Um sugestivo jardim em forma de labirinto composto por 3.200 plantas marca uma homenagem da cidade italiana de Veneza ao escritor argentino Jorge Luis Borges, cuja morte completou 25 anos na terça-feira (14). A gigantesca obra foi inspirada num dos contos mais famosos do autor, El Jardín de los Senderos que se Bifurcan (O jardim dos caminhos que se bifurcam, em português), e foi concebida na década de 1980 pelo arquiteto inglês Randoll Coate. Sua inauguração foi feita pela Fundação Cini, que teve a ideia da homenagem na data.
A obra de mais de dois quilômetros está localizado num dos sítios mágicos da cidade de Marco Polo, na ilha San Giorgio Maggiore, em frente à praça São Marcos. Foi planejado para ser um local para se pensar, permitindo aos visitantes, por vezes, se perder entre seus arbustos.
A imagem de labirintos de caminhos intrincados e versos compostos de uma forma muito própria inspiraram boa parte da obra literária de Borges, um dos escritores mais destacados da literatura do século XX, autor de ensaios, contos e poemas. "Ele amava Veneza mesmo quando não podia vê-la", disse a viúva de Borges, Maria Kodama, ao jornal La Repubblica, durante a inauguração.
Cego desde os 55 anos, personagem polêmico por suas posições políticas que o impediram de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, Borges visitou Veneza pela última vez em 1984, dois anos antes morrer. A imprensa italiana classificou sua obra como "fascinante e onírica".
"Foram necessários muitos anos de um trabalho paciente para criar o 'Labirinto de Borges'. Finalmente existe um na Europa", completou a viúva do escritor.
O jardim veneziano em homenagem ao escritor já é um dos maiores do mundo do tipo, superado apenas por aquele construído em 2003 em Los Alamos e em San Rafael, na Argentina. Visto do alto, ele reproduz o nome de Borges escrito de trás para frente, num jogo de palavras e formas de múltiplas interpretações, a exemplo de toda a sua obra literária.
Por vontade de Maria Kodama, um corrimão no qual está gravado em braile o conto El jardín de los senderos que se bifurcan permitirá ao visitante que for cego encontrar a saída do local.