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Festivais de Veneza e de Toronto relembram legado de John Carpenter

Divulgação -
Empregada ameríndia guia a narrativa de "ROMA",de Alfonso Cuarón
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Criaturas de um mundo sinistro, resgatadas do baú cinéfilo da década de 1990, vão invadir o 75º Festival de Veneza, hoje, às vésperas de seu encerramento, como um tributo a um dos maiores artesões do horror nas telas, John Carpenter, em comemoração de seus 70 anos. Uma cópia restaurada de “Eles vivem” (“They live”, 1992) será projetada no Lido, em honra do cultuado cineasta, que, atualmente, mais faz músicas do que escreve roteiros.

Amanhã, bem longe da Itália, no Canadá, o TIFF – Toronto International Film Festival sedia a première mundial de um projeto que faz os carpenterianos salivarem: o novo “Halloween”.

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Nele, o diretor David Gordon Green traz Jamie Lee Curtis de volta à personagem que Carpenter deu à ela em 1978. É um duplo reconhecimento ao legado de um mestre do assombro, que já não filma mais, por falta de financiamento.

Seu último longa-metragem, “Aterrorizada”, é de 2010.

O que ele faz hoje é compor e lançar discos com suas trilhas sonoras e melodias não aproveitadas em filmes, caso do CD “Lost themes” e a trilha do longa de Gordon Green, que entra em cartaz em outubro nos EUA, de carona no Dia das Bruxas. E espera-se que vá ser um dos fenômenos populares do ano em venda de ingressos.

Macaque in the trees
O cineasta John Carpenter é reverenciado em festivais pelos seus 70 anos (Foto: Divulgação)

“O cinema de horror é político, crítico por natureza, o que exige de seus realizadores a necessidade de se trabalhar de forma independente da vontade dos estúdios”, disse Carpenter, em entrevista à Associação de Críticos do Rio de Janeiro para a feitura do livro “O medo é só começo”, onde faz um balanço de sua carreira. “Filmes como ‘A noite dos mortos-vivos’ só foram possíveis, com toda a excelência que carregam, por terem sido gestados de forma livre. De modo geral, as pessoas têm medo das mesmas coisas: morrer, sofrer... Com a consciência do medo, eu posso trabalhar de modo mais frio, até porque eu fui parar no terror para poder sobreviver, mas queria mesmo era fazer faroeste. No terror, encontrei um espaço para criar”.

Com a fama de ter um temperamento indigesto para o padrão das grandes corporações de Hollywood, Carpenter acabou perdendo espaço como diretor depois do fracasso comercial de “Fantasmas de Marte”, em 2001. Seu último sucesso de bilheteria, “Vampiro$”, já contabiliza 20 anos. Porém, seus longas de juventude como “O enigma do outro mundo” (1982) e “Assalto à 13ª DP” (1976) são citados como referência por realizadores do mundo todo, de Quentin Tarantino a Kleber Mendonça Filho.

Há uns três anos, versões em quadrinhos de dois de seus maiores êxitos de público. “Os aventureiros do bairro proibido” (1986) e “Fuga de Nova York” (1981) se tornaram best-seller nos Estados Unidos, desafiando a hegemonia dos heróis da DC e da Marvel na venda de HQs. E toda hora surge um novo remake de seus clássicos.

“Estou velho, cansado de trabalhar, mais interessado em me distrair e em receber os cheques gordos que me pagam para refazer minhas ideias do passado”, disse ele em entrevista ao “The New York Times” no início do ano, antes de ser convidado pelo Festival de Veneza. “Não é mau envelhecer com as pessoas te pagando para usar o seu nome em versões requentadas de filmes que me deram muito trabalho no passado”.

Macaque in the trees
Empregada ameríndia guia a narrativa de "ROMA",de Alfonso Cuarón (Foto: Divulgação)

Diante de todo o prestígio do realizador de “Eles vivem”, acaba de sair no Brasil uma caixa de DVDs com o melhor de sua obra. O box reúne os longas “Dark star” (1974), “Alguém me vigia” (1978); e “Trilogia do terror” (1993), além do já citado “Assalto à 13ª DP”.

Hoje, em Veneza, será exibido o último dos concorrentes ao Leão de Ouro: o filme de samurai “Killing”, de Shinya Tsukamoto, do Japão. Já da China, vem a aventura “Shadow”, de Zhang Yimou, que receberá um troféu honorário pelo conjunto de sua carreira. Ainda da Ásia, o taiwanês Tsai Ming-Liang (de “O buraco”) ganhará mais uma sessão para seu elogiado “Your face”, um ensaio documental sobre rostos e solidões.

A cerimônia de entrega de prêmios do festival veneziano será realizada neste sábado, em paralelo à projeção do filme de encerramento, o thriller “Driven”, de Nick Hamm, com o comediante Jason Sudeikis (de “A família do bagulho”), fora da comédia, numa trama sobre a ascensão do tráfico nos EUA. Entre os concorrentes, o favoritismo segue com “ROMA”, do mexicano Alfonso Cuarón, um drama em preto e branco sobre uma família de classe média dos anos 1970, cujos conflitos são vistos sob a ótica de uma empregada ameríndia.

Também do México, “Nuestro tiempo”, de Carlos Reygadas, é um dos longas mais bem avaliados pela crítica, ao narrar a crise de um casal, interpretado pelo próprio cineasta e sua mulher na vida real. Estima-se que sobrará um ou outro troféu para o faroeste “The Sisters Brothers”, do francês Jacques Audiard (para o ator John C. Reilly); o terror “Suspiria”, do italiano Luca Guadagnino (para a atriz Tilda Swinton); o drama “Sunset”, do húngaro László Nemes (cotadíssimo para o Leão de Prata Especial do Júri); o (anti)épico “Peterloo”, do inglês Mike Leigh (talvez uma láurea de direção); e o thriller “Never look away”, do alemão Florian Heckel von Donnersmarck (favorito na categoria de melhor roteiro).

Dada a leva de elogios à comédia de tons políticos “Domingo”, de Clara Linhart e Fellipe Barbosa (na seção Venice Days), e ao drama “Deslembro”, de Flavia Castro (projetado na mostra Horizontes), o Brasil pode sair duplamente premiado de Veneza. Fora de concurso, o documentário carioca “Humberto Mauro”, sobre o pioneiro do cinema de Minas Gerais, teve calorosa acolhida entre os espectadores estrangeiros.

* Roteirista e crítico de cinema

Divulgação - O cineasta John Carpenter é reverenciado em festivais pelos seus 70 anos
Divulgação - Cópia restaurada de "Eles vivem" (1992) será projetada em Veneza