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Filme de Oswaldo Caldeira retrata a criação da Pampulha por Niemeyer

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Agência JB

RIO - Os detalhes da criação da Pampulha, primeira grande obra do jovem arquiteto Oscar Niemeyer e do modernismo brasileiro, são o tema do longa-metragem 'Pampulha ou A Invenção do Mar de Minas', dirigido por Oswaldo Caldeira. Na próxima terça-feira, a produção terá sessão de pré-estréia aberta ao público, com entrada franca, no IAB, dentro programação do 'Ano Centenário de Oscar Niemeyer', completados em 2007. Após a exibição, será realizado debate com o diretor Oswaldo Caldeira; com o cineasta Sergio Sanz; o pesquisador e diretor de Conservação da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro Hernani Hefner; e o arquiteto Marcos Konder.

Filmado em película, 35 mm, e com narração do ator Rodolfo Bottino, o filme reconstitui as minúcias da construção, em Belo Horizonte, anos 40, quando Juscelino Kubitschek apostou no talento de um arquiteto novato que tinha em seu currículo apenas o Grande Hotel de Ouro Preto. Niemeyer teve um dia de prazo para esboçar a idéia, lembra ele, em depoimento ao filme:

- Eu era jovem e aquele pedido, feito de repente, não me intimidou. No dia seguinte entreguei o projeto, o mesmo que acabou sendo construído.

Era o início de uma relação de amizade que rendeu frutos à arte e à paisagem brasileira. Juntos, Juscelino e Niemeyer restabeleceram a ligação entre arquitetura e artes plásticas, cujo ápice se daria na construção de Brasília. Os jardins de Burle Marx, as esculturas de Ceschiatti e o famoso painel de Portinari são alguns dos ornamentos que compõem o conjunto da Pampulha, inaugurado entre o fim de 1942 e o início de 1943 e composto por um Cassino, a Casa do Baile, o Iate Clube e a Igreja São Francisco de Assis, fechada pela Igreja Católica por 17 anos. Palco de eventos que reuniram a elite mineira e também o grande público, o lugar recebeu estrelas da música brasileira e internacional em plena época de ouro do rádio e das grandes orquestras.

Dando continuidade à inventividade do arquiteto francês Le Corbusier na construção do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Capanema, no Rio de Janeiro, Niemeyer fez da Pampulha a primeira obra arquitetônica do modernismo brasileiro. Apaixonado pelas idéias do arquiteto e amigo, Juscelino Kubitschek promoveria, em seguida, em Belo Horizonte, a exposição Arte Moderna, em 1944, que estreitou os laços entre a vanguarda paulista de nomes como Oswald de Andrade e a cena mineira.

Informativo mas também recheado de declarações emocionadas, o filme intercala a narração de Rodolfo Bottino com imagens de arquivo que resgatam, por exemplo, cenas raras filmadas pelo cineasta Humberto Mauro. Há também depoimentos de personagens que viveram a época, como o próprio Niemeyer, o músico José Torres e o engenheiro Marco Paulo Rabelo, e de estudiosos como o escritor Silviano Santiago, o historiador e ex-prefeito de Ouro Preto ngelo Oswaldo de Araújo e o jornalista Frederico Morais.

- A Pampulha foi o início da minha arquitetura e a primeira obra que JK realizou. E foi o início de Brasília. Juscelino vivia o encanto de fazer uma coisa bonita. Lembrava assim um príncipe da Renascença, procurando a beleza, a coisa diferente. Era uma grande figura - resume Niemeyer.

Diretor de filmes de ficção como 'O grande mentecapto', 'Tiradentes' e 'O Bom burguês', Caldeira volta a dirigir um documentário, gênero de diversos de seus filmes como 'Passe livre', 'Muda Brasil' e 'Cantor das multidões'. Apesar de ter abordado temas tão diversos em seus 40 anos de carreira completados em 2007 (ditadura, futebol, História, amor, música, etc), há um ponto de encontro em sua obra.

- Ao longo de meu trabalho focalizei personagens sonhadores, pessoas que perseguiram projetos aparentemente delirantes que acabaram por se concretizar de alguma forma, superando os limites coercitivos do ser humano até aquele momento. Assim foi com Orlando Silva, Afonsinho, Geraldo Viramundo, Tiradentes, Ajuricaba, Bom Burguês, e, recentemente, com meu avô, focalizado em meu livro 'Café Manduca', um homem que saiu da aldeia de Galafura, norte de Portugal, e tornou-se proeminente em Belém e um industrial de destaque em Portugal - analisa Caldeira, nascido em Belo Horizonte.

Mais uma vez o diretor imprime sua marca e estilo:

- O filme focaliza os sonhos de dois homens: JK e Niemeyer. É o momento em que a guerra acaba e está surgindo um novo mundo e um novo Brasil. É uma segunda etapa da revolução modernista no Brasil, o modernismo chegando à arquitetura, com JK almejando construir uma Belo Horizonte mais ampla, inclusive com preocupação social. JK convida os modernistas de 22 do Rio e de São Paulo para visitar Minas e apresentar a arte moderna aos belo-horizontinos. Dá-se o choque, o confronto, o escândalo - analisa o cineasta.

'Pampulha ou A Invenção do Mar de Minas' foi patrocinado por CEMIG e Grupo Beni e finalizado com recursos da Ancine. Apoio cultural: Fundação Oscar Niemeyer, Fundação Universitária José Bonifácio, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Instituto de Arquitetos do Brasil Departamentos Minas Gerais e Rio de Janeiro. O Instituto de Arquitetos do Brasil RJ (IAB) fica na Rua do Pinheiro, 10 Flamengo, Zona Sul do Rio. Outras informações pelos telefones: (21) 2557-4480 e (21) 2557-4192.