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Crítica: 'O ditador'

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Politicamente incorreto, vulgar, ofensivo e engraçado. É assim que todos conhecem Sacha Baron Cohen, ator do famoso e hilário Borat e também do fraco e cansativo Brüno. Ambos frutos da parceria com o cineasta Larry Charles, os filmes utilizam piadas que envolvem ficção e realidade de modo a confundir o público, que nunca tem certeza do que é espontâneo ou do que é roteirizado. Ao menos assim era à época em que foram lançados. Hoje em dia, com a revelação dos recursos, talvez haja menos dúvida, porém não menos diversão e reflexão. As tiradas do comediante exploram e desconstroem valores e preconceitos americanos, o que incomoda a muitos, mas garantem o sucesso.

No mais novo resultado da parceria Cohen-Charles, vê-se o rompimento com estrutura cômica anterior e, por que não, com a atual do gênero. Sem deixar de criticar o american way of life que teme o estrangeiro e leva a democracia ao países não-aliados, O Ditador se diferencia pela ausência das câmeras escondidas, dos personagens não atores e, principalmente, por ser inteiramente roteirizado. 

Ao mesmo tempo, as semelhanças não são difíceis de serem encontradas. O filme conta com atores conhecidos como Edward Norton (O Legado Bourne), que juntamente a Megan Fox (Transformes), interpreta a si mesmo e topa fazer sexo por dinheiro. Autoparódia típica de Cohen. Mas se o espectador espera ver mais uma ácida crítica de caráter político-cultural, pode se decepcionar. O filme não se trata disso.

Mais para Um Príncipe em Nova Iorque, o egocêntrico general Aladeen é um ditador do Norte da África, que, devido a uma conspiração de seus aliados, acaba na Big Apple como um total desconhecido e "se mete em confusões" típicas de um filme qualquer da Sessão da Tarde. O humor gira sempre em torno de piadas politicamente fracas como as que incluem o ataque dos neoconservadores americanos (11 de setembro de 2001) e a jovem ativista, par romântico e utópico do tirano. 

Mas há um único momento em que uma crônica política ganha força. Ao fim do filme, Aladeen discursa para diversos líderes mundiais que esperam que a democracia seja instalada no país do ditador. Ao invés disso, ele tenta convencer as Nações Unidas enumerando as vantagens de uma ditadura. Entre elas, o controle da imprensa, a prisão sem julgamento, torturas, concentração de renda nas mãos de poucas famílias, mentiras sobre o porquê das guerras e muitas outras que, curiosamente, estão presentes em muitos governos ditos democráticos, como o americano e o brasileiro (não televisionado, é claro). Por fim, ele se rende e pede por uma real democracia, ou seja, que não essa presenciada atualmente. A maior cena do filme.

Para atingir a massa, Baron Cohen decidiu incomodar menos e passar sua mensagem somente nos minutos finais do filme. O resultado é fraco, porém deve alcançar uma maior bilheteria. Já para alcançar o humor é preciso ficar para os créditos. A trilha sonora final vale o ingresso.  

Cotação: ** (Bom)