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Novo filme do diretor de Hedwig - Rock, Amor e Traição aposta no sexo

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Agência EFE

NOVA YORK - 'Shortbus', o último filme do diretor americano John Cameron Mitchell, é uma aposta baseada no sexo para abordar assuntos como a solidão, a insatisfação e o suicídio. O filme foi considerado por alguns críticos como o longa-metragem de conteúdo sexual mais explícito realizado até hoje fora da indústria pornográfica. Entretanto, para Mitchell, que ganhou notoriedade com o musical sobre mudança de sexo 'Hedwig - Rock, Amor e Traição', se trata de um filme que, "com humor e ironia, diz algo sobre nossa sociedade, onde o sexo está separado de nossas emoções e idéias".

- Gosto de filmes pornô, mas desde que sejam bons. A maior parte dos encontros sexuais são divertidos, desesperados e ridículos, portanto tirei do filme este ar de erotismo para ver o que havia por trás, emocionalmente - disse o cineasta.

Segundo Mitchell, o sexo "não deve ser visto como algo mau", mas como um ato no qual, como uma espécie de espelho, nossos medos se refletem.

- As pessoas têm muito medo de ver sua vida projetada em um filme de forma mais franca. Por isto, procurei retratar pessoas reais. Os personagens não são comuns, mas espero que sejam reais - declarou o cineasta.

'Shortbus' começa com a cena de um jovem, James (Paul Dawson), estendido no chão do seu apartamento em Nova York, se contorcendo, no estilo ioga, e tentando realizar a quase impossível tarefa de ejacular em sua própria boca. Sua relação de cinco anos com Jamie (PJ DeBoy) passa por uma grave crise, o que o leva a propor a idéia de apimentá-la com uma terceira pessoa (Jay Brannan). Também há a história paralela de Sófia (Sook-Yin Lee), uma terapeuta sexual que nunca teve um orgasmo e que, imersa na frustração, recorre aos conselhos de uma dominadora bissexual (Lindsay Beamish).

Todos estes personagens, e outros com histórias tão ou mais complexas - como um ex-prefeito de Nova York que nunca saiu do armário - são vistos em 'Shortbus', um cabaré clandestino de Nova York freqüentado por artistas que procuram diversão e 'sexo coletivo'.

- Prefiro chamar de sexo em grupo, não de orgia. Quando fizemos estas cenas disse aos atores que não ensaiassem, que fizessem o que quisessem. Este filme é o mundo onde vivo e o cabaré se baseia em lugares onde estive - explica Mitchell.

'Shortbus' teve como ponto de partida um anúncio feito por Mitchell na Internet, no qual pedia aos potenciais atores gravações nas quais falassem sobre suas experiências sexuais mais importantes do ponto de vista emocional.

- Recebemos cerca de 500 fitas, das quais escolhemos os nove personagens. Com eles realizamos oficinas, improvisamos e brincamos. Não fiz testes para pênis, mas curiosamente eram maiores do que esperava - brincou.

Todas as cenas sexuais que aparecem no filme são reais, embora Mitchell diga que são exageros ou adaptações das experiências pessoais dos atores, incluídos DeBoy e Dwason, que formam um casal na vida real.

- Os atores aprovaram tudo o que fariam e estabeleceram suas próprias metas emocionais. Tiveram coragem. Alguns quiseram ensaiar as cenas, outros tomaram Viagra. Escutei as necessidades de cada um. Foi muito íntimo. Uma espécie de tratamento em grupo que nos uniu para a vida inteira - declarou.

'Shortbus' tem um quê de realismo que o aproxima ao 'docudrama' e aos reality shows, algo que não incomoda Mitchell.

- Pode ser chocante para algumas pessoas, mas acho que cada vez mais elas se sentem relaxadas ao ver sexo no cinema. A Internet e os reality shows ajudaram - afirmou Mitchell, que planeja viajar com seu filme para países como México, Rússia e Taiwan.