ASSINE
search button

Diretor conta o que usou para imaginar mortes em 'O Albergue II'

Compartilhar

Portal Terra

LOS ANGELES - Perdoem-me o trocadilho, mas o faturamento bruto - e como foi bruto! - de O Albergue (2006) surpreendeu Hollywood. O projeto de US$ 4 milhões arrecadou mais de US$ 80 milhões e ninguém ficou mais surpreso que o roteirista e diretor do sanguinolento trabalho, Eli Roth.

- O estúdio achava que o filme era nojento demais, e queria lançá-lo só em DVD - disse Roth.

- Foi só depois de algumas exibições de teste que eles chegaram à conclusão de que talvez devessem levá-lo às salas de cinema, porque era possível que existisse público para aquilo. Um dos motivos para que fizéssemos o primeiro Albergue com verba de US$ 4 milhões era o fato de que bastaria faturar US$ 15 milhões para que ele representasse um enorme sucesso.

Perturbadoramente sádico, chocantemente cru e ocasionalmente resvalando para a sacanagem, O Albergue acompanha três mochileiros que se hospedam em um albergue na Eslováquia imaginando que encontrarão mulheres nuas e muito sexo. Mas eles terminam nas mãos de uma organização que vende pessoas a homens dispostos a pagar caro pela oportunidade de torturá-las, mutilá-las e pôr fim às suas vidas sem medo de represálias.

E o que, nessa mistura, atraiu o público? Por que O Albergue se tornou um filme matador nas bilheterias?

- Quando faturamos US$ 20 milhões na abertura, eu compreendi que havia muito mais gente por aí com medo das mesmas coisas que eu. O filme era de fato uma reação a ver todas as diferentes imagens de tortura que vinham do Iraque, e a sensação era a de que existia uma seção da opinião pública norte-americana que sentia que o resto do mundo queria nos matar. Porque estávamos vendo aquelas imagens vindas do Iraque, era uma idéia que estava na cabeça de todos - diz Roth.

- A realidade da coisa bateu quando o DVD do filme saiu e estava vendendo mais que (As Crônicas de) Nárnia na rede Wal-Mart - prossegue Roth.

- Nárnia tinha saído uma semana antes em DVD, e nós os tiramos do primeiro posto de vendas, como aconteceu nas salas de cinema. A idéia que me ocorreu foi a de que aquilo estava mesmo na cabeça de todo mundo. Eu acho que o filme capturou o medo daquele momento.

Agora surge a inevitável continuação, "O Albergue Parte II", que estréia em 8 de junho (nos Estados Unidos). Roth uma vez mais escreveu e dirigiu o filme, e uma vez mais conta com Jay Hernandez, que interpretou Plaxton, o único sobrevivente da primeira parte.

Os estreantes incluem Roger Bart e Richard Burgi, como vilões, e Lauren German, Bijoui Phillips e Heather Matarazzo como vítimas.

Falando ao telefone de seu escritório em Los Angeles, Roth, 35, explica, animado, que ele escolheu o nome do filme porque o considera como continuação direta da primeira história.

- Se você cortar os títulos finais da primeira parte e os créditos da segunda pode executar o resultado como um filme contínuo. "O Albergue Parte II" acompanha a história de Paxton e o que acontece como resultado da primeira parte. Também introduzimos uma linha narrativa sobre três garotas norte-americanas (German, Phillips e Matarazzo) que decidem estudar na Itália durante seu segundo ano de faculdade. Elas vão passar um final de semana na Eslováquia, e depois disso acompanhamos os clientes, esses dois caras americanos (Bart e Burgi), que pagam pelo direito de matar as meninas. Nós vamos ver exatamente o que acontece, do leilão tipo eBay pelas garotas até o momento em que eles e elas estão na mesma sala - diz o cineasta.

- E vamos descobrir tudo sobre a organização que as seqüestra.

Roth, que vem de Boston, estudou cinema na Universidade de Nova York e depois trabalhou em diversos filmes antes de tentar a mão em sua primeira produção de terror, co-escrevendo e dirigindo Cabin Fever, de 2002.

O filme narrava a claustrofóbica história de cinco universitários que alugam uma cabana isolada e quando chegam lá precisam encontrar moradores locais com tendências homicidas e um vírus implacável que ataca mortalmente.

Depois de "Cabin Fever", ele dirigiu "O Albergue" e em seguida participou de "Grindhouse", a colaboração entre Robert Rodriguez e Quentin Tarantino.

Roth co-estrelou como um nerd tarado no segmento dirigido por Tarantino, e também dirigiu "Thanksgiving", um dos falsos trailers que separam a metade dirigida por Tarantino da metade dirigida por Rodriguez.

O trailer de Roth envolvia sexo, decapitações e uma cheerleader peituda nua, que termina caindo sobre uma faca que atravessa seu corpo enquanto ela pula sobre uma cama elástica.

Quando pergunto de onde surgem as formas de morrer horrorosas que ele mostra - em O Albergue Parte II as vítimas são torturadas em cadeiras ou penduradas nuas de cabeça para baixo - , ele rapidamente menciona a igreja cristã como fonte de inspiração.

- Basta ver o que a Igreja fazia nos julgamentos de bruxas e o que temos nem chega perto - diz o cineasta, cujo próximo projeto envolve adaptar para o cinema um romance de Stephen King, Cell, sobre uma tecnologia que tem conseqüências catastróficas.

- Eles têm museus de tortura em Praga. Na Europa toda, na verdade. Há um calabouço de tortura em Londres. Pode-se ver os implementos que a Igreja criou para extrair confissões. Coisas inacreditáveis. Nunca vi nada parecido, as coisas que eles faziam. Boa parte da inspiração vem daí. No filme, há uma referência histórica específica, inclusive.

- E o resto - acrescenta Roth, rindo -eu só passeava por uma loja de materiais de construção e imaginava qual era a pior coisa que aquelas ferramentas podiam fazer.