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Contista e cronista, Ivana Arruda Leite lança seu primeiro romance

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Carolina Leal, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Poderia ser mais uma história de amor e infidelidade na libidinosa paisagem carioca, se o flagrante da traição não transportasse a personagem Renata de um falido casamento de 10 anos para um novo mundo. E se essa nova realidade não tecesse histórias de vida intercaladas em um hotel-espelunca no centro de São Paulo. Ainda mais: se a esposa refinada e traída não fosse, na verdade, uma ex-prostituta e amante de um importante membro da chamada alta sociedade.

Em seu primeiro romance, Hotel Novo Mundo que será lançado no dia 4 de agosto na Travessa de Ipanema a escritora Ivana Arruda Leite conta a história de Renata, uma mulher que decide abandonar a vida no Rio. E recomeçar diante de acontecimentos que se passam no espaço de uma semana na capital paulista.

As novidades, para Renata, não são poucas. A autora intercala a narrativa de personagens que vão desde um bancário solteirão quase-convicto a um dono de hotel-espelunca que, na verdade, é pianista da noite paulista, um pai de santo, um estilista de vestido de noiva barato, uma jovem menina de saúde debilitada e muita vitalidade, entre outras figuras reunidas no mesmo barco. Ou melhor: nas redondezas de um hotel barato.

Ivana, mesmo escrevendo desde pequena, teve seu primeiro livro publicado apenas quando completou 50 anos: os contos Falo de mulher (Ateliê). Depois, vieram títulos como a novela Eu te darei o céu (Editora 34), e Ao homem que não me quis (Agir), mais contos.

Eu passei a minha vida escrevendo, desde pequena revela a escritora, que atualmente é funcionária pública e desenvolve o trabalho literário paralelamente. Acho que todo escritor era uma criança esquisita. Ao longo desse tempo, tentava publicação, mas não conseguia. Apesar disso, nunca desisti. As coisas só foram acontecer de uns anos para cá.

Muitas vezes citada como integrante de uma nova geração de escritores paulistas - da qual fazem parte nomes como Marçal Aquino e Marcelino Freire, amigos com os quais a escritora costuma se reunir na Mercearia São Pedro, espécie de point da literatura em São Paulo Ivana comenta que já se considera até da 'velha guarda'.

Eu e alguns outros escritores somos parte de um grupo que surgiu no começo do ano 2000. Por isso, acredito que já tenha até uma nova geração surgindo depois da gente. Gostamos de nos reunir na Mercearia, para comemorar, discutir literatura, criação. Mas também para falar da vida dos outros brinca Ivana.

Neste novo trabalho em que trabalhava desde 2004 a autora adentra na vida de cada um dos personagens que cruzam o caminho de Renata. À narrativa desses encontros mistura-se o pensamento da protagonista. O livro apresenta, com humor e ironia, histórias de amores frustrados, homossexualidade reprimida, rejeição e um pouco da solidão das grandes capitais.

Ivana considera o livro diferente dos anteriores por ter um toque mais 'esperançoso'. E aproveita para esclarecer que que o título não faz nenhuma referência ao hotel homônimo localizado na Praia do Flamengo, no Rio, cenário do romance Quase memória, de Carlos Heitor Cony.

Queria falar de alguém que começa a vida do zero e dá certo em um outro lugar comenta. O livro tem algumas metáforas, como Renatinha, que vem de renascida; Divino, que é o cara que traz um período agradável a ela; e o nome do hotel, como uma indicação da nova vida que se oferece à personagem. Na verdade, eu nem sabia da existência desse hotel no Rio. Depois de publicar que vieram me falar do livro do Cony.

Para Ivana, a escrita é um trabalho diário, e o processo de criação, inconsciente. Diz que recentemente percebeu que seus livros têm algo de cronologia, e que ela 'funciona bem escrevendo assim'.

Hotel Novo Mundo tem sete capítulos, um para cada dia da semana. O conto 'Mulher do povo' começa numa segunda-feira e termina no sábado. Eu te darei o céu é narrado em 10 capítulos, um para cada ano entre 1960 e 1970.

Valendo-se de uma linguagem das mais acessíveis, Ivana diz que o rebuscamento não é o seu objetivo principal:

Eu sou coloquial, não fico inventando palavras. Sou apaixonada mesmo é por contar histórias define-se.

E, por falar em contar histórias, a autora tem um segundo romance na manga, já com o título definido: vai se chamar Alameda Santos. A escritora, que concentra seus esforços diários na nova criação, diz que, ao contrário de Hotel Novo Mundo, fruto de um processo puramente imaginativo, Alameda Santos é bastante autobiográfico.

Ah, e também cronológico: com nove capítulos, um para cada ano entre 1984 e 1992.

Tem um pedaço da minha vida ali antecipa.