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A farra da elite parasita e a punição da população pobre e estigmatizada

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Não poderia ser outro o assunto deste artigo, nesta coluna em especial e ainda neste veículo que mantém colunistas oriundos de três favelas da cidade do Rio de Janeiro, que não por acaso concentra o maior contingente de pessoas vivendo nelas, e cidade que recebeu o maior contingente (desculpem a repetição) de pessoas sequestradas em diversos países do continente africano e escravizadas aqui. 

Esse contexto histórico não superado pela sociedade brasileira, ou melhor, pela elite brasileira e amargado diariamente pelos negros, negras , produz ambientes cada vez mais hostis e mecanismos mais ferozes e vorazes na produção da opressão dessa população, em sua maioria descendentes destas pessoas trazidas violentamente da África. 

O racismo estrutural e estruturante das relações aqui cria o ambiente perfeito para as piores atrocidades e os mais mordazes silêncios. Não à toa e por acaso, Instituto Maria da Penha da Bahia alega que o racismo é a causa do alto índice de desemprego das mulheres negras que sofrem violência doméstica, que chegam a ficar cerca de 18 dias por ano sem comparecer ao trabalho. 

Todos esses exemplos poderiam vir acompanhados de tantos outros tão aberrantes quanto, mas a questão é que todo esse "caldo" serve de elemento para a construção de uma tenebrosa ação como a que vimos na Rocinha.

É indecente, desumano, vil e, mais ainda, atesta a total falta de compromisso republicano com uma população que mantém esta sociedade com sua força de trabalho. É radicalizar descaradamente todo o desejo reprimido de apagar este lugar de fato. e não só nos mapas entregues aos turistas. 

Algumas análises davam conta de que para dar conta da força bélica do grupo civil armado da Rocinha, só as Forças Armadas. Fica a pergunta: em caso de alguma reação do tal grupo civil armado, sem levar em conta uma população no meio, como o especialista/ intelectual/ entusiasta das Forças Armadas revidaria?

Ao revidarem, os resultados da ação seriam considerados o quê?

Qual aparato vem impedindo que, por exemplo, contêineres com armas passem inclusive por "sistemas" de proteção?

O que segue em curso é indiscriminadamente a punição de uma população pobre, estigmatizada e altamente vulnerabilizada pelas políticas precárias e descontinuadas, e por outro lado, se assiste à farra da elite parasita do estado brasileiro e ocupante dos lugares de poder, exercendo a força da caneta contra os pobres e a trocando de favores entre si. Esfregam na nossa cara a sua sordidez, barganham com dinheiro e cargos públicos, ou seja, de todos e todas. 

Se assenhoram da liberdade, da vida e da morte da massa pobre que lhes causa asco. Como Roboões da narrativa bíblica, aumentam as dores e os sofrimentos do povo. 

Finalizo com o depoimento de um morador:

"No sexto dia de conflito na Rocinha, o desdobramento da ação do Estado não é nada animador. São mais de três mil alunos sem aulas; crianças sem creches. Trabalhadores, indo e vindo do trabalho a pé, pois os transportes deixaram de circular na Favela. Postos de saúde fechados, moradores enclausurados. Comércio, bares e bancos de portas cerradas. Milhares de cápsulas no chão. Já pensou se fossem convertidas em giz? Afinal, a quem interessa a famigerada guerra às drogas? Por que a recusa do Estado em debater a descriminalização das drogas? Quanto lucra a indústria bélica com as vendas de armas? Por fim, os moradores da Rocinha exigem respeito à vida e repudia um Estado a serviço da indústria bélica e encarceramento em massa."

*Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel