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Ópera inédita como antigamente

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Monique Cardoso, Agência JB

RIO - A montagem de O cientista, que estréia nesta sexta-feira, é daquelas como há mais de um século não se via no Rio. A ópera inédita, composta pelo maestro titular do Teatro Municipal Silvio Barbato, foi produzida como no tempo de Mozart, Rossini ou Verdi: escrita sob encomenda, para um teatro, um coro, solistas e uma orquestra específicos. A música traz referências atuais, mas segue à risca o formato operístico tradicional italiano, em parte culpa do DNA do compositor, um carioca com origens sicilianas e napolitanas. O tema, a vida de Oswaldo Cruz, remonta o Rio do início do século 20.

Tudo foi pensado para o Teatro Municipal. É um resgate que nos leva a refletir sobre como realmente se deve fazer uma ópera observa Barbato.

O respeito ao formalismo não impediu que o maestro convidasse Bernardo Vilhena poeta e letrista que tem no currículo hits como Menina veneno e Vida bandida para criar o libreto. Nem que escalasse os músicos Léo Gandelman e Kiko Horta, acordeonista do Cordel do Fogo Encantado, para participações na orquestra.

A obra tem todos os elementos que formam um grande encontro musical. Minha geração é completamente influenciada pelo pop, não há como fugir justifica.

Com trânsito livre entre o clássico e o popular, passando pelo jazz, o sax barítono de Gandelman dará o tom exato para momentos de puro abstracionismo do pensamento de Oswaldo Cruz, no primeiro ato. O solo abre terreno para uma citação à música urbana do Rio surgida na mesma época.

Não só o libreto, escrito à partir de pesquisa feita por Vilhena em mais de 600 cartas da correspondência do sanitarista, mas também a música traça um retrato claro das décadas de 10 e 20 e das angústias pessoais e profissionais do cientista. Um madrigal de oito vozes, por exemplo, foi incluído para retratar a confusão do debate no senado, quando estava em jogo a demissão do sanitarista, que solicitava a imunização obrigatória da população, que culminou no episódio conhecido como a Revolta da vacina. A comparação com a política atual não é mera conscidência.

O madrigal serve para reproduzir uma idéia musical. Os políticos sempre têm um discurso que confunde o povo alfineta. Numa votação majoritária, nossas vozes individuais não são caladas? Não há como suprimir o lado ideológico na música.

O brilho da partitura, no entanto, está na melodia. Característica imbatível da música brasileira, de acordo com Barbato, fã de Tom Jobim:

A gente teima em achar que somos os melhores na percussão. Isso não é verdade.

O aspecto mais contemporâneo de O cientista é, sem dúvida, a cenografia, completamente virtual. Projetados pelo bamba Marcelo Dantas, os cenários, apesar de cibernéticos, seguem os mesmos princípios dos áureos tempos da ópera italiana. Antigamente os ambientes eram pintados em tecido numa perspectiva perfeita. Hoje, esse efeito é reinventado no computador.

Estamos acostumados a montagens de um repertório operístico já conhecido. Neste caso, criamos tudo simultaneamente e em sintonia: música, direção, figurino descreve.

A opção de narrar a atuação do sanitarista uniu a facilidade de patrocínio o custo de montagem fechado em R$ 600 mil foi dividido entre Faperj e Fundação Oswaldo Cruz aliado à escolha de um nome com forte atuação na cidade. O cientita fica em cartaz até dia 17 e terá duas récitas a R$ 1. O Teatro Municipal já está negociando exportar a produção para Portugal para palco já definido: o Teatro Nacional Maria I, em Lisboa.

Serviço: O cientista

Dia 8 às 20 horas Preços Usuais

Dia 10 às 11 horas Domingo no Municipal

Dia 13 às 20 horas Preços Populares

Dia 15 às 20 horas Preços Usuais

Dia 17 às 11 horas Domingo no Municipal

Preços Usuais: Frisa/Camarote R$180,00. Platéia/balcão Nobre R$ 30,00. Balcão Simples- R$20,00. Galeria- R$ 10,00. Domingo no Municipal: R$ 1,00.

Preços populares: Frisa/Camarote R$ 60,00. Platéia/Balcão Nobre R$ 10,00. Balcão Simples R$ 7,00. Galeria R$ 5,00.