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Joesley Batista: “Eu sou ladrão e vacilão”

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A carne no Brasil sempre foi lembrada, mas em ocasiões de comemorações, como o típico churrasco brasileiro. Nos últimos meses, essa carne cheira mal, como aquela carne apodrecida depois de alguns dias sem refrigeração. Já não é só a carne que está apodrecida, mas sim todos que dela participaram e se beneficiaram. Esse cheiro podre não deixou e não deixa o país seguir em frente, e estraga cada dia mais a vida dos brasileiros. 

Hoje, vemos o rombo causado pela corrupção da JBS, onde o empresário acusa o presidente que, por sua vez, nega as acusações. Nesse impasse, onde ambos são acusados de corrupção, o país para os trabalhadores e desempregados segue sem esperança e com a sensação de impunidade. Enquanto um delata e curte Nova York, o outro continua em seu cargo, tentando se defender. 

Já um adolescente pobre, com problemas psiquiátricos, foi espancado e teve sua testa tatuada com a frase “Eu sou ladrão e vacilão”, por ser acusado de tentar roubar uma bicicleta. No Brasil, assim como ele, pequenos infratores não são perdoados, são linchados, amarrados em postes, mortos, presos e castigados. 

Por outro lado, os grandes responsáveis pela crise que vivemos, empresários e políticos corruptos, os verdadeiros ladrões que saquearam e saqueiam o Brasil, que deixaram o povo desempregado, sem comida na mesa, sem escola, sem hospital, continuam livres, se defendendo com desculpas medíocres ou fazendo delações para se livrar. 

Joesley e os envolvidos nesse esquema não mereciam tatuagens dessas em suas testas? Não haveria espaço para as denúncias, mas esse risco eles não correm, pois, diferentemente do adolescente, eles são homens ricos, brancos, bem-sucedidos e com excelentes advogados, capazes de driblar a Constituição para se livrarem da prisão. Homens constituídos por uma carne podre que fede cada vez mais, muito diferente da carne de um jovem que tem seus direitos roubados desde o seu nascimento.

Não sei se um dia o churrasco voltará a ser de comemoração, mas hoje a carne está apodrecida e o Brasil segue de luto, esperando por dias melhores. O cheiro ruim tem que acabar. 

* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestre em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade