Em meio à tentativas artificiais de apagamento da favela no cenário da cidade do Rio de Janeiro, como se fosse possível apagar a contribuição e a potência que vem deste espaço, a editora Eduff lança livro que rememora lutas antigas e faz um diálogo com novas formas de resistência e articulação na luta por direitos
Diversos movimentos sociais, como a mobilização iniciada pelos moradores da Vila Autódromo frente ao projeto olímpico instalado na cidade do Rio de Janeiro, vêm questionando o uso do espaço urbano. Aspectos desse tipo de mobilização, por parte dos chamados favelados, foram retratados pelo historiador Marco Pestana no livro "A União dos Trabalhadores Favelados e a luta contra o controle negociado das favelas cariocas (1954-1964)", (2016, 297 págs) recém-lançado pela Eduff.
A União dos Trabalhadores Favelados (UTF) foi uma organização que reuniu diversas favelas em torno de pautas comuns. Movidos inicialmente pela luta contra a especulação imobiliária, com o tempo, os integrantes do movimento passaram a se unir em prol de questões de caráter revolucionário, como a reforma agrária. "Tudo começou com uma ameaça de despejo no Borel. A partir desse processo, os próprios moradores começaram a associar os problemas urbanos, como a favelização, com a questão da reforma agrária", afirma Pestana.
Com destaque para a profunda revisão bibliográfica e uma pesquisa documental minuciosa, Pestana se destaca na área de História pela maneira pela qual relaciona os eventos do passado e do presente. De acordo com o autor, seu interesse pelo tema nasceu a partir de um estágio no Arquivo do Estado do Rio de Janeiro, onde teve contato com documentos da polícia política atuante naquela época estudada.
No livro, o autor traz à tona as diferentes formas de mobilização e agitação políticas nas favelas do Rio de Janeiro, entre o fim da Era Vargas, em 1945, até o início da ditadura militar, em 1964. No período, conhecido como "República Populista", diferentes forças políticas dominaram as favelas a partir de um "controle negociado" dos locais e de seus habitantes, como conta Marco Pestana. “Eu me interessei pelo período, primeiramente, pela proximidade com 1964, ano do golpe militar, e pelos anos JK, que geralmente é comparado com o 'lulismo', em termos de desenvolvimento econômico e social", diz.
Em "A União dos Trabalhadores Favelados", os favelados não são apenas abordados como vítimas e sim como cidadãos ativos do processo. O livro de Pestana apresenta outra característica intrigante: as mobilizações, diferente do imaginado, visavam à permanência dessas pessoas em seus locais de moradia.
Sobre o autor
Marco Pestana é pesquisador, historiador e professor. Doutorando em História Social, ele atua na área de história do Brasil contemporâneo, desenvolvendo pesquisas acerca de conflitos urbanos. Pestana também é professor do Colégio de Aplicação do Instituto Nacional de Educação de Surdos.
Ficha técnica:
A União dos Trabalhadores Favelados e a luta contra o controle negociado das favelas cariocas (1954-1964)
Autor: Marco Marques Pestana
Páginas: 297
ISBN: 978-85-228-1177-9
Eduff
Ano de publicação: 2016
Edição: 1ª
Preço: R$ 59,00
* Colunista, Consultora na Ong Asplande, Pesquisadora e Membro da Rede de Instituições do Borel