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Novo filme sobre Truman Capote estréia

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REUTERS

SÃO PAULO - Cerca de um ano depois do premiado 'Capote', chega aos cinemas de São Paulo e Rio, nesta sexta-feira, o drama 'Confidencial', com o mesmo ponto de partida: o escritor Truman Capote durante a fase em que está produzindo sua obra-prima, o romance 'A Sangue Frio'.

Os dois filmes apontam também para o mesmo resultado: o livro destruiu seu autor, que nunca mais conseguiu ser o mesmo.

Aqui, Capote é interpretado por Toby Jones, numa caracterização muito mais afetada do que a oscarizada interpretação contida de Philip Seymour Hoffman. Aliás, o filme todo está mais composto num mundo de glamour desde sua primeira cena, num night club, com uma pequena participação de Gwyneth Paltrow, como a cantora Kitty Dean, e baseada na figura real de Peggy Lee.

O roteiro de 'Confidencial' foi escrito pelo próprio diretor, Douglas McGrath, baseado na biografia de George Plimpton, colagem de diversas entrevistas de pessoas que conheceram o escritor. O longa segue a mesma linha, colocando diversos personagens que dão seu depoimento sobre Capote.

Assim, vemos Harper Lee (Sandra Bullock) contando sobre a infância que passaram juntos e o escritor Gore Vidal (Michael Panes), falando que não gosta dele.

O mundo de Truman Capote é composto de fofocas, socialites e bebidas. Autor de alguns roteiros de cinema, livros e amigo de muitas celebridades, ele parece ter tudo o que quer, menos a inspiração para uma nova obra. Até o dia em que vê no jornal a notícia do assassinato de uma família no Kansas. Bancado pela revista 'New Yorker', ele viaja até a cidade para escrever uma série de artigos.

O que encontra é algo muito maior que pode render um livro. Mas Capote não se contentaria em escrever um livro-reportagem ou uma obra de ficção. Ele ambicionava criar um novo gênero, que combinasse as duas coisas. 'A Sangue Frio' tem investigação jornalística e também usa técnicas de ficção na construção de personagens, narrativa e clímax.

Numa pequena comunidade rural avessa às modernidades da cidade grande, Capote usa seu charme e poder de persuasão para tirar das pessoas informações importantes sobre a família assassinada e como o crime mudou a vida na cidade.

O livro de Capote já estava em andamento quando a polícia prendeu os dois criminosos, Dick Hickock (Lee Pace) e Perry Smith (Daniel Craig), o que obriga o escritor a tomar novos rumos em seu romance de não-ficção. Ele parte para entrevistar os assassinos.

Dick é muito mais aberto e falante, o que faz Capote sempre duvidar do que diz, enquanto Perry é mais reservado. Porém, é com esse personagem que o escritor trava uma relação mais forte. Como indica o filme, ele acaba se apaixonando pelo entrevistado, numa relação ao mesmo tempo tensa e terna.

O filme de McGrath ganha ao explorar esse relacionamento entre Capote e Perry. Os dois intérpretes dão densidade emocional aos seus personagens. Craig, o atual James Bond, está com cabelos escuros. Conforme ele mostra, Perry é ciente de seus atos e sabe que irá pagar por isso. Mas, em seu interior, há também um artista aprisionado, e é esse lado que causa uma identificação entre os personagens.

Algumas das palavras de Harper Lee ajudam a elucidar o personagem Capote e até mesmo a sociedade norte-americana. Como ela mesma diz, há sempre a cobrança para o que vem depois. Ela mesma nunca escreveu outro livro depois de seu grande sucesso com 'O Sol é Para Todos'. Nem Truman Capote conseguiu se reerguer depois da execução dos dois assassinos, mesmo com o sucesso de seu livro.