade, é necessária uma consciência muito precisa do que pode sugerir a realidade, quando apresentada no palco", avalia Barbara. Ela diz que "a partir da década de 1970 Kalma é, de longe, a pessoa mais requisitada em sua profissão" e lembra os sucessos da artista, como o do ano de 1979 quando retrato u a malandragem carioca em O rei de Ramos, de Dias Gomes, no Teatro João Caetano. A crítica ressalta o prazer, o amor e o cuidado com que Kalma tratava cada peça. Acrescenta que a artista fez "as centenas ou os milhares de figurinos que vestiram o melhor do teatro brasileiro", sempre servindo aos roteiros com precisão, sem nunca ter procurado enfatizar seu próprio trabalho - para que ele fosse um "serviço prestado ao texto e ao diretor". Cita ainda Marília Pêra, que disse: "...sempre que dirijo um espetáculo eu a convido [...] porque ter Kalma em um espetáculo é cercá-lo de sabedoria e elegância". A atriz e encenadora relata que dirigiu quatro peças com figurinos assinados pela figurinista e enaltece a elegância e a delicadeza das suas criações de Kalma.

Fernanda Montenegro fala de sua experiência com o trabalho da indumentarista. Diz que ela sempre trazia para os atores "o milagre da não estranheza, do não desconforto". E explica: "Em teatro, às vezes, o hábito faz o monge. Kalma não cria no 'de fora para dentro', mas, sim, no "de dentro'". Acrescenta que o ator era "envolvido" pelos figurinos da artista "que você leva como leva seu corpo. [...]", sempre integrados ao intérprete. "Devo a Kalma Murtinho encontros cênicos inesquecíveis. Figurinos que traziam apoios conclusivos para aquela interpretação". E conclui: "Não vejo na história da nossa indumentária cênica nenhum outro artista com tal extraordinária presença criat iva ao longo de tantos [...] anos...". Já Paula Santomauro revela detalhes curiosos da biografia e da personalidade de Kalma; e alguma coisa da sua infância e vida cotidiana - em casa, e na loja de artesanato que abriu em Copacabana, onde iam artistas e intelectuais e que inspirou até um poema de Drummond (reproduzido no livro). Paula descreve, ainda, as primeiras pesquisas teatrais de Kalma.

Kalma Murtinho, figurinos

Organização: Rita Murtinho e Carlos Gregório

Edição Funarte

244 páginas

Preço: R$ 50

Lançamento: 16 de setembro, terça-feira, às 19h30

Teatro Tablado

Av. Lineu de Paula Machado, nº 795, Lagoa - Rio de Janeiro, RJ

Tels. (21) 2294 7847 | (21) 2239 0229