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Walbercy Ribas lança seqüência para animação 'Grilo feliz'

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Carlos Helí de Almeida, Jornal do Brasil

RIO - Durante as festas de fim de ano, 'período em que a gente passa mais tempo em casa', Walbercy Ribas teve oportunidade de conferir as atrações de animação da TV dirigida às crianças.

Constatou o que já intuía: os programas estão cada vez piores. Essa negligência com os menores, no entanto, estimula o cineasta e publicitário de 65 anos a driblar as barreiras do mercado brasileiro e continuar fazendo trabalhos para o público infantil sem abrir mão da qualidade .

Como O grilo Feliz e os insetos gigantes, que chega aos cinemas sexta-feira. É uma nova aventura com o simpático ortóptero azul, originalmente criado nos anos 70 para uma marca de TV.

Fiquei com pena dos pequenos. As séries feitas para as crianças são muito ruins. Não há animação de verdade, só a boca dos personagens se mexe. A TV virou mesmo babá eletrônica critica Ribas, criador de figuras que se tornaram ícones da publicidade dos últimos 40 anos.

Lançado em 2001, o primeiro filme com o inseto que tira música de uma violinha feita com casca de amendoim levou quase duas décadas para sair do papel. Custou R$ 2,9 milhões e combinava técnicas tradicionais de pintura em acetato e computação gráfica.

Os insetos gigantes consumiu R$ 4 milhões e apenas três anos de trabalho, mas continua concorrendo com o poderio tecnológico e financeiro do similar estrangeiro.

Desenhos como Madagascar 2 A grande escapada impressionam pela simplicidade da história e o primor técnico. E contam com uma mídia gigantesca compara Ribas.

Jamais conseguiremos fazer algo parecido aqui no Brasil, porque não temos dinheiro nem estrutura tecnológica para manter uma produção contínua. A gente monta uma estrutura para fazer um desenho e manda as pessoas embora no dia seguinte.

Sapos-rappers da periferia

O animador brasileiro compensa as limitações econômicas com um conteúdo lúdico-educativo. Se no primeiro filme do grilo o enredo destacava valores como a amizade e abraçava a causa ecológica, Os insetos gigantes inclui temas como inclusão social, exploração do trabalho infantil e pirataria.

Na história, Feliz e um grupo de rap formado por sapos tentam gravar um CD, plano sabotado pela louva-deus gigante Trambika, que atrai crianças de rua com doces.

Netão, Sinistro e Caradura, os sapos cantores, fazem um tipo de música ligada à periferia das grandes cidades. Eles são o contraponto cômico da história explica Ribas, que busca assim ampliar a faixa etária do público alvo.

Não quero ser educador. Mas, já que o nosso filme usa dinheiro de incentivo fiscal, vamos dar às crianças alguns bons exemplos, para que elas ajudem a construir uma sociedade melhor e mais justa desde cedo.

Os insetos gigantes é co-dirigido por Rafael Ribas, filho de Walbercy, que trabalhou na pós-produção digital do primeiro longa do grilo. Aos 29 anos, ele é a prova de que a animação está no sangue.

Rafael se formou em artes plásticas na Escola de Belas Artes da USP, mas insistiu em continuar no ramo do pai. Ele vinha ao meu estúdio desde bebezinho conta, orgulhoso.

Aos 15 anos participou da primeira animação dele, um comercial para a Colgate que foi animado aqui no Brasil.

A experiência e os prêmios conquistados por sua arte poderiam abrir os caminhos profissionais de Ribas no exterior. Mas ele optou por continuar no Brasil.

Aqui, criei peças importantes e ganhei dinheiro e prêmios internacionais fazendo publicidade. Muitos foram tentar trabalhar lá fora, em países que oferecem maiores oportunidades, mas não tiveram a mesma sorte. Não os condeno afirma.

Minha ambição não é por dinheiro, é por realização. E estou provando que, mesmo com muita luta e pouca verba, é possível vencer aqui mesmo.